Benedita de Melo

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Tu fingiste que me amaste;
eu fingi que acreditei.
Foste tu que me enganaste,
ou fui eu que te enganei

CONTO REAL

No virgem coração da pequenina
ele jurou morar a vida inteira;
mas na sua inconstância masculina,
cresceu, casou-se e ela ficou solteira.

Diante de qualquer berço ela se inclina;
desiludida na afeição primeira,
seu amor a ninguém mais se destina;
só aquela afeição foi verdadeira.

Quando um sobrinho pequerrucho e lindo,
hoje lhe pede entre chorando e rindo:
- "Conte uma história, tia, conte aquela. . ."

Ela repete qual se um conto fora:
- "Era uma vez uma menina loura..."
E ninguém sabe que essa história é a dela.

Pretendeste deixar-me... que loucura!
Acaso pode a luz deixar o dia?...
E o ser deixar a forma, poderia?...
E pode o fel deixar sua amargura?...

Vivemos separados, de mistura,
O meu ser no teu ser em harmonia...
Se tu me abandonasses, criatura,
De mim, em ti, já nada restaria.

Não me deixaste a mim; deixaste a casa.
Temo-nos desenhados na alma em brasa.
Somos um coração íntegro e nu.

Não podias deixar-me... que no mundo,
De tal sorte contigo me confundo,
Que nem sei se eu sou eu, ou se eu sou tu.