André Comte-Sponville

Encontrados 17 pensamentos de André Comte-Sponville

Uma declaração filosófica de amor

Uma declaração filosófica de amor? Poderia ser, por exemplo, a seguinte:

Há o amor segundo Platão: 'Eu te amo, tu me fazes fal­ta, eu te quero.'

Há o amor segundo Aristóteles ou Spinoza: 'Eu te amo: és a causa da minha alegria, e isso me regozija.'

Há o amor segundo Simone Weil ou Jankélévitch: 'Eu te amo como a mim mesmo, que não sou nada, ou quase nada, eu te amo como Deus nos ama, se é que ele existe, eu te amo como qualquer um: ponho minha força a serviço da tua fra­queza, minha pouca força a serviço da tua imensa fraqueza...'

Eros, philia, agapé: o amor que toma, que só sabe gozar ou sofrer, possuir ou perder; o amor que se regozija e com­partilha, que quer bem a quem nos faz bem; enfim, o amor que aceita e protege, que dá e se entrega, que nem precisa mais ser amado...

Eu te amo de todas essas maneiras: eu te tomo avida­mente, eu compartilho alegremente tua vida, tua cama, teu amor, eu me dou e me abandono suavemente... Obrigado por ser o que és, obrigado por existir e por me ajudar a existir!"

Esperar um pouco menos, amar um pouco mais.

Morrer é um destino, nascer uma sorte

A polidez é a origem das virtudes; a fidelidade, seu princípio; a prudência, sua condição.

A gratidão é a mais agradável das virtudes; não é, no entanto, a mais fácil.

" A prudencia determina o que é necessario escolher e o que é necessario evitar" (pequeno tratado das grandes virtudes, p 41)

O amor e a solidão sempre andam juntos;não são dois contrários, mas como que dois reflexos de uma mesma luz, que é viver. Sem essa luz, a filosofia não valeria uma hora de esforço.
(Em o Amor a Solidão)

O simples vive como respira, sem maiores esforços nem glória, sem maiores efeitos nem vergonha.
A simplicidade não é uma virtude que se some à existência.
É a própria existência, enquanto a ela nada se soma.
Por isso é a mais leve das virtudes, a mais transparente e a mais rara.

Pensar bem para viver bem.

Se queres amar a vida, eu preferiria dizer, se queres apreciá-la lucidamente, não te esqueças que morrer faz parte dela. Aceitar a morte -a sua, a dos próximos- é a única maneira de ser fiel à vida até o fim.
Mortais e amantes de mortais: é o que somos e o que nos dilacera. Mas essa dilaceração que nos faz homens ou mulheres, também é o que dá a vida o seu preço mais elevado.
Se não morrêssemos, se nossa existência não se destacasse assim contra o fundo tão escuro da morte, seria a vida tão preciosa, rara, perturbadora? “Um pensamento insuficientemente constante sobre a morte, escrevia Gide, “nunca deu valor suficiente ao mais ínfimo instante de vida.”
Portanto é preciso pensar a morte para amar melhor a vida -em todo caso, para amá-la como ela é: frágil e passageira- para apreciá-la melhor, para vivê-la melhor, o que é uma justificação suficiente para este capítulo.

A moral é um verbo que se conjuga na primeira pessoa

Casal nenhum pode durar sem fidelidade a sua história comum, sem este misto de confiança e de gratidão. Nestas condições, marido e mulher se tornam pessoas belas na medida em que vão envelhecendo. São maduros na arte do amor. Os que começam a vida a dois nada mais fazem do que sonhar com o amor.

A felicidade não é um absoluto, é um processo, um movimento, um equilíbrio, só que instável (somos mais ou menos felizes), uma vitória, só que frágil, sempre a ser defendida, sempre a ser continuada ou recomeçada. Não sonhemos a sabedoria; paremos, ao contrário, de sonhar nossa vida!
Não se trata de impedir de esperar, nem de esperar o desespero. Trata-se, na ordem teórica, de crer um pouco menos e de conhecer um pouco mais; na ordem prática, política ou ética, trata-se de esperar um pouco menos e agir um pouco mais; enfim, na ordem afetiva ou espiritual, trata-se de esperar um pouco menos e amar um pouco mais.

Como o sangue se vê melhor nas luvas brancas, o horror se mostra melhor quando é cortês. Pelo que se relata, os nazistas, pelo menos alguns deles, distinguiam-se nesse papel. E todos compreendem que uma parte da ignomínia alemã esteve nisso, nessa mistura de barbárie e civilização, de violência e civilidade, nessa crueldade ora polida, ora bestial, mas sempre cruel, e mais culpada talvez por ser polida, mais desumana por ser humana nas formas, mais bárbara por ser civilizada. Um ser grosseiro, podemos acusar seu lado animal, a ignorância, a incultura, pôr a culpa numa infância devastada ou no fracasso de uma sociedade. Um ser polido, não. A polidez é, nesse sentido, como que uma circunstância agravante, que acusa diretamente o homem, o povo ou o indivíduo, e a sociedade, não em seus fracassos, que poderiam servir de desculpa, mas em seus sucessos.

⁠⁠A vida é curta demais para contentar-se com palavras.E difícil demais, porém, para dispensá-las.

⁠É por isso que vivemos sós: Porque ninguém pode viver em nosso lugar. O isolamento numa vida humana, é a exceção. A solidão é a regra. Ninguém pode viver em nosso lugar, nem sofrer ou amar em nosso lugar. É o que chamo de Solidão: Nada mais é do que outro nome para o esforço de existir.

⁠Temperança é o poder de se contentar com pouco. Mas não é o pouco que importa. É o poder. E o contentamento!