Isabele Meneses
Eu finalmente pode ficar a sós com o jovem de olhos iluminados naquela noite estrelada. Estava tensa naquele momento, pois não sabia o que poderia acontecer; se ele só ficaria ali, se observaria-me, se eu iria embora logo, se alguém viria ou se conversariamos de repente. Mas de algo eu tinha certeza: aquilo era uma oportunidade de eu dar o primeiro passo, o primeiro passo que nunca em minha vida dei. Mesmo com isso em mente, permaneci receosa e tímida. Fingi não me importar com a presença dele, sendo que estar lá era o que eu mais almejava. Notei que me olhava sempre que estava "distraída". Me olhava com aqueles olhos verdes iguais os meus, abertos, grandes e cintilantes. Porém, o que me cativava não eram os olhos, era o olhar. Aquele olhar era diferente: nada doce, nada ameno; era atento, forte e intenso. Parecia poder ver além de mim. Contudo, permaneci quieta e nervosa. Podia sentir a presença e perceber a cabeça, de vez em quando, virando levemente em minha direção. Para onde mirava? Era realmente para meu sentido? Contemplava-me? Logo, esses pensamentos despontaram a passar pela minha cabeça, fazendo-me questionar se aquilo era verdade ou fruto da minha ilusão. Por conseguinte, era aparentemente impossível aquele fitar ser para mim; mas para ele seria impossível não ser? Entretanto, continuei pensativa e silenciosa, na espera de que algo pudesse acontecer. E aconteceu. Ele levantou-se e foi embora, sem olá ou adeus, e eu persisti calada e perdedora.
