André R. Fernandes

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Pele Negra
19/11/2019, às 09h07min
Escrito por André R. Fernandes

Ouço de longe o grito da tua cútis
Vejo o sangue da tua tenaz
Inundar os ribeiros da minha vida.

O dia amanhece silencioso
As aves do campo permanecem nos ninhos
Não ventila, não há céu azul
Pois o dia amanheceu ensanguentado.

Os iníquos te sitiaram
Levaram-te para matadouro
Deixando-te despido
Insultaram-te com cusparada
Por isso ouvi a tua pele negra estrondear

Teus olhos cobertos de sangue
Teus dentes quebrados
Teu dedo médio escalpelado
Teu pescoço com grilhões
Tua boca presa à máscara de ferro
Tuas costas com marcas da chibata

Era chicoteado por ter a pele escura
É xingado por ter cabelo pixaim
É odiado por ter nascido negro
Mas não tem como mudar a cor da tua pele.

Lembro-me dos teus ais
As trilhas guardam até hoje
Tuas pisadas de fugitivo da escravidão
As copas das árvores relembram até hoje
Os negros mortos enforcados

Na Mãe África
Gozavas da liberdade
Era livre para cultuar teus deuses
Tomava banho nos rios
Mas a tua pele teve que ser machucada.

Inserida por AndreFernandes88

⁠NAQUELA NOITE
21/04/2021

Naquela noite
Vi você aquecendo o frio da noite
Com teu corpo nu, tocando Mozart
No piano de Bosendorfer.
Ouvir as melhores melodias
Vindo do seu coração.
Meus olhos se perderam nas curvas
Tortuosas do teu corpo.
Minhas mãos ficaram tresloucadas
Quando atracaram nos teus cabelos.
Teu beijo levou-me à outra dimensão.
Fizemos amor na madrugada
Da lua cheia.

O céu ficou estrelado para nós
Anjos vieram nos abençoar
Poetas recitaram suas poesias
Damas vieram nos felicitar
Cavaleiros vieram nos cortejar
Pianistas tocaram Beethoven
Floristas enfeitaram vosso leito conjugal

Naquela noite
Fiz retrato seu fumado, enquanto
Lia Samuel Beckett na cama.
Produzir uma caricatura sua enquanto
Treinava boxe na sala.
Te fotografei amiúde, quando banhava-se,
Enxugava-se, penteava-se, vestia-se,
Perfumava-se, apanhava um livro.
Estando contigo, fizeste sepultar
Toda a solidão, a tristeza, o medo…
Refez renascer em mim a esperança.

Fizemos amor no dia da festa junina.
Beijamo-nos na orla da praia.
Apoiar-te a tua cabeça na minha coxa,
Enquanto falávamos de poesia nórdica.
Falava sobre as constelações, Os Beatles,
E que estudava medicina.
Fomos assistir a ópera "As Bodas de
Fígaro", de Richard Wagner.

Inserida por AndreFernandes88

⁠A MALDIÇÃO DA ESPOSA
16/04/2021

Maldito sejas tu, por estar desposando com a minha irmã em nosso leito conjugal; por estar presenteando-a com presentes caros; que a mim não coube.
Maldito sejas tu, por estar marcando encontros com rameiras nas vielas.
Maldito sejas tu, por me deixar sozinha no dia do aniversário do nosso matrimônio.
Maldito sejas tu, por chegar a casa com marcas de batons na sua camisa social.
Maldito sejas tu, por me deixar a te esperar no restaurante italiano, para comemorarmos o Dia dos Namorados.
Maldito sejas tu, por inventar pretextos para não estar comigo em eventos familiares.
Maldito sejas tu, que não tira tempo para passear com nossos filhos.
Maldito sejas tu, que é maldição em nossas vidas.
Maldito sejas tu, a viver na sargeta, a pedir óbolo.
Maldito sejas tu, por homiziar tudo de mim.

Maldição foi ter caído na tua fábula
Deixei-me ser iludida por ti
Fiquei cega por ti, achando ser o homem que fosse promover felicidade para nós.
Maldição foi não ter dado ouvidos àqueles que diziam, que eu iria sentir o fel de estar a seu lado.

Maldito seja você, casanova
Maldito seja você, mitomaníaco
Maldito seja você, grosseiro
Maldito seja você, estúpido
Que a maldição caia sobre você,
Que ela carrega-te nos braços.

Inserida por AndreFernandes88

⁠O VENTO DA NOITE

Sobre o silêncio da noite enluarada
Ignorando o estrupo dos automóveis
Preparo meu achocolatado
Ponho CD do jazz no rádio para ouvi-lo
Para acompanhar a leitura de Drummond.

A poesia drummondiana é
Deleite para meus lábios.
É medicina para meu espírito.
Relaxa a minha alma.
Alivia o cansaço do meu olhar.

A cidade anda agitada noturnamente
Pessoas caminham na orla da praia
Picolezeiro anuncia a sua venda
Escuto jovens cantando Caetano
Sinto cheiro de comida vinda de longe.

Felinos miam no muro da vicinal
Ouço choro de bebê vindo longínquo
Meus tímpanos são sensíveis…
Meninas aprendendo capoeira na areia
Universitários curtindo a Legião Urbana.

Pela janela do quarto
O vento traz de fora
Durante a leitura da poesia
A alegria que explode na rua
Toadas apimentam animação
Será uma noite inesquecível.

O vento da noite
Envolve qualquer um que estiver fora
Até aqueles que se veem ranzinza
Quebranta qualquer coração inexpressivo
Ressuscita o ânimo da pessoa
Traz para a pessoa a razão de viver.

A brisa suave da noite
Revive a esperança do biltre
Derruba o bloqueio do medo
Derrama a suavidade sobre os
Esmoladores.
Apazigua os que se veem em trevas
Tranquiliza corações exagitados.

Vento da noite passou por mim
Durante minha leitura
Acalmando a minha procela
Diminuindo meu banzeiro
Tirando de mim, energias negativas
Ô vento da noite, consolai-me!
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24/04/2021 às 19h12 - Sábado

Inserida por AndreFernandes88