Leila Magh Moreira
APARENTEMENTE
O ser humano se tornou tão civilizado que tudo que possa parecer rude, hostil, jogamos para nosso interior, não podemos falar, se quer pensar em coisas que desagradem, escondemos tudo.
Nos vestimos para agradar, usamos vestimentas com costuras, bolsos e etiquetas que machucam nosso corpo.
Nossas vidas seriam melhores se as vestíssemos pelo "avesso".
TÊTE-À-TÊTE
Toda a moral humana, espezinhada no chão de uma loja, numa "Black Friday", muitos se "digladiam" nas inaugurações dos grandes shopping centers pelo mundo, compram de tudo, objetos que, talvez acabem em um lixão, ou aterro sanitário. Nunca vi nenhuma pessoa adquirir sua própria urna funerária, item, que, se tudo ocorrer “bem”, certamente todos necessitarão.
Como é difícil encarar as certezas da vida.
ENTÃO...
Viver é para poucos, é abundante, prazeroso, irresponsável; morrer é libertador, suave, para todos.
Be right back
E se tudo estivesse resumido ao que muitos povos acreditam, que uns terão uma vida eterna de prazeres no céu e, outros, de penúria no inferno?
Todos que conheço dizem que vão para o céu. Já fiz a minha escolha, quero o inferno, não serei suicida em outra existência.
RAPARIGA COM BRINCO DE PÉROLA
Me destes tudo,
um corpo que divido com vírus e bactérias,
um sol que sempre me aquecerá,
uma terra que dá tudo, mas que nada devo plantar,
pois, nada posso colher.
Mãos hábeis que não posso usá-las.
De tudo que me destes, talvez, a visão foi o sentido mais inútil,
Com meus olhos, vejo-a como uma obra de arte, perfeita, num pedestal, digna apenas da minha mais taciturna admiração,
como A Vênus Milo, fêmea sem braços,
Intocável tu és.
Austero é meu desejo, cálido, puro e ingênuo,
mas não pode ir além de um frenesi que me aquece o cérebro,
pensamentos puros, mas reprováveis, tomam conta do meu âmago.
És terra de fronteira, lâmina desembainhada, és rosa amarela,
Amante desprezada, “Rapariga com Brinco de Pérola”, és proibida.
(Leila Magh Moreira, setembro de 2018)
O MAL É OPCIONAL
O mal recebido pode despertar um sentimento de vingança, esse, nem corrigirá a prática danosa, nem trará paz.
Então, que a ofensa recebida sirva-nos para o exercício do perdão e, nos manter livres de praticar o mal.
No "coração" das entidades públicas, a discriminação, é um ato camuflado de bondade, justiça, caridade, solidariedade, gentileza, fraternidade e amor.
O mês é abril de 2024 do ano do nosso Senhor.
O oriente médio ferve; toda a guerra é mesquinha, cruel, covarde, injusta, aterrorizante, injustificável...
Mas, movidos pela loucura do “cavaleiro do cavalo vermelho”, brasileiros indagam por quem você vai torcer nessa guerra, é a pior das barbáries.
Liberdade
O homem é livre quando não tem mais escolhas a fazer,
Ter liberdade não é apenas ter o direito de escolher.
Escravidão não está apenas ligada a castigo ou prisão, mas ao ato de obedecer.
Ser livre é negar a liberdade, escravidão é tê-la e dela não poder se desfazer.
Teu enfermo é meu, mas não tua enfermidade, vaidade e arrogância são flagelos que vos consome a alma.
Crianças cegam-nos
Falar que crianças cegam-nos é, responsabilizá-las, enquanto deveríamos simplesmente protegê-las.
Me surpreenda!
Me surpreenda! Não me toque com o carinho de uma criança, não gosto da pureza, ela me entorpece, o faça para revelar minhas falhas entalhadas há tanto tempo, rasgue nas frestas do meu velho corpo de madeira entalhado com um formão sem fio e empunhado por um artesão louco e inexperiente, exponha ás minhas mais profundas cicatrizes.
Me surpreenda! limpe minhas feridas com o olhar de uma enfermeira que, não sente a minha dor, cheira minha carne fétida com a indiferença de um Leão à uma maçã.
Me surpreenda! Jogue-me às feras, observe meus ossos sendo quebrados com prazer, me remonte, faça de mim um boneco, não um fantoche, um Pinóquio, boneco mentiroso.
Me surpreenda! Não seja fêmea, seja mulher decidida, estampada na primeira medalha, conte cantando como venceu.
Me surpreenda, leve com você meu crânio, grande vazio, não mais habitado, frio, sem crenças ou esperanças de viver novamente, morto por um mundo doente.
De boa vontade, te deixo meu espírito, com todos os bons sentimentos, com o perdão para o artesão, com o amor por uma enfermeira, com a bravura do Leão, de Pinóquio, deixo a dúvida, daqui não levo nenhuma frustração.
Me surpreendra, me abrace!