Aparece
O que o pai calou aparece na boca do filho, e muitas vezes descobri que o filho era o segredo revelado do pai.
O verdadeiro é semelhante a Deus; não aparece espontaneamente, temos de o adivinhar pelas suas manifestações.
A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
Nota: Trecho de "Há momentos", texto de autoria desconhecida, muitas vezes atribuído, de forma errônea, a Clarice Lispector.
...MaisEu sou sim a pessoa que some, que surta, que vai embora, que aparece do nada, que fica porque quer, que odeia a falta de oxigênio das obrigações, que encurta uma conversa besta, que estende um bom drama, que diz o que ninguém espera e salva uma noite, que estraga uma semana só pelo prazer de ser má e tirar as correntes da cobrança do meu peito.
Que acha todo mundo meio feio, meio bobo, meio burro, meio perdido, meio sem alma, meio de plástico, meia bomba. E espera impaciente ser salva por uma metade meio interessante que me tire finalmente essa sensação de perna manca quando ando sozinha por aí, maldizendo de tudo e de todos. Eu só queria ser legal, ser boa, ser leve. Mas dá realmente pra ser assim?
INVASOR AMOR
Tão surpreendente é o amor,
Aparece sempre sem avisar,
Muito insinuante e sedutor,
Depressa começa a enfeitiçar.
Encantador e também invasor,
Nem pede licença para entrar,
Começa a penetrar sem pudor,
Deseja o coração arrebatar.
E quando domina o interior,
Não é mais possível disfarçar,
O brilho do olhar é revelador,
O melhor agora é se entregar.
A felicidade aparece para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam em nossa vida.
Nota: Adaptação de trecho do poema Há momentos, de autoria desconhecida. O pensamento costuma ser erroneamente atribuído a Clarice Lispector.
...MaisO problema real da vida cristã aparece onde as pessoas normalmente não o procuram. Ele aparece no instante em que você acorda cada manhã. Todos os desejos e esperanças para o dia correm para você como animais selvagens. E a primeira tarefa de cada manhã consiste simplesmente em empurra-los todos para traz; em dar ouvidos a outra voz, tomando aquele outro ponto de vista, deixando aquela outra vida mais ampla, mais forte e mais calma entrar como uma brisa. E assim por diante, todos os dias. Mantendo distância de todas as inquietações e de todos os aborrecimentos naturais, protegendo-se do vento.
No começo, somos capazes de faze-lo somente por alguns momentos. Mas então o novo tipo de vida estará se propagando por todo o nosso ser, porque então estamos deixando Cristo trabalhar em nós no lugar certo. Trata-se da diferença entre a tinta, que está simplesmente deitada sobre a superfície, e uma mancha que penetra naquela superfície.
Quando Cristo disse “sede perfeitos”, quis dizer isso mesmo. Ele quis dizer que temos que entrar no tratamento completo. Pode ser duro para um ovo se transformar em um pássaro; seria uma visão deveras divertida, e muito mais difícil, tentar voar enquanto ainda se é um ovo. Hoje nós somos como ovos. Mas você não pode se contentar em ser um ovo comum, ainda que decente. Ou sua casca se rompe ou você apodrecerá.
Cristianismo Puros e Simples
Quando o único instrumento que você tem é um martelo, todo problema que aparece você trata como um prego.
Não posso mais roer os nervos enquanto as horas passam e você não aparece. Preciso me poupar. Não pretendo mais sofrer, depois, quando você sumir de vez. Sofrer por amor é pura vaidade. Vou olhar para retratos meus e, de novo, sentirei orgulho de mim. Fotos minhas antes de você. Quando eu ainda não tinha provado desse seu veneno vicioso. Da saliva que se fez heroína. Do cheiro que se fez lança-perfume. Deveria ter uma tabela antipaixão como as que fizeram para os tabagistas. Marcaríamos um xis nas vezes em que pensássemos no outro. Assumindo assim nossa fraqueza. Contando as horas em que fôssemos capazes de esquecer. Poucas, no meu caso, já que tudo me lembra você. E de noite as coisas pioram. Mas quero, e posso, vencer essa semana. Sobreviver à abstinência de você por sete dias. Ao éter da mentira, que deixou-nos malucas e cegas. Estávamos correndo descalças entre os destroços da cidade grande. Seremos crianças? Seremos julgadas como adultas. Sendo a culpa toda sua, que acreditou no ar que respirava. No sujo. Na inveja. Perdemos tudo na paisagem desolada dessa cidade. Cidade feia. E, no feio, nos perdemos. Ou me perdi. Sozinha. Para depois ficar aqui, sentada no meio-fio.
Eu? Eu não sou somente boa. Sou uma pessoa muito bonita. Generosa e linda – e quem aguentar, aguentou. Como prêmio, terá meu amor. Saberá da minha verdade. Dará boas gargalhadas. Mas terá que suportar uma boa dose daquilo que sinto. Pois, apesar de tudo ser diversão, nada é simples. Nada é pouco quando o mundo é o meu.
