Adélia Prado

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(...) fiquei doida no encalço. Só melhoro quando chove.

Resumo

Gerou os filhos, os netos,

deu à casa o ar de sua graça

e vai morrer de câncer.

O modo como pousa a cabeça para um retrato

é o da que, afinal, aceitou ser dispensável.

Espera, sem uivos, a campa, a tampa, a inscrição:

1906-1970

SAUDADE DOS SEUS, LEONORA.

...me consola, moço.
Fala uma frase, feita com o meu nome,
Para que ardam os crisântemos
E eu tenha um feliz Natal!...

Dor não tem nada a ver com amargura. Acho que tudo que acontece é feito pra gente aprender cada vez mais, é pra ensinar a gente a viver. Desdobrável. Cada dia mais rica de humanidade.

Aqui é dor, aqui é amor, aqui é amor e dor:
onde um homem projeta seu perfil e pergunta atônito:
em que direção se vai?

"Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta.
As sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do estômago humilde
e fortíssima voz pra cânticos de festa."

Sofro por causa do meu espírito de colecionador-arqueólogo.
Quero pôr o bonito numa caixa com chave
para abrir de vez em quando e olhar.

Beleza não é luxo. É uma necessidade!

Quero comer bolo de noiva,
puro açúcar, puro amor carnal
disfarçado de corações e sininhos:
um branco, outro cor-de-rosa,
um branco, outro cor-de-rosa.

Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.

Adélia Prado
Poesia reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015.

Nota: Trecho do poema A serenata.

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É roxo o amor, de amoras não, de dor.

Me dão mingaus, caldos quentes, me dão prudentes conselhos, eu quero é a ponta sedosa do teu bigode atrevido, a tua boca de brasa.

Com perdão da palavra, quero cair na vida.

Adélia Prado
Poesia reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015.

Nota: Trecho do poema O alfabeto no parque.

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Tudo que a memória amou já ficou eterno.

Adélia Prado

Nota: Trecho modificado da versão original.

Vale a pena esperar, contra toda a esperança,
o cumprimento da Promessa que Deus fez a nossos pais
[no deserto.
Até lá, o sol-com-chuva, o arco-íris, o esforço de amor,
o maná em pequeninas rodelas, tornam boa a vida.
A vida rui? A vida rola mas não cai. A vida é boa.

Adélia Prado
Poesia reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015.

Nota: Trecho do poema Tulha.

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Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.
Este excesso de realidade me confunde.

Adélia Prado
Poesia reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015.

Nota: Trecho do poema Poema começado do fim.

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Eu mesma não entendo minha enormíssima paciência de ficar à toa, só pensando, pensando e sentindo.

Preciso mentir um pouco para que o ritmo aconteça e eu própria entenda o discurso.

Quero você na minha frente, estático (...)
e eu para todo o sempre
olhando, olhando, olhando...

Adélia Prado
Poesia reunida. Rio de Janeiro: Record, 2015.

Nota: Trecho do poema A terceira via.

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Eu quero depois, quando viver de novo, a ressurreição e a vida escamoteando o tempo dividido, eu quero o tempo inteiro.

A gente tem sede de infinito e de permanência. Então, esse ser que assegura a permanência das coisas, é que eu chamo de Deus. É o absoluto.

Adélia Prado
Cunha, Gustavo. Após três anos Adélia Prado volta às prateleiras com “Miserere”. Metro Belo Horizonte, 25 mar. 2014.
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Eu acho que Deus é uma projeção humana, é um desejo infinito que nós temos de adoração, e de algo que nos suspende com o sentido absoluto.

Se eu pudesse, hoje, varria, isto mesmo, varria as pessoas todas com vassoura, como se fossem cisco.

Adélia Prado
Solte os cachorros. Rio de Janeiro: Record, 2024.

Aqui se passa fome, aqui se odeia, aqui se é feliz, no meio de invenções miraculosas.

O amor me fere é debaixo do braço, de um vão entre as costelas, atinge o meu coração é por esta via inclinada

Adélia Prado

Nota: Trecho de poema presente no livro "Bagagem", de Adélia Prado. Link