Artur da Távola

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Afinidade

Inserida por Blogdalu

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Artur da Távola

Nota: Trecho de um texto do autor.

Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições.
Cuide agora da forma. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho.
Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz (ou melhor, permita-lhe ser feliz com você...)

AFINIDADE

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
E o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro
retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto
no exato ponto em que foi interrompido.

Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.

Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe não precisa de códigos
verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento,
irradia durante e permanece depois que
as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar
a um não afim, sai simples e claro diante
de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a
respeito dos mesmos fatos que impressionam comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento...

Afinidade é sentir com. Nem sentir contra,
nem sentir para, nem sentir por.
Quanta gente ama loucamente,
mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado,
não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar, ou, quando falar,
jamais explicar: apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quanto das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação no ponto em que
parou sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser,
cada vez mais a expressão do outro sob a
forma ampliada do eu individual aprimorado.

Aprendi outro dia que perdoar é a junção de "per" com "doar".
Doar é mais do que dar.
Doar é a entrega total do outro.
O prefixo "per" que tem várias acepções,
indica movimento no sentido "de"
ou em "direção" a ou "através"
ou "para" etimologicamente falando,
portanto, perdoar, quer dizer doar ao
outro a possibilidade de que ele possa amar,
possa doar-se.
Não apenas quem perdoa que se
"doa através do outro".
Perdoar implica abrir possibilidades de
amor para quem foi perdoado,
através da doação oferecida
por quem foi agravado.
Perdoar é a única forma de facilitar
ao outro a própria salvação.

Doar é mais do que dar: é a entrega total...

Perdoar é doar o amor,
é permitir que a pessoa objeto do perdão
possa também devolver um amor que,
até então, só negara...

DE UM OBSERVADOR

A mulher não é somente ela. É também o seu clima. Perfumes não são recomendáveis. Melhor é o odor que se descobre, se possível de talco, banho recente ou capim cheiroso espalhado no armário. Nada de voz aguda. Respire bem e conseguirá um tom médio. Cabelos molhados incentiva.
Mulher não deve ter certezas. Atrapalha e atemoriza. Bom mesmo é o ar de pode ser. Melhor ainda é a eterna possibilidade de nos deixar com a impressão de estarmos revelando as verdadeiras descobertas. Alguma dúvida não faz mal ao ar de interrogação.
Nada de muita jóia. Aquele brinquinho de furar a orelha de criança ou mesmo orelha furada, sem o brinquinho, é recomendável. Relógio, jamais de correia grossa. Mas nada é tão belo quanto penugem na contramão. Manja certos bracinhos lindos? Pois penugem na contramão é aquela que vem descendo pelo braço e de repente muda direção. Nuca e costas também a têm.
Nada de perfeições de corpo, de cara, nem de gênio. Só de caráter. Mulher mau caráter é tão raro quanto repulsivo. O importante é mesmo ser algo errada de corpo ou de rosto. Certos erros enlevam traços ou detalhes que isolados crescem, ganham o todo, saltam da mulher e chegam até nós.
Olhar em tom de súplica ajuda. Suplicar atrapalha. Mãos leves. Calmas. Mão de mulher está para nós como o surfe para a onda: por dentro e por cima, sendo levada e levando, roçando sem arranhar, arranhando sem machucar, sempre um pouco na frente.
Outra coisa: carinho tem hora. Não hora marcada, porém adivinhada. Nunca logo depois. Rosto lavado de preferência. Olhar de tristeza tão antiga quanto encarnações. Lágrimas a postos. Sempre.
Por favor, sem bronca com barriguinha ou descuido nosso. Nada de exigências ascéticas ou dietéticas. Mulher que se preza gosta mais de defeitos que de qualidades.
Mas por favor, nunca bata boca com vizinhos. Fale de, porém não fale demais de empregadas, chefes, costureiras ou patrões.
Mulher deve falar como quem pede. Pedir como quem ajuda, saber esperar. Não pode ficar falando "eu acho". E quando fumar jamais sugar o cigarro com força, aquelas tragadas que fazem um barulhinho quando o cigarro solta da boca.
Há uma virada de olho pelo canto e para baixo (o popular soslaio), altamente condenável. Baixar os olhos é importante. Olhar fixo também. Não definir se o seu olhar é tédio ou mistério. Mas se for tédio avise logo que a gente se manda.
Pudor é essencial. Mas um pudor velado, revelado apenas na linguagem misteriosa e eloqüente do corpo, no jeito de se sentar, encolher-se na cadeira, ou cruzar os pés. Braços cruzados em ar de necessidade, de proteção pega muito bem.
Ser friorenta é necessário. Gostar de pano na cabeça, saia leve e cabelo solto. Se possível preferir o silêncio. Se não, dê a bronca e não resmungue. Gostar de eventuais pilequinhos. Não de alcoolismo. Gostar de beijo, gentileza e ser deixada cruzar a porta na frente. pisar firme é importante. Firme mas leve. Andar de quem estudou balé e guardou distante influência ajuda muito. Saber cruzar as pernas com pudor é fundamental.
Mulher não deve chegar, deve aparecer. Não deve entrar e sim se aproximar. Não deve mastigar, deve diluir. Não deve engolir, deve sorver. Mar tomar leite como criança é recomendável, segurando o copo com as duas mãos. Mastigue as torradas sempre devagar, ponha pouca manteiga ou geléia no pão. Se possível fale "douze" em vez de doze.
Ser daquelas que o sapato arrebenta na rua é bom. Ser das que se abaixam para consertar, jamais. "Vou botar esse cara nos eixos" é uma saudável disposição. Tentar muitos anos sem conseguir e passar a vida inteira tentanto é uma gelada. Gostar de chapéus é essencial. Sardas e pintas ajudam muito. Ar de brincadeira também. deve dormir o mais encolhida possível. E acordar solta, confiante no sono. Nas viagens é essencial cuidar da gente. E conseguir com discrição o que a timidez masculina inibe. Goste de cores. Entenda de silêncios. Tenha sempre algo escondido. Aprimore seus climas, sim, porque ser bela nada tem com ser bonita. É muito mais.

