Carlos Gomes
Oração Lunar
Lua,ilumina-me nesta escuridão
Me livre da dor,me faça ser
mais forte do que o céu,quele que te suporta.
Mais luminoso que o sol.
Faz de mim o aprendiz
da sabedoria,e faz-me ganhar
a garra necessária para que com
o seu poder fazer o que quiser.
Ser aquele que com os dois lados
opta mais pelo bem,mais que não anula
o mal,que faz a sua parte mais forte como filosofia
da vida.
nen mesmo a distância do nosso amor pode me separar o que eu sinto por você, a distancia do amor e que mora no meu coração...
O Tempo que Escuta
No campo vasto da existência, onde o tempo tece e desfaz ilusões, muitos se perdem na busca incessante por um sentido.
Eu, aqui, deixo meu pensamento. Trago no peito a quietude dos campos e o burburinho da cidade, transformando o invisível em verso, o silêncio em sabedoria e a solidão em ponte para o reencontro da alma consigo mesma.
Minha escrita é para quem sente, para quem pensa, para quem ousa viver cada instante com a intensidade de um raio e a delicadeza de uma flor.
Às vezes, me pego em silêncio — não por falta do que dizer, mas por não saber se o mundo ainda sabe ouvir.
Colecionamos tanto barulho, tanta urgência vazia, que a melodia da alma vira um sussurro perdido na ventania.
Carrego em mim uma pressa calma — daquelas que não se apavoram com o relógio, mas se inquietam com o tempo desperdiçado.
Tenho vontade de fazer muito, sim, mas sem perder a alma no caminho. Essa alma que se enrosca em atalhos e se perde nas veredas sem estrela.
Já não busco respostas rápidas — dessas que vêm prontas e se desfazem ao primeiro vento.
Busco verdades lentas, aquelas que só o tempo revela. Como o gosto de um bom vinho que espera pacientemente a taça certa.
Como a brasa que vira cinza com dignidade, sem pressa de apagar — apenas aceitando o destino de virar pó e adubo para o novo.
Nem sempre estou onde meu corpo está.
Minha alma — essa andeja incansável — às vezes vagueia no passado, catando memórias como quem colhe conchas na praia da infância.
Outras vezes, conversa com o futuro, tecendo esperanças e desenhando pontes para um amanhã que nem existe ainda.
Mas quando estou presente... ah, quando estou — sou inteiro. Ali, a vida me abraça, e eu a recebo com a sede de quem encontra um poço após longa caminhada.
E sobre a morte? Ah, a morte...
Essa velha amiga que nos observa desde o primeiro suspiro. Muitos a temem, a evitam, como se fosse o fim.
Quando talvez seja apenas um novo começo.
Que ela venha, sim. Mas que me encontre em plena dança — com os pés na terra, os olhos no céu e o coração transbordando de vida.
Que me encontre vivo — não apenas respirando, mas sentindo cada batida, cada riso, cada lágrima, cada instante que se fez eternidade na alma.
Porque, no fundo, a grande arte não é evitar a morte, mas aprender a viver enquanto ela não vem.
E viver, para mim, é estar inteiro no que sinto, no que penso, no que sou.
Quando a Alma Desacelera
Há fases da vida em que o ruído do mundo começa a perder importância, e o que antes era urgente simplesmente deixa de chamar. A alma pede silêncio, e o coração passa a escutar com mais atenção o que antes era abafado pela correria. As vozes externas diminuem de volume, e o que sobra é o eco das escolhas que realmente importam.
Já não há tanta sede de provar nada para ninguém. O olhar fica mais seletivo, as palavras mais pensadas, e os afetos mais escassos — não por frieza, mas por lucidez. Não se trata de isolamento, mas de discernimento. Entende-se que nem todo vínculo é raiz, nem toda presença é companhia. Algumas ausências trazem mais paz do que muita presença barulhenta.
Começa a haver um certo prazer em dizer “não”, em recusar o que desgasta, em proteger o pouco que ainda faz sentido. A maturidade não vem gritando como uma conquista; ela chega devagar, sem holofote, e se instala em pequenos gestos: no silêncio que não constrange, na companhia que não oprime, no tempo que não é mais desperdiçado com o que esvazia.
O tempo, aliás, deixa de ser moeda de troca. Passa a ser sagrado. Cada minuto investido em algo ou alguém precisa fazer sentido, precisa voltar em forma de vida — e não de exaustão. O olhar se volta pra dentro. Há uma faxina de afetos, de ideias, de hábitos. Nem tudo segue. Nem todos ficam. E isso não dói como antes.
Dói diferente. Dói limpo. Porque já não se espera tanto. Já não se exige tanto. Há mais leveza. Há mais entrega no que é simples, e menos esforço em manter o que não retribui. Aprende-se que paz tem custo — e que, às vezes, ela cobra solidão, distância, silêncio.
Mas paga-se. Paga-se sem reclamar. Porque a maturidade é isso: abrir mão do que pesa sem precisar justificar. É aceitar que não se precisa de muito pra viver bem — apenas de verdade. E que, no fim das contas, o que salva é sempre a escolha de permanecer inteiro, mesmo num mundo que insiste em nos fragmentar.