Clobson Fernandes
Bebendo em outros copos,
E comendo em outros corpos,
Esvaem-se meus dias.
Somente em sonhos loucos e perdidos,
Recupero aos poucos as minhas poucas alegrias.
Escuro.
Não se pode ver,
Pequenas luzes não me servem mais.
Não enxergo nada,
Onde está você?
Saída, procuro, pequena porta
Estreita e distante,
Da vida bela, mas torta
Sem amor,
Apenas amante.
Fui quase belo,
Outro dia era desejo,
Parei antes do fim, não me encontro
Em nada que quero,
Já não te vejo.
Não sei dizer. Dói.
Não consigo morrer,
É mais profundo, não passa.
O que é viver?
Já se foi a graça.
Por umas tardes ainda fui feliz,
Dancei e ri, não morri e nem sangrei.
No balançar desses quadris,
Mesmo sem alma,
Ainda me encontrei.
Era samba, ou popular.
Era quimera nas coxas dessa menina,
E eu pasmo, sem passado,
Sem escárnio nem pecado,
Só não sei dançar.
Queria de novo poder sorrir
Mas se foi o que penso, sem estrada,
Não senti minha própria partida,
Acabou a música, nem percebi…
Não há mais dança, só o mesmo resto do nada.
E assim se calam meus sonhos,
Em outros braços ainda sinto calor.
Não se faz o que proponho,
Não se encontra mais o amor.
Reencarno todo dia, e a ferida não fecha,
Pois dos exageros da vida,
Nada mais me resta.
Fecham-se as portas.
Não sei
Vou fazer da minha métrica uma métrica de verdade,
Vou estudar a sua vida em detalhes
Pois não sei se gosto da minha, da minha saudade,
Não sei se suporto tantos males.
Vou xingar a minha querida
E contrariar meus ideais,
Pois não sei se gosto da vida
Não sei se gosto mais.
Quero ser igual a você
Quero deixar saudade,
Preciso entender,
Preciso amar de verdade.
Quero sorrir com o dia
Enganar a tristeza com a escuridão da noite,
Pois já não sei da alegria,
Não sei se me gosta, ou se me dá açoites.
Não sei mais de flores e nem de risos,
Não sei se já sou capaz
Se apenas não consigo,
Deixar de lado o que ficou para trás,
Já não sei do que preciso.
Só tenho dores, amores,
Cheiros e saudades,
Tenho uma mentira que inventei
Não acho mais a nossa verdade.
Não sei se gosto da vida
De sonhos e bombons,
De doces que amarram bocas,
De dores que fazem a vida tão louca,
Do que chamam apenas de bom.
Não sei se gosto, vida,
Não sei onde é a frente,
O que ficou para trás,
Apenas não sei se gosto da vida...
Não sei mais.
Palavras
Enquanto eu grito e corro
Faço preces, exoro e morro,
Teu silêncio dilacera meus planos,
Me faz pedir socorro.
Tuas palavras saciam uma sede qualquer
Que sempre há em mim,
A sede de querer essa mulher
De te querer assim.
Tal vaga sem direção
Eu no mar aberto do desespero a procurar,
Tentando encontrar tua voz, minha razão,
Tuas palavras a me guiar.
Sozinho me perco, tu sabes que sempre fui assim,
Sozinho nada sou, em nada paro.
Não estou em você, em mim,
Sozinho apenas morro.
Sou um desajeitado que nunca parece ser,
Sou um pobre coitado falso
Angustiado por não ouvir, por não saber,
Sou um louco sóbrio, que quer ouvir você.
Me deixe a mágoa, a incerteza, a solidão,
Mas não me deixe o teu silêncio de presente,
Pois ele me fere a alma, me arranca a ilusão
Faz-me sentir menos contente.
Teu silêncio me dilacera...
Teu corpo me fala até que eu entenda,
Tua alma me diz doces, porém efêmeras palavras,
Somente tua boca me consola,
Somente tua fala me acalma.
Fale-me, negue-me, suje o meu nome,
Blasfeme contra mim, ria de mim, chore por mim,
Faça tudo o que qualquer pessoa faz,
Mas não deixe o silêncio por trás,
Não cala-se assim.
Teu silêncio me dilacera...
Fale.
Clobson, outubro de 2.001.