Artur da Távola
Mevitevendo: crônicas

A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os pouco capazes de os sentir e entender. E....nessas moradas estão tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são CAPAZES.

Artur da Távola

Nota: Trecho adaptado de um texto do autor.

A afinidade não é o mais brilhante mas o mais sutil, e delicado dos sentimentos. É o mais independente. Não importa o tempo, as distâncias, quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.

Artur da Távola

Nota: Trecho de um texto do autor.

Descansar não descansa. O que descansa é não cansar.

Inserida por cassio66

Perdoar é doar amor, é permitir que a pessoa objeto do perdão possa também devolver um amor que, até então, só negara...

Que a vida ensine que tão
ou mais difícil do que ter razão, é saber tê-la.
Que o abraço abrace.
Que o perdão perdoe.
Que tudo vire verbo e verbe.
Verde. Como a esperança.
Pois, do jeito que o mundo vai,
dá vontade de apagar e começar tudo de novo...

Não mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois.

Ela não é o mais brilhante dos sentimentos, mas o mais sutil, delicado e penetrante. O mais independente, também. É raro ter afinidade. É muito raro. Mas, quando existe, não precisa de palavras para se manifestar. O que você tem dificuldade de expressar a uma pessoa não afim, sai facilmente diante de alguém com quem você tenha afinidade. Não importam o tempo, a ausência, os adiantamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto no exato ponto em que foi interrompido.

A afinidade é um sentimento singular, discreto e independente. Não precisa do amor. Pode existir quando ele está presente ou quando não está. Independe do amor, mas não independe da amizade. Pode existir a quilômetros de distância. É adivinhado na maneira de falar, escrever, de andar, de respirar. Há afinidade com pessoas a quem apenas vemos passar, com vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos. Há afinidades com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos, veremos ou falaremos.

Afinidade é uma espécie de linguagem secreta do cérebro humano, ainda não estudada. Está naquela parte da cabeça que os cientista dizem ser a maior e ainda não suficientemente explorada e usada por nós. Dessa misteriosa e grandiosa parte do cérebro sai a linguagem da afinidade, uma linguagem sem palavra. Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem para buscar a sintonia com pessoas distantes, com amigos a quem não vemos, com amores latentes, com irmãos de não-vivido?

A afinidade é singular, discreta e independente, repito, porque não precisa do tempo para existir. Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem você estabeleceu o vinculo da afinidade. No dia em que a vir de novo, vai prosseguir a relação exatamente do ponto em que parou. Sensível é a afinidade. É ficar de longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem. É ficar conversando sem trocar palavras. Afinidade não é temporária, não passa com o tempo e a distância. Aliás, é o único sentimento superior ao tempo.

Artur da Távola

Nota: Trecho de um texto do autor.

Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Faça tiaras de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando. E olhe alegre para a vida. Recomendam-se encabulamentos; ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, "aquela conversa importante que precisamos ter"; arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida. E nada de “precisamos discutir nossa relação”. Para quem ama feio, toda atenção é sempre pouca. E para quem ama bonito, qualquer atenção glorifica. Não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora. Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como por exemplo, a sinceridade ou não dar certo ou depois vir a sofrer ou abrir o coração ou contar a verdade do tamanho do amor que sente. Jogue para o alto estratagemas, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser. Seja você, cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil. Revivendo os carinhos que intuiu em criança. Sem medo de dizer, eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.

Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor, ou “bonitar” fazendo seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito (a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a expressão de tudo o que você é, e nunca deixaram, ou você não conseguiu, nem soube, ou vai ver que não pôde. Não se preocupe demais com o amor e suas definições. Viva-o, tão somente. Cuide agora da forma. Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide do carinho. Cuide de você. Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim aprender a fazer o outro feliz. Afinal, se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto.

Inserida por juanaigatu

Quem É Amigo?

Amigo é quem, conhecido ou não, vivo ou morto, nos faz pensar, agir ou se comportar no melhor de nós mesmos. É quem potencializa esse material. Não digo que laboremos sempre no pior de nós mesmos (algumas pessoas, sim) mas nem sempre podemos ser integrais para operar no melhor de nós. Há que contar com algum elemento propiciador, uma afinidade, empatia, amor, um pouco de tudo isso. E sempre que agimos no melhor de nós mesmos, melhoramos, é a mais terapêutica das atitudes, a mais catártica e a mais recompensadora. Esta é a verdadeira amizade, a que transcende os encontros, os conhecimentos, o passado em comum, aventuras da juventude vividas junto. Um escritor ou compositor morto há mais de cem anos pode ser o seu maior amigo.

Esse conceito de amizade, transcende aquele outro mais comum: a de que amigo é alguém com quem temos afinidade, alguma forma de amor não sexual, alguém com quem podemos contar no infortúnio, na tristeza, pobreza, doença ou desconsolo. Claro que isso é também amizade, mas o sentido profundo desse sentimento desafiador chamado amizade é proveniente de pessoas, conhecidas ou não, distantes ou próximas, que nos levam ao melhor de nós. E o que é o melhor de nós? É algo que todos temos, em estado latente ou patente, desenvolvido ou atrofiado. Mas temos. E certas pessoas conseguem o milagre de potencializar esse melhor. Sentimo-nos, então, fundamente gratos e de certa maneira orgulhosos (no bom sentido da palavra) por poder exercitar o que temos de melhor. Este melhor de nós contém sentimentos, palavras, talentos guardados, bondades exercidas ou não.

Amar, ao contrário do que se pensa, não perturba a visão que se tem do outro. Ao contrário, aguça-a, aprofunda-a, aprimora-a. Faz-nos ver melhor. Também assim é a amizade, forma de especial de amor, capaz de ampliar a lucidez e os modos generosos e compreensivos de ver, sentir, perceber o outro e sobretudo -se possível- potencializar os seus melhores ângulos e sentimentos.
Somos todos seres carentes de ser vistos e considerados pelo melhor de nós. A trivialidade, a superficialidade, as disputas inconscientes, a inveja, a onipotência, a doença da auto-referência faz a maioria das pessoas transformar-se em vítimas do próprio olhar restritivo. E o olhar restritivo é sempre fruto da projeção que fazem (fazemos) nos demais, de problemas e partes que são nossas e não queremos ver. E quantas vezes isso acontece entre pessoas que se dizem amigas. Essas pessoas (que se dizem amigas), ignoram certas descobertas do velho Dr. Freud e através de chistes passam o tempo a gozar o “amigo”, alardeando intimidade (onde às vezes há inveja) como prova de amizade. O que não é. Mesmo quando é...

Se se quiser medir o tamanho de uma amizade, meça-se a capacidade de perceber, sentir e potencializar o melhor do outro, porque somente essa atitude fará dele uma pessoa cada vez melhor e por isso merecedora da amizade que se lhe dedica.

Ser Flamengo é ir em frente onde os outros param, é derrubar barreiras onde os prudentes medram (...). É comungar a humildade com o rei eterno de cada um.

Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternura e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.

Artur da Távola

Nota: Trecho de um texto do autor, muitas vezes atribuído erroneamente a Carlos Drummond de Andrade.

AMOR MADURO

O amor maduro não é menor em intensidade. Ele é apenas silencioso. Não é menor em extensão. É mais definido colorido e poetizado. Não carece de demonstrações: Presenteia com a verdade do sentimento.

