Hilda Gomes Dutra Magalhães

76 - 83 do total de 83 pensamentos de Hilda Gomes Dutra Magalhães

Para o mundo, não acabamos quando morremos, mas quando morre o último dos seres humanos que fizeram parte de nossa vida, levando com eles as derradeiras ressonâncias de nossa existência. Minha tetravó índia, o seu mundo, as pessoas com quem conviveu, os conflitos, os erros e os acertos, tudo: palavras, nomes, grandes atos, mesquinharias, dúvidas, certezas, gargalhadas, o que era importante e o que não era: tudo foi engolido pelo tempo. Resta-nos um enorme espaço amarelado, onde o passado se confunde com a eternidade e o Nada, e de onde surgem, como que por encanto, nossos bisavós, seres meio míticos, meio inteligíveis, representantes de um tempo que não vivemos".
(Corina, 2007)

Inserida por hildadutra

Cada um de nós somos fotos invisíveis de outros tempos, de outras vidas, de outras culturas, que se vão desenhando no nosso presente, atualizando jeitos, faces e vozes." (Corina, 2007)

Inserida por hildadutra

E a brisa que nos afaga o rosto e os cabelos é a mão do futuro, com jeito de presente, empurrando-nos gentilmente para o vazio do tempo, pelo qual, um dia, seremos engolidos, nós e todos os que nos conhecem, dando passagem a um novo mundo que, surgido de nós, será, um dia, também engolido. É a lei da reescrita, na dança do tempo, no véu do vento, no tecido da vida."

Inserida por hildadutra

Ali, absorvida no viverbrincar, as meninas fazem parte de um outro universo, quase posso senti-lo. A impressão que tenho é que, se estender a mão, toco na finíssima bolha que forma esse mundo só delas. Olho-as novamente e, no meio da tarde, aquelas meninas como que parecem mágicas, ancestrais. São todas alices em seu país de maravilhas. Ali, brincando, o tempo não existe para elas." (Corina, 2007)

Inserida por hildadutra

Volto de uma longa viagem pelas ondas da memória, pelas vagas do tempo. Uma longa viagem, através da qual conheci um pouco mais de mim e dos que me rodeiam. Vi ruínas, aprendi rastros, pontos e estrelas. Jamais viajei sozinha: sempre encontrei heróis e heroínas, aparentemente mumificados, protegidos por ventos de areia. Meu livro é meu souvenir e quero que Corina seja a primeira a lê-lo." (Corina, 2007)

Inserida por hildadutra

O corredor que me leva do portão até a área dos fundos da casa, onde está minha avó, nunca me pareceu tão longo. A casa, com a pintura ainda intacta, parece falar por si mesma, vencendo minha ansiedade pela sua força, pela dimensão de suas paredes, pela altura de seus telhados novos. Mas eu sei que, um dia, estas paredes estarão velhas e descascadas, como também se escurecerão suas telhas cor de terra. Entrarei por seus cômodos e verei que eles próprios parecerão cansados, sem elegância nenhuma. Sentirei saudades de minha avó e dos dias que se foram. Estarei velha e me sentarei, desta vez sozinha, para me lembrar de Corina e das conversas que tivemos." (Corina, 2007)

Inserida por hildadutra

O filósofo especula o sentido da vida, o psicólogo compreende o funcionamento da psique humana, o historiador desvenda as razões e desrazões da História, o ator os representa na palco, mas o escritor é o único capaz de apreender a alma humana e registrá-la de forma estética no papel." (Corina, 2007)

Só pode compreender o escritor quem conhece a linguagem da brisa, a textura dos senões e a (im)permeabilidade das palavras. Por isso o escritor ouve muito mais do que fala. E, ao ouvir, e sobretudo ao olhar, ele capta a alma, a essência das pessoas. Percebe o que talvez nem elas próprias saibam: descobre, quantas vezes mesmo sem querer, suas máscaras: entrevê suas hipocrisias, sente seus segredos, perscruta suas misérias." (Corina, 2007)

Inserida por hildadutra