No meu mundo, eu não sei onde andam aqueles, “os melhores”, que bebem bons vinhos e saboreiam trufas. Queria saber se eles sentem, vagamente, pode ser vagamente mesmo, uma pontinha de nojo, ou de tristeza, porque vivem intensamente a baboseira dos vinhos e trufas, sem pensar em mim, nem querer estar comigo, nem com qualquer outra pessoa que não entenda picas de vinhos e tenha mais o que fazer do que pagar fortunas por lascas de fungo.
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor...
Por isso eu acho que a gente se engana, às vezes. Aparece uma pessoa qualquer e então tu vai e inventa uma coisa que na realidade não é.
Vê se me esquece
Já que você não aparece,
venho por meio desta
devolver teu faroeste,
o teu papel de seda,
a tua meia bege,
tome também teu book,
leve teu ultraleve
carteira de saúde,
tua receita de quibe,
de quiabo, de quibebe,
do diabo que te carregue,
te carregue, te carregue
teu truque sujo, teu hálito,
teu flerte, tua prancha de surf,
tua idéia sem verve,
que nada disso me serve
Já que você não merece,
devolva minhas preces,
meu canto, meu amor,
meu tempo, por favor,
e minha alegria que,
naquele dia,
só te emprestei por uns dias
e é tudo que lhe pertence
PS: Já que você foi embora por que não desaparece?"
Do novelo emaranhado da memória, da escuridão dos
nós cegos, puxo um fio que me aparece solto.
Devagar o liberto, de medo que se desfaça entre os
dedos.
É um fio longo, verde e azul, com cheiro de limos,
e tem a macieza quente do lodo vivo.
É um rio.
Corre-me nas mãos, agora molhadas.
Toda a água me passa entre as palmas abertas, e de
repente não sei se as águas nascem de mim, ou para
mim fluem.
Continuo a puxar, não já memória apenas, mas o
próprio corpo do rio.
Sobre a minha pele navegam barcos, e sou também os
barcos e o céu que os cobre e os altos choupos que
vagarosamente deslizam sobre a película luminosa
dos olhos.
Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas
águas como os apelos imprecisos da memória.
Sinto a força dos braços e a vara que os prolonga.
Ao fundo do rio e de mim, desce como um lento e
firme pulsar do coração.
Agora o céu está mais perto e mudou de cor.
É todo ele verde e sonoro porque de ramo em ramo
acorda o canto das aves.
E quando num largo espaço o barco se detém, o meu
corpo despido brilha debaixo do sol, entre o
esplendor maior que acende a superfície das águas.
Aí se fundem numa só verdade as lembranças confusas
da memória e o vulto subitamente anunciado do
futuro.
Uma ave sem nome desce donde não sei e vai pousar
calada sobre a proa rigorosa do barco.
Imóvel, espero que toda a água se banhe de azul e que
as aves digam nos ramos por que são altos os
choupos e rumorosas as suas folhas.
Então, corpo de barco e de rio na dimensão do homem,
sigo adiante para o fulvo remanso que as espadas
verticais circundam.
Aí, três palmos enterrarei a minha vara até à pedra
viva.
Haverá o grande silêncio primordial quando as mãos se
juntarem às mãos.
Depois saberei tudo.
Quando a gente abre os olhos, abrem-se as janelas do corpo, e o mundo aparece refletido dentro da gente.
De vez em quando o diabo me aparece e temos longas conversas.
Em nada se parece com o que dizem dele: rabo, chifres, patas de bode e cheiro de enxofre. Cavalheiro de voz mansa e racional, bem vestido, apreciador de desodorantes finos, me surpreende sempre pela lógica dos seus argumentos. Nada de futilidades. Só fala sobre o essencial, estilo que aprendeu com Deus, nos anos em que foi seu discípulo. Percebi que era ele quando notei que trazia na sua mão direita o martelo e, na esquerda, a bigorna. Pois esta é a sua missão: martelar as certezas, ferro contra ferro, para ver se sobrevivem ao teste.
Já se preparava para dar a primeira martelada quando o interrompi:
- Que é isto que você vai bater? Acho que vai se partir em mil pedaços…
A coisa que estava sobre a bigorna me parecia feita de louça, um bibelô delicado e frágil, e lamentei que o diabo fosse esmigalhá-la.
- Não tenho outra alternativa – ele me respondeu. – É parte de uma aposta que fiz com Deus. Este bibelô delicado é o casamento. E você pode estar certo: não resistirá ao ferro do meu martelo!
Fiquei indignado que ele estivesse maquinando coisa tão perversa e passei ao ataque.
- Não é à toa que os religiosos dizem que você é o anti-Deus. Deus junta. Você separa! A sua bigorna já destruiu muitos lares!
Ele não tinha pressa. Descansou o seu martelo e me falou com voz imperturbada:
- Já estou acostumado às calúnias. Mas não existe coisa alguma mais distante da verdade. Se há uma coisa que eu desejo é um casamento duradouro, até que a morte os separe. Se ponho o casamento na bigorna é justamente para provar que a receita do Criador não funciona. A minha é muito mais eficaz.