Não precisa de presenças exigidas: amplia-se com as ausências significantes.
O amor maduro tem e quer problemas, sim, como tudo. Mas vive dos problemas da felicidade. Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem, o prazer. Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro. Na felicidade está o encontro de peles, o ficar com o gosto da boca e do cheiro do outro - está a compreensão antecipada, a adivinhação, o presente de valor interior, a emoção vivida em conjunto, os discursos silenciosos da percepção, o prazer de conviver, o equilíbrio de carne e de espírito.

O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte salva de cada pessoa. Ele vive do que não morreu, mesmo tendo ficado para depois, vive do que fermentou criando dimensões novas para sentimentos
antigos, jardins abandonados, cheios de sementes.

Ele não pede, tem.
Não reivindica, consegue.
Não percebe, recebe.
Não exige, oferece.
Não pergunta, adivinha.
Existe, para fazer feliz.

O amor maduro cresce na verdade e se esconde a cada auto-ilusão, basta-se com o todo do pouco. Não precisa e nem quer nada do muito. Está relacionado com a vida e por isso mesmo é incompleto, por isso é pleno em cada ninharia por ele transformada em paraíso. É feito de compreensão, música e mistério.

É a forma sublime de ser adulto e a forma adulta de ser sublime e criança. É o sol de outono: nítido, mas doce.

Luminoso, sem ofuscar.
Suave, mas definido.
Discreto, mas certo.

Artur da Távola

Nota: Trecho adaptado de um texto do autor.

Doces vontades, doces bobagens. Quem não as tem?

A Felicidade possível

Só quem está disposto a perder tem o direito de ganhar. Só o maduro é capaz da renúncia. E só quem renuncia aceita provar o gosto da verdade, seja ela qual for.

O que está sempre por trás dos nossos dramas, desencontros e trambolhões existenciais é a representação simbólica ou alegórica do impulso do ser humano para o amadurecimento.
A forma de amadurecer é viver. Viver é seguir impulsos até perceber, sentir, saber ou intuir a tendência de equilíbrio que está na raiz deles (impulsos). A pessoa é impelida para a aventura ou peripécia, como forma de se machucar para aprender, de cair para saber levantar-se e aprender a andar. É um determinismo biológico: para amadurecer há que viver (sofrer) as machucadelas da aventura e da peripécia existencial.

A solução de toda situação de impasse só se dá quando uma das partes aceita perder ou aceita renunciar (e perder ou renunciar não é igual, mas é muito parecido; é da mesma natureza). Sem haver quem aceite perder ou renunciar, jamais haverá o encontro com a verdade de cada relação. E muitas vezes a verdade de cada relação pode estar na impossibilidade, por mais atração que exista. Como pode estar na possibilidade conflitiva, o que é sempre difícil de aceitar.

Só a renúncia no tempo certo devolve as pessoas a elas mesmas e só assim elas amadurecem e se preparam para os verdadeiros encontros do amor, da vida e da morte. Só quem está disposto a perder consegue as vitórias legítimas.

Amadurecer acaba por se relacionar com a renúncia, não no sentido restrito da palavra (renúncia como abandono), porém no lato (renúncia da onipotência e das formas possessivas do viver).

Viver é renunciar porque viver é optar e optar é renunciar.

Renunciar à onipotência e às hipóteses de felicidade completa, plenitude etc é tudo o que se aprende na vida, mas até se descobrir que a vida se constrói aos poucos, sobre os erros, sobre as renúncias, trocando o sonho e as ilusões pela construção do possível e do necessário, o ser humano muito erra e se embaraça, esbarra, agride, é agredido.
Eis a felicidade possível: compreender que construir a vida é renunciar a pedaços da felicidade para não renunciar ao sonho da felicidade.

Enfeite-se com margaridas e ternuras
E escove a alma com flores
Com leves fricções de esperança
De alma escovada e coração acelerado
Saia do quintal de si mesmo
E descubra o próprio jardim...

Artur da Távola

Nota: Trecho de um texto do autor, muitas vezes atribuído erroneamente a Carlos Drummond de Andrade.

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro.
Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.

Artur da Távola

Nota: Trecho de um texto de Artur da Távola.

Dilema do homem
Na vigência do casamento ele se sente preso e atado. Quer, quer a separação. Não agüenta mais as limitações da vida comum. Aí pinta a separação e ele, mais do que a mulher, entra em pânico.

Em amor, se é preciso explicar, então já não se deu o entendimento profundo, a adivinhação da verdadeira necessidade do outro.

O que volta depois de ter passado é porque nunca deixou de existir.