Aquietai-vos e Sabei que eu sou Deus

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Não estou à altura de imaginar uma pessoa inteira porque não sou uma pessoa inteira.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Sou desastrada, não tenho o corpo perfeito, gosto rápido das pessoas, meu cabelo é bagunçado, mas tento ser forte.

Sonho que sou Alguem cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no ceu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...
E não sou nada!...

sou uma mulher mais ou menos
abandonada
um pouco me dou o direito
um pouco aconteceu assim

às vezes cansa ser independente
hoje me sustente não me deixe me alimente
quero alguém para pentear meus cabelos

sou uma mulher mais ou menos maltratada
um pouco por descuido
um pouco por querer
gosto da impressão esfomeada
às vezes cansa ser milionária
quero sair das páginas dos jornais
hoje me adote me faça um carinho deboche
me ponha no colo e abotoe minha blusa
me faça dormir e sonhar com o mocinho

sou uma mulher mais ou menos alucinada
um pouco foi o acaso
um pouco é exagero
hoje me expulse se irrite me bata
diga abracadabra e me faça sumir
às vezes cansa ser louca demais
mas gosto do medo que sentem
de se envolver com uma mulher assim
hoje quero alguém mais ou menos
apaixonado por mim

Martha Medeiros
MEDEIROS, M. Poesia Reunida. Porto Alegre: L&PM, 1999.

Sou cheio de muito amor e é isso o que certamente me dá uma grandeza.

Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Acredito em sonhos, não em utopia. Mas quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente.

Quando sou visto, tenho, de repente, consciência de mim enquanto escapo a mim mesmo, não enquanto sou o fundamento de meu próprio nada, mas enquanto tenho o meu fundamento fora de mim. Só sou para mim como pura devolução ao outro.

Jean-Paul Sartre
SARTRE, J., O Ser e o Nada, 1943

Fico me ferindo, mas também dou voltas e penso: não, não é nada disso, sou legal, sou mansinho, sou até bonitinho.

"‎Sou direta. Fria. Seca. E nada disso é novidade pra ninguém. É só o meu jeito."

Sou humano, nada humano me é alheio

Posso ter sido mais uma pra você, mas sou única pra mim.

Tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Pertencer.

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Duas idades

Sou nostálgica, mas reconheço que os tempos de agora trouxeram
uma novidade: eliminaram diferenças de geração. Podemos ser tudo
em qualquer idade

Idades só há duas: ou se está vivo ou morto.

A frase acima é uma das tantas definições precisas de Mario Quintana,
que, devido à atualidade da sua obra e pensamento, está e não está
morto, possui as duas idades que ele reconhecia. Faria cem anos neste
domingo, e o que significa isso de fato? Nada. É apenas mais uma razão
para lembrá-lo, e a tudo o que ele deixou escrito e que permanece.

Este é um ano em que muitas pessoas que amo completaram idades
redondas: 10, 15, 45, 70. Cada uma experimentando uma etapa
diferente da vida, mas todas com algo mágico em comum: possuem a
mesma idade, estão vivas. Sou nostálgica, tenho a tendência a achar
que o antes era sempre melhor - não havia tanta violência, nem vaidade
extrema, e os sentimentos eram mais verdadeiros -, mas reconheço que
os tempos de agora trouxeram uma novidade bombástica: eliminaram as
diferenças de geração. Podemos ser tudo em qualquer idade. Jovens
responsáveis e maduros, adultos rebeldes e inconseqüentes, velhos
produtivos e fazendo planos pro futuro. Todos combinam entre si em
suas ambições e desejos. Estão todos na mesma festa, comemorando
a mesma idade: vivos.

O garoto de 12 que entra pro Guinness, a jornalista de 58 que namora
um Apolo de 33, o escritor que lança seu primeiro livro aos 60, a ex-vedete
que aos 99 ainda exibe boas pernas, o homem que aos 28 se tornou um dos deputados mais votados, a mulher que foi mãe aos 56. O que nos impede de
realizar nossos objetivos? Milhares de coisas, eu sei: a falta de dinheiro, de
incentivo, de força de vontade. Mas que ninguém venha reclamar que não tem
mais idade para alguma coisa, seja lá que coisa for esta.

Não foi só a medicina e a ciência que possibilitaram uma vida
útil muito mais extensa: nossa mentalidade vem mudando.
Claro que nem tudo é positivo: meninas engravidam quando
deveriam estar brincando e crianças trabalham quando deveriam
estar estudando. De um lado, falta orientação e informação; de
outra, sobra exploração e necessidade de sustento. Afora essas
tragédias sociais que já deveriam estar sendo combatidas, a parte
boa da história é que nosso tempo esticou, e os estigmas encolheram.
Falta bastante ainda: falta emprego para quem tem mais de 40, falta
aposentadoria decente, um sistema de saúde com mais eficiência, falta
a parte do governo, como é praxe. Mas o nível de desistência pessoal
caiu drasticamente - poucos hoje se acomodam. Nunca o ditado "quem
é vivo sempre aparece" foi tão realista. Estão todos bem à vista, loucos
para serem aproveitados.

Mario Quintana aproveitou-se. Não viveu apenas cronologicamente,
sabia ter todas as idades num único dia. Num poema, era um garoto
de 14 anos. Em outro, tinha 30. Em sua maioria, era eterno. A cada
página, um estado de espírito: ora meio infantil, ora um sábio, às vezes
um transtornado. Porque é assim mesmo que somos, de adolescentes a
caducos num estalar de dedos, a emoção é que determina nossa data de
nascimento.

Hoje ele teria 100, teria 13, teria 52, ele teria o quê, vivo estivesse?
Perguntemos a nós mesmos que idade magnífica temos neste instante.

Não sou uma gaiola para te prender, nem muito menos tenho uma boa tesoura para cortar suas asas, minhas tesouras mal cortam papel. Acredito em liberdade, como também acredito que não são os pés e as mãos livres que a nos dará.

Ora, não sou linda. Mas quando estou cheia de esperança, então de minha pessoa se irradia algo que talvez se possa chamar de beleza.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Adeus, vou-me embora!

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É por isso que tomo ópio, é um remédio.Sou um convalescente do momento, moro no Rés do chão do pensamento e ver passar a vida faz-me tédio

Vou mostrando como sou e vou sendo como posso.

Creio que conviver comigo seja como andar de montanha-russa: ao mesmo tempo em que sou previsível, te surpreendo num piscar de olhos.

Sou imortal. Nada pode me ferir.

Sou muito mais lunar que solar.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Adeus, vou-me embora!

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