Alma do Guerreiro
No começo não me importava muito com o meu vaso, mas quando comecei a analisar o vaso dos outros comecei a desgostar do meu e assim esperava pelo dia que se quebre, porém após certo ponto de leitura aprendi a amar e aperfeiçoar meu vaso agora temendo que quebre antes de terminar o livro. Temo que já esteja rachando, seja por estar cheio demais ou pelo livro.
Como leitor admiro boas histórias e prezo por termina-las, pois amo um bom final. Entretanto temo que o livro mais importante seja fechado antes que eu possa terminar de ler e esse final me enfraquece, entristece e angustia... O que posso fazer além de ler mais rápido?
Como um caloroso nascer do sol me veio a resposta a minha triste questão, advinda do meio mais adverso, um panfleto religioso, Deus realmente surge das formas mais adversas. A resposta para minha questão é ao fechar o livro ele se encerra e vem uma continuação da história, com um enredo que não me vêem a visão, mas que tem a premissa de superar o anterior. Então posso ler com calma, aproveitando a jornada e sem temer o fim do primeiro livro.
Muito se fala na criação de expectativas dos pais em seus filhos ou de relações familiares tóxicas, mas pouco se fala na simbolização dos pais, na qual o filho vislumbra seus pais não como humanos, mas como símbolos e assim acabam por os exigir em demasia ou por não ver suas falhas como deve, beirando o fanatismo. Não há pior vida que aquela à base de ilusões.
Às vezes, a convivência nos leva a crer que conhecemos o outro o suficiente para o entender, algo que é verdadeiro até certo ponto, podendo às vezes conhecermos o outro melhor que ele mesmo e que nós mesmos. Porém, a arrogância humana nos leva a crer que conhecemos o outro totalmente e assim tomamos decisões erradas com base em nossos delírios sobre o outro. Mas claro que existem os ignorantes que, antes mesmo de conviver, acreditam conhecer o outro como a palma da mão.
CONTENTAMENTO (soneto)
Enfim, posso aquietar! Já te poetei
o teu olhar sagaz, sedutor e quente
regeu uma poesia divinal, fremente
onde nos seus versos me entreguei
Em cada poema, sentir-te, bem sei
se foi bem, foi mal, a alma ardente
furou o meu peito, profundamente
tatuando teu nome, marcado serei
É assim, o meu amor: demasiado
poemas tão maciços de confissão
em cada rima o rimar apaixonado
Por este sentir, vivo em comunhão
na crença deste amor encantado
inspirado do enamorado coração!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04 março, 2025, 16’30” – Araguari, MG
Por que o silêncio, deixar passar, gentileza, perdão, empatia e integridade são vistos como posturas covardes? Não conheço uma pessoa que seja forte o suficiente para se controlar, entender o outro, manter sua postura, ser paciente, saber quando deve lutar e evitar briga, mas conheço muitas que fraquejam e fazem o oposto, porém sem se contentar ainda impõe sua conduta nos demais exercendo pressão social e apelidando quem tem essa força de fraco, como se fossem baratas.
Um Homem precisa de 1.000 dias para levantar um império,
A mulher precisa de uma frase para derrubar o império dