Amor entre Almas
“… isso que chamamos de amor, esse lugar confuso entre o sexo e a organização familiar…”
Sérgio, não sabia como começar - então comecei copiando essa frase aí de cima, é Caetano Veloso numa entrevista ao JB, vim lendo pelo caminho, não consegui me livrar dela.
Agora estou aqui, escrevendo para você no meu quarto antigo, que minha mãe conserva tal-e-qual, como se eu um dia fosse voltar para casa. E lá se vão - quantos mesmo? - sei lá, quinze vinte anos, qualquer coisa assim.
Chove. Faz frio. É bom estar aqui. Tão bom. Me sinto protegido. Ficamos vendo velhas fotografias, bebendo vinho e rindo muito. Meu irmão Felipe vestiu um modelinho de couro negro e saiu “para dar uma prensa numa caixa de supermercado”. Márcia está tão bonita. E Rodrigo, meu sobrinho, que tem dois anos e não parece quase me desconhecer. Deixei-os vendo um filme antigo dos Beatles, Lennon repetindo “don´t let me down” - e agora percebo que meu inglês anda tão precário que não lembro se é d´ont ou don´t.
Cansado, cansado. Quase não dormi. E não consigo tirar você da cabeça. Estou te escrevendo porque não consigo tirar você da cabeça. Hesito em dizer qualquer coisa tipo me-perdoe ou qualquer coisa assim. Mas quero te contar umas coisas. Mesmo que a gente não se veja mais. Penso em você, penso em você com força e carinho. Axé.
Foi mau, ontem. Fui mau, também. Menos com você, mais comigo mesmo. Depois não consegui dormir. Me bati pela casa até quase oito da manhã. Teria telefonado para você, não fosse tão inconveniente. Acabei ligando para Grace, pedi paciência, chorei, contei, ouvi.
Não era nada com você. Ou quase nada. Estou tão desintegrado. Atravessei o resto da noite encarando minha desintegração. Joguei sobre você tantos medos, tanta coisa travada, tanto medo de rejeição, tanta dor. Difícil explicar. Muitas coisas duras por dentro. Farpas. Uma pressa, uma urgência.E uma compulsão horrível de quebrar imediatamente qualquer relação bonita que mal comece a acontecer. Destruir antes que cresça. Com requintes, com sofreguidão, com textos que me vêm prontos e faces que se sobrepõem às outras. Para que não me firam, minto. E tomo a providência cuidadosa de eu mesmo me ferir, sem prestar atenção se estou ferindo o outro também. Não queria fazer mal a você. Não queria que você chorasse. Não queria cobrar absolutamente nada. Por que o Zen de repente escapa e se transforma em Sem? Sem que se consiga controlar.
Te escrevo com um cigarro aceso e uma xícara de chá de boldo. A escrivaninha é muito antiga, daquelas que têm uma tampa, parece piano. Tem um pôster com Garcia Lorca na minha frente. Um retrato enorme de Virginia Woolf. E posso ver na estante assim, de repente, todo o Proust, e muito Rimbaud, e Verlaine, Faulkner, Ítalo Svevo, William Blake. Umas reproduções de Picasso. Outras de Da Vinci. Um biscuit com um pierrô tão patético. Uma pedra esotérica ainda de Stonehenge, Inglaterra, uma caixinha indiana. Todos os meus pedaços aqui.
E você não me conhece, eu não conheço você.
Te escrevo por absoluta necessidade. Não conseguiria dormir outra vez se não te escrevesse.
Zelda, há também o único romance escrito por Zelda Fitzgerald, a mulher de Scott Fitzgerald, que morreu louca, um incêndio, um hospício. Chama-se “Save me the waltz”. “Reserve-me a valsa”, não é lindo? Lembra o Brahma, se se dançasse no Brahma.
Please, save me the waltz.
Fiz fantasias. No meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. E fantasio, fantasio. Até o último momento esperei que você me chamasse pelo telefone. Que você fosse ao aeroporto. Casablanca, última cena. Todas as cartas de amor são ridículas. Esse lugar confuso de que fala Caetano. E eu estava só começando a entrar num estado de amor por você. Mas não me permiti, não te permiti, não nos permiti. Pedro Paulo me dizendo no ouvido “nunca vi essas luz nos seus olhos”.
Eu não queria saber.
Tão artificial, tão estudado. Detesto ouvir minha voz no gravador ou ver minha imagem em vídeo. Sôo falso para mim mesmo. A calma, o equilíbrio, as palavras ditas lentamente, como se escolhesse. Raramente um gesto, um tom mais espontâneo. Tão bom ator que ninguém percebe minha péssima atuação.
Você compreende tudo isso?
Pausa. Campainha. O jornal de domingo. Desço, outro chá de boldo. Um comentário de Rubens Ewald sobre Aqueles dois, diz que é excelente, fala da “dignidade e tratamento delicado dado ao tema”. Lembro da crítica de Sérgio Augusto, de como fez mal por dentro. Já passou.
Quando pergunto você-compreende-tudo-isso não estou subestimando você. Ah, deus, perdoe. Não sinto agressividade nenhuma em relação a você. E gosto das tuas histórias. E gosto da tua pessoa. Dá um certo trabalho decodificar todas as emoções contraditórias, confusas, soma-las, diminui-las e tirar essa síntese numa palavra só, esta: gosto.
Dormi umas três horas e acordei ouvindo Quereres, de Caetano. Repeti, várias vezes, cada vez mais alto. Ah, bruta flor do querer. Discutia tanto com Ana Cristina César, antes que ela acolhesse a morte (acertadamente? Me pergunto até hoje, nunca sei responder): nossa necessidade fresca & neurótica de elaborar sofrimentos e rejeições e amarguras e pequenos melodramas cotidianos para depois sentar Atormentado & Solitário para escrever Belos Textos Literários.
O escritor é uma das criaturas mais neuróticas que existem: ele não sabe viver ao vivo, ele vive através de reflexos, espelhos, imagens, palavras. O não-real, o não-palpável. Você me dizia “que diferença entre você e um livro seu”. Eu não sou o que escrevo ou sim, mas de muitos jeitos. Alguns estranhos.
Não há nenhum subtexto nisto que te escrevo. Não acho bonito que a gente se disperse assim, só isso. Encontre, desencontre e nada mais, nunca mais, é urbano demais - e eu nasci praticamente no campo, até os 15 anos quase no campo, céu e campo. Não sei se a gente pode continuar amigo. Não sei se em algum momento cheguei a ver você completamente como Outra pessoa, ou, o tempo todo, como Uma Possibilidade de Resolver Minha Carência. Estou tentando ser honesto e limpo. Uma possibilidade que eu precisava devorar ou destruir. Porque até hoje não consegui conquistar essa disciplina, essa macrobiótica dos sentimentos, essa frugalidade das emoções.
Fico tomado de paixão. Há tempos não ficava.
E toda essa peste, meu amigo. O que tem me mantido vivo hoje é a ilusão ou a esperança dessa coisa, “esse lugar confuso”, o Amor um dia. E de repente te proíbem isso. Eu tenho me sentido muito mal vendo minha capacidade de amar sendo destroçada, proibida, impedida, aos 36 anos, tão pouco. Nem vivi nada ainda. E não sou sequer promíscuo. Dum romantismo não pós, mas pré todas as coisas - um romantismo que exige sexualidade e amor juntos. Nunca consegui. Uns vislumbres, visões do esplendor. Me pergunto se até a morte - será? Será amor essa carência e essa procura de amor, nunca encontrar a coisa?
Das minhas heterossexualidades, dois filhos mortos, não ficou nada. Das minhas homossexualidades, esse pânico lento e uma solidão medonha. A hora é tão grave.
Vim pegar energia. Sim. Preciso ver a terra, preciso do horizonte do pampa. Já começa a agir, meus ombros se soltaram. Olhei no espelho e aquela ruga entre as sobrancelhas se desfez.
Não quero me tornar uma pessoa pesada, frustrada, amarga. Não vou me tornar assim. Então vacilo, escorrego e a mania de perfeição virginiana e a estética libriana no dia seguinte me dizem “que vergonha, que vergonha, que vergonha”.
