Cristina Rivera Garza
Sempre acreditei na liberdade, porque só em liberdade podemos saber do que somos feitos. A liberdade não é o problema. O problema são os homens.
É possível ser feliz quando se vive de luto? A questão, que não é nova, surge repetidamente durante aquela eternidade que é o desalento.
Poucas atividades exigem mais energia, tanta atenção aos menores detalhes, quanto odiar a si mesmo. É uma tarefa milimétrica. Cansativa. De entrega total.
A falta de linguagem é avassaladora. A falta de linguagem nos algema, nos sufoca, nos estrangula, nos atinge, nos esfola, nos isola, nos condena.
Viver em luto é isto: nunca estar sozinho. Invisível, mas evidente de muitas maneiras, a presença dos mortos nos acompanha nos minúsculos interstícios dos dias.
Somos elas no passado e somos elas no futuro e somos outras ao mesmo tempo. Somos outras e somos as mesmas de sempre. Mulheres em busca de justiça. Mulheres exaustas e juntas. Fartas, mas com a paciência que só os séculos marcam. Enfurecidas até o limite.