Como o meu silêncio indicasse minha disposição em ouvi-lo, ele continuou a falar:
- Todo mundo sabe que, no início, eu era a mão direita de Deus. Estávamos de acordo em tudo. Ele mandava, eu fazia. Foi por causa do casamento que nos separamos. Até então trabalhávamos juntos. Quando Deus disse que não era bom que o homem estivesse só, e melhor seria que ele tivesse uma mulher, eu concordei. Quando Deus disse que esta união teria de ser sem fim, até a morte, eu aplaudi. Mas aí apareceu o pomo da discórdia. Para colar o homem na mulher, Deus foi buscar uma bisnaguinha de amor. Protestei. Argumentei:
- Senhor! Amor é coisa muito fraca, de duração efêmera! Quem é colado com o amor logo se separa!
Citei o poeta: “Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure!” Amor é chama tênue, fogo de palha. Não pode ser imortal. No começo, aquele entusiasmo. Mas logo se apaga. Chama de vela, fraquinha, que se vai com qualquer ventinho… Amor é bibelô de louça. Todos os amantes sabem disso, mesmo os mais apaixonados. E não é por isso que sentem ciúmes? Ciúme é a consciência dolorosa de que o objeto amado não é posse: ele pode voar a qualquer momento. Por isto o amor é doloroso, está cheio de incertezas. Discreto tocar de dedos, suave encontro de olhares: coisa deliciosa, sem dúvida. E é por isso mesmo, por ser tão discreto, por ser tão suave, que o amor se recusa a segurar. Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar. Como construir uma relação duradoura com cola tão fraquinha? Por isto os casais se separam, por causa do amor, pela ilusão de um outro amor. Qualquer tolo sabe que o pássaro só fica se estiver na gaiola. O amor é cola fraca para produzir um casamento duradouro porque no amor vive o maior inimigo da estabilidade: a liberdade. É preciso que o pássaro aprenda que é inútil bater asas. Um casamento duradouro é aquele em que o homem e a mulher perderam as ilusões do amor.
- Foi aí que nos separamos – ele continuou.
- Não porque discordássemos que casamento deveria ser eterno. É isto que eu quero. Nos separamos porque não estávamos de acordo sobre o que é que junta um homem e uma mulher, eternamente. Deus é um romântico. Eu sou um realista.
- Qual foi então a sua proposta? Que cola deveria ser usada?- perguntei, perplexo.
- O ódio. – respondeu ele. – Enganam-se aqueles que dizem que o ódio separa. A verdade é que o ódio junta as pessoas. Como disse um jagunço do Guimarães Rosa, quem odeia o outro, leva o outro para a cama. Diferente do fogo da vela, o fogo do ódio é como um vulcão. Não se apaga nunca. Por fora pode parecer adormecido. No fundo, as chamas crepitam. A diferença entre os dois? O amor, por causa da liberdade, abre a mão e deixa o outro ir. No amor existe a permanente possibilidade de separação. Mas o ódio segura. Não tenha dúvidas. Os casamentos mais sólidos são baseados no ódio. E sabe por que o ódio não deixa ir? Porque ele não suporta a fantasia do outro, voando livre, feliz. O ódio constrói gaiolas, e ali dentro ficam os dois, moendo-se mutuamente numa máquina de moer carne que gira sem parar, cada um se nutrindo da infelicidade que pode causar no outro. As pessoas ficam juntas para se torturarem. Não menospreze o poder do sadismo. Ah! A suprema felicidade de fazer o outro infeliz!
Com estas palavras ele tomou do seu martelo e voltou ao seu trabalho:
- Tenho de provar que eu, e não Deus, sou quem sabe a receita do casamento que só a morte pode separar.
Eu me persignei três vezes e compreendi que o inferno está mais perto do que eu pensava.
O DISCÍPULO
Diz um ditado: quando o discípulo esta pronto, o mestre aparece. Pensando nisso, muita gente passa a vida se preparando para tal encontro. Quando cruza com o mestre, se entrega por dias, meses ou anos a fio. Mas descobre que o mestre não é o ser perfeito que imaginou, e sim um homem igual aos outros. Ao se ver diante de uma pessoa cheia de defeitos, o discípulo se sente roubado. Nessa hora, chega o desejo de abandonar a busca. Quando é assim que a coisa funciona, nos deixa livres para criarmos nosso próprio caminho. Pensando dessa forma, Edinilton Lampião deu uma versão para o ditado mágico: quando o discípulo está pronto, o mestre simplesmente some.
Por isso eu acho que a gente se engana as vezes. Aparece uma pessoa qualquer e então tu vai e inventa uma coisa que na realidade não é. E tu vai vivendo aquilo porque não aguenta o fato de estar sozinho.
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp- Relacionados
- A Verdade Sempre Aparece
- O Sol Sempre Aparece
-
Mensagens de Dia das Crianças e Nossa Senhora Aparecida para 12 de outubro
-
Fábula O Pastor e o Leão (com moral da história)
-
Conto: O Rei Andrada
-
História do Rumpelstilzinho (com interpretação da história)
- Relacionados
- A Verdade Sempre Aparece
- O Sol Sempre Aparece