Eu podia dizer que tinha/tínhamos bebido demais. Eu podia dizer que estava com tanto medo de vir para Porto Alegre. Eu podia contar a você dos meus últimos meses, oito, dez, doze horas por dia sobre a máquina de escrever, falando com quase ninguém. Sozinho, às vezes. Cantando também. Tudo isso, se eu te dissesse, talvez tivesse ajudado a doer menos em você.
De repente me passa pela cabeça que você pode estar detestando tudo isso e achando longo e choroso e confuso. Mas eu não quero ter vergonha de nada que eu seja capaz de sentir. Tento não ficar assustado com a idéia que este tempo aqui é curto, que eu vou voltar a São Paulo e que talvez não veja mais você. Sei que não fico assustado demais, e enfrento, e reconstituo os pedaços, a gente enfeita o cotidiano - tudo se ajeita. Menos a morte.
Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas… Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
Quando te falo da idade, quando te falo do tempo, e não tivemos tempo - queria te falar de Cronos, Saturno, da volta pelo Zodíaco quando se completa 30 anos. A tua estrela é muito clara, tem sinais bons na tua testa. Compreendo teu Plutão e a Lua encarcerados na casa XII - as emoções e paixões aprisionadas -, e também Urano, todo o impulso bloqueado. Na mesma casa, a do Karma, a dos espíritos que mais sofrem, tenho também o Sol, Mercúrio e Netuno. Somos muito parecidos, de jeitos inteiramente diferentes: somos espantosamente parecidos. E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim - para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura. Perdoe a minha precariedade e as minhas tentativas inábeis, desajeitadas, de segurar a maçã no escuro. Me queira bem.
Estou te querendo muito bem neste minuto. Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas, grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas. Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim.
Com cuidado, com carinho grande, te abraço forte e te beijo,
Caio F.
p.s.: Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. E amanhã tem sol.
Viva na alegria, no amor, mesmo entre os que odeiam.
Viva na alegria, na saúde, mesmo entre os angustiados.
Viva na alegria, na paz, mesmo entre os atormentados.
Olhe para dentro de você, fique calmo.
Livre-se do medo e do apego, conheça a doce alegria do caminho.
Amizade
Dom de Deus
Que sobressai ao amor e ao ódio
Amizade, pureza
Existente entre os bons
Entre os que sonham
Entre os que esperam
Amizade
Ah! A amizade verdadeira supera tudo
A distância, as diferenças, a dor
A amizade não se deixa esmorecer
Não se acaba
Pois os verdadeiros amigos estão sempre próximos
Sempre querem nos afastar do mal
Nos mostrar o caminho
Os verdadeiros amigos,
Nos fazem sorrir, quando já não temos força
Nos fazem alegrar, quando o mundo, sobre nós, parece desabar
Nos fazem viver, quando já não há razão
Os verdadeiros amigos são anjos que nos mostram o valor da vida
Os verdadeiros amigos estão sempre juntos,
Não importa a distância,
Como se unidos por um laço invisível,
Não se separam
Os verdadeiros amigos são mais do que irmãos
A verdadeira amizade é uma dádiva de Deus.
Na sincronia entre coincidência e destino, cá estou eu à espera de que esse amor não seja simplesmente um acaso.
Entre idas e vindas
escrevo minhas rimas,
descrevo o amor
sem esquecer da dor
sou animal pensante
eterno amante
Essa vida é bandida
e a morte a guarida.
Sou eu que escrevo
e ouço bastante
a experiência da vida
me proporcionou...
a vida é assim mesmo
um se vão
os outros ficam
mas sempre temos bons amigos
Agora solitário
neste instante ruim
só me resta
escrever, rimas sem fim
Tenho medo das sombras
é verdade
Deus me carrega nos braços
Ele me ensinou o amor
amor de verdade
respiro...
transmito...
eu,
esta realidade
Problemas existem
para mostrar o caminho
o lugar da felicidade
meus versos refletem
aquilo que sinto de verdade
Sigo confiante
tropeço e
sempre me levanto.
Sou teu seguidor,
sou cavaleiro errante.
O amor não é um encontro romântico entre dois amantes. (...) ...o amor é como a união entre dois seres cuja força reunida permite a um deles, ou a ambos, a entrada em comunicação com o mundo da alma e a participação no destino como uma dança com a vida e a morte.'
Eu acredito...
Acredito na amizade verdadeira.
Acredito no amor entre amigos.
Acredito que nosso sentimento foi real.
E que possamos confiar um no outro sem perigo.
Acredito no sempre.
Acredito no nunca.
Acredito que sempre estaremos juntos.
Mesmo que a amizade entre homem e mulher não sejam muitas.
Acredito que nunca vamos nos separar.
Acredito que o amor possa reinar.
Que daremos a volta por cima.
E que tudo vai mudar.
Eu acredito que passamos domingos juntos.
Acredito que veremos crescer um ao outro.
Acredito que nossos filhos brincaram juntos.
Eu acredito que nosso futuro esta traçado e que ainda possamos aproveitar muito.
Acredito que nada foi por acaso.
Que Deus colocou um na vida do outro por um motivo.
Acredito que tudo que rolou tinha que acontecer.
Acredito num futuro perfeito contigo.
Desacredito...
Desacredito que não possa existir amizade entre homem e mulher.
Que nada seja para sempre.
Que o amor possa um dia acabar.
Desacredito que alguém consiga nos separar.
Que a distancia vai atrapalhar.
E que a amizade acabará.
Desacredito que tudo tenha ido em vão.
Desacredito que o sentimento possa um dia acabar.
Que essa tempestade não passará.
Desacredito que não teremos futuro juntos.
E que nossa amizade é algo passageiro.
Eu quero...
Quero que meu sonho se realize.
Que sejamos para sempre.
Que viveremos pra sempre junto.
Que sejamos juntos felizes.
Quero que vivamos até o fim ao lado um do outro.
Quero que essa fase passe.
Que sejamos os mais perfeitos, e ao mesmo tempo os mais loucos.
Que possamos nos entender.
Quero que nos conheçamos.
Quero passar uma tarde inteira contigo.
Brincando e conversando.
Eu acredito...
CIDADEZINHA QUALQUER
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
Ó tu do meu amor fiel traslado
Mariposa entre as chamas consumida,
Pois se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado.
Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo que exalou, morro abrasado.
Ambos de firmes anelando chamas,
Tu a vida deixas, eu a morte imploro
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.
Mas ai! que a diferença entre nós choro,
Pois acabando tu ao fogo, que amas,
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.
Mas o amor verdadeiro, se é que existe, entre homens ou mulheres, onde fica? Numa gaveta fechada, tive vontade de dizer.
Costumamos ver as cicatrizes como algo feio ou imperfeito, como coisas que queremos esconder ou esquecer. Mas elas nunca vão sumir.
Eu gosto do jeito que você tenta tirar a minha atenção quando paro tudo pra te olhar. Você precisa entender que te olho pra te decorar e te aprender, você precisa saber que te fotografo com meus olhos e isso não se nega a ninguém. Gosto do teu meio sorriso. Ele tem um ar de mistério, de algo que não estaria ao alcance do meu entendimento.
Até logo
Você me diz que é breve e talvez as coisas não mudem tanto assim enquanto você não estiver aqui. Talvez as coisas estacionem e congelem num tempo indeterminado que me faça parar de reparar nas faixas pintadas no chão que se desgastam. Você vai e eu fico nessa dependência irritante de quem espera, de quem não sabe se faz alguma coisa porque a consequência pode atropelar o que tá por vir, mesmo que você nunca mais venha. E eu vivo preso num milésimo de segundo de saudade, elaborado pra avançar aos poucos.
Você embala as caixas e eu observo atentamente, quase como um vício panóptico, só pra ter certeza de que você me leva, de que você me carrega com você pra algum lugar que não seja uma estante distante da cama. Me leva contigo e não me esquece num canto empilhado com cartas e e-mail e caixas de entrada lotadas de inboxes que você nunca mais vai ler? Leva e diz que se lembra de mim numa noite qualquer, numa terça-feira, por favor. Porque nas terças a gente não tem nada de importante pra fazer e se lembrar de mim num dia qualquer é garantir a minha sobrevivência na memória. Sem necessidade de grandes feitos ou noticiários brasileiros, é só lembrança que vem enquanto você lê numa poltrona qualquer. Lembra de mim por acaso e me ganha de longe com um sorriso na cara por não ter sido esquecido.
Te perco no sono depois da despedida. Já aprendi que me agarrar a escombros ou destinos fatídicos resulta em dor. Dor lancinante, daquelas dores que a gente aprende a evitar porque sentir é demais pra aguentar quando não tem alguém pra dividir. Te perco e te reencontro nos cochilos de domingo, na esperança da correspondência da caixa 45 do meu prédio, da campainha que toca inesperada e recrio você a partir de memórias. Quem não recria um sonho bom que se perde durante o dia em memórias? Do meu violino só saem as notas compatíveis com a tua voz e daí eu ouço diálogos que cortam, risadas que já não têm mais graça e me guardo em você.
Me transporto com o tempo pra todo lugar que me lembra você pra tentar, eu só tento, tento o tempo todo, pra tentar me retomar em você a partir de sorvetes, a partir de livros, a partir de pedidos num café estranho que toca o seu tipo de música favorita. Vivo uma saudade de quem já foi e promete voltar. É da promessa que eu me alimento e moça, se você for ficar pra sempre, me manda uma carta de despedida bonita? Me promete que me despacha numa carta e não me prende na sua estante se não for pra sentir saudade também.
E eu sinto falta. Falta é toda a companhia que eu aceito porque ela não me pergunta sobre você. Não me pergunta e não me repreende pelo desespero que era precipitado e agora se confirma. Na caixa postal vazia, na falta de conexão e na vida de quem eu não faço mais parte e vai muito bem, obrigado. Você vai e eu fiquei. Fiquei e não vi o tempo passando que tanto me esqueci de mudar o tempo verbal das coisas todas do meu dia a dia. Você foi e eu que. Jurava, jurava tanto, jurava dias e mais dias no pé do meu ouvido que só dói quando eu ouço a sua voz numa rua vazia em dias de chuva em que me esqueço do guarda-chuva e passo em frente ao seu número. Cê me disse um até logo, meu bem. Com solidão compartilhada com um fantasma, eu ouço ainda mais alto: eu nunca vou me esquecer de você. Até que os ponteiros descongelam e eu não ouço mais promessa.
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Se eu não tivesse você
Se eu não tivesse você pra me lembrar de limpar as mãos, os braços, o queixo e o lábio no seu, eu sairia por aí cheio de molhos, doces, sorvetes e de todas as coisas que lambuzam a gente quando a gente se permite lambuzar. Talvez eu tivesse mais dinheiro guardado na poupança e nada, nadinha, nada mesmo na agenda e fora dela por seus convites fora de hora e fora de padrão e você gosta de ver as estrelas? Só gosto delas quando aponto pra algumas e você toca no meu braço me mandando baixar a mão. Sem isso seriam só umas estrelas salpicadas num céu-azul-escuro-sem-graça-nenhuma-e-sem-você.
Se eu não me embaraçasse em você pra achar alguma posição confortável na cama, talvez eu caísse no chão fugindo de um sonho ruim em todas as noites frias. E tenho certeza de que engordaria menos, mas olha pra mim e diz se você se importa tanto com isso ou se prefere que a gente divida a sobremesa e divida os momentos e divida a nossa vida numa estranha divisão que não diminui e nem deixa cada um com só um pouquinho do outro. Se eu não tivesse você eu teria reprovado em álgebra porque não saberia somar. Não saberia daquelas coisas que você me ensina e nem me encantaria com facilidade quando você pega no volante e diz que vai me levar pra algum lugar bacana que eu ainda não conheço. Bobagem, meu bem, você é meu lugar-comum-especial-pra-vida-toda nessa noite.
Se você não tivesse esbarrado, me olhado, insistido em não parecer invisível e me dado aquela puxada sensível no braço eu nunca, nunca, nem mesmo hoje em dia, acreditaria que tem coisas erradas que precisam acontecer pra gente se encontrar lá na frente porque o nosso clichê foi assim. Foi no jeito com que eu paro subitamente de falar pra te ouvir disparando sentenças e se pegar constrangida, me olhando e se perguntando o que é que eu tô olhando. Eu tô olhando a sua forma desordenada, fora do tom, um tanto quanto desafinada de gesticular e me fazer rir no meio da praça de alimentação do shopping por ser você.
Se eu não tivesse você, eu ia ter aquele vazio que eu tinha faz tanto tempo e tanta chuva e tanta gente que passava e esbarrava e nunca ficava como você ficou. Você ficou e ficou mais um pouco, fica mais um pouco, vai ficando e não se acomoda, viu? Me incomoda, me acorda quando eu dormir no seu banco de carona e te deixar sozinha, me atordoa com a saudade que nem dura uns três dias direito e me diz que a noite só foi boa porque eu desejei que fosse, porque eu deitei com você do outro lado da linha. Me diz que não importa quão brega-apaixonado-bobo-despreocupado eu possa parecer, que importa é que dá pra ver como eu fico feliz e me faço feliz por ter você. Diz que me odeia, mas diz com aquela forma meio irritada pra si mesma porque você sabe que é uma daquelas mentiras mal contadas, daquelas que faria o seu nariz crescer e que nem entonação de atriz faria mudar. Diz que se eu não tivesse você, você daria um jeito de me acordar com voz de sono só pra eu virar pro lado e sonhar em ter você mais uma vez.
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Amor é pros fracos
Amor nunca foi recomendado pra gente grande que narra a vida com controle absoluto. Ele foi feito pra gente descontrolada, mal planejada, que deixa o tempo fugir pelas frestas dos dedos, e escorrega. Foi feito pra gente que desdenha do tempo e se permite convencer do contrário, não pra gente orgulhosa dos seus feitos metódicos e superiores.
Amor é de gente pequena, frágil, que fica quase sempre à mercê de um caçador. Gente essa que se defende como pode e perde de vez em quando, descobrindo que perda também é um jeito de levar a vida. Esses que ganham o tempo todo, ah… amor não é pra eles. Pra viver um pouco de amor é mais do que preciso aprender com a perda.
Amor é sentimento de gente que cansa, que recua, que chora e borra a maquiagem, que deixa cair pela barba pra contrariar o ditado, não de gente que põe um escudo na frente e se impõe como gladiador. É pra gente que sofre, sim, e continua sofrendo no dia a dia. Pra gente que aprendeu a desistir no meio da luta. Essa gente toda, altiva e com os sentimentos musculosos, não sabe sentir as agulhadas que ele dá no percurso.
amor
Amor é coisa de sonhador, sabia? De gente que flutua e tira os pés do chão o tempo todo, de gente que imagina, e imagina demais com um sorriso na cara, como se tivesse dormindo acordado. Gente boba, tola, com um quê infantil que deixa a coisa tomar conta e não se esvai. Não serve pra quem domina as situações e se mostra inflexivelmente adulto, formal, sério demais pra admitir uma brincadeira no meio de uma semana útil.
É pra gente que não sabe combinar cor e gente que já perdeu na queda de braço. Gente que só soube nadar depois de quase ter morrido afogado, e que ainda dá risadas disso, como se reprovar na vida não tivesse importância, sabe? É pra quem se importa, sim, com o que dizem, com o que pensam, com a ligação do dia seguinte.
Amor é daquela galera que vai mal, obrigado, quer me ouvir? É pra quem cria laços nas filas, na rua, no mundo. Pra quem sorri, mesmo que falte um dente da frente, e contagia o outro. Amor é de gente simples que enfrenta desafios todos os dias desde a hora que acorda e, mesmo assim, firma um compromisso consigo mesmo de que vai chegar até o fim do dia bem. É de gente que pergunta, mesmo podendo nunca ser respondida, se você quer ficar aqui ou ir embora pra sempre. Gente que depende, sim, um pouco que seja do outro – e que pode deixar de depender porque já aprendeu que pessoas vão na mesma velocidade em que chegam. Quem é forte demais não entende de amor. Não entende de fragilidade, perseverança, chuva molhando o terno, falta de proteção e abrigo, nem de imprevisibilidade. Quem é forte não sabe ser fraco, frágil, pequeno e, ainda assim, continuar. Não, isso não pertence a eles. É de gente que tem medo de escuro e passa os dias convivendo com medo e insegurança, nem sempre se dando bem. Gente que vai parar num canto e chorar até desabar pra acordar melhor no dia seguinte. Gente fraca (mesmo) que aprendeu a ser forte por causa do amor.
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