Becky Korich
Amigos de verdade nos traduzem. Sabem como simplificar o que a gente complica sem nunca nos deixar cair na banalidade. Nos acalmam, mas também nos confundem, nos perturbam, nos provocam. Nos fazem rir, mas também nos deixam chorar. São eles que nos fazem enxergar a nossa melhor versão, ao mesmo tempo que insistem em gostar de nós quando estamos na nossa pior versão.
Amigos nos fazem pensar e nos ajudam a não pensar: o bom amigo pensa por nós. Estão perto nas horas felizes e nas horas tristes, mas principalmente estão perto nas horas neutras, nos dias jeans e camiseta, nos dias em que não queremos festa, barulho nem conselhos.
A amizade, para dar certo, tem que envolver pessoas um pouco diferentes e um pouco iguais. Conseguir filosofar ideias prosaicas, ter loucura e lucidez, ter um pé na areia e um pé no asfalto, ser comprometedora e libertadora, fútil e útil. Amizade das boas não tem medo de contradições, como tudo que é real na vida.
Tem dias na vida que o tempo fica feio, nebuloso, cinzento. O coração se encolhe, o estômago fica embrulhado, as mãos, fracas, e a única vontade que você tem é de se recolher. Mas a vida manda você seguir.
O mundo não pode parar só por causa do nó no seu estômago e do seu coração estraçalhado.
Enquanto vive, a dor é soberana, e cada alma ferida é uma existência em si.
O tempo não está nem aí para a sua dor e, embora ele pareça estar congelado, o relógio segue infalível. Porque o tempo não tem tempo para te esperar.
Não há libido sem uma certa distância. Mas também não há libido possível no silêncio absoluto da ausência.
Estar ao lado dos pais enquanto eles envelhecem é descobrir novas formas de vida, aprender novas formas de manifestar um amor que pede reverência por sua magnitude.
A luta contra o tempo é uma batalha inútil. Só quando formos capazes de aceitar verdadeiramente o seu curso natural é que nos libertaremos da ilusão de resgatar o impossível.
Pais dão trabalho? Dão. Amar dá um trabalho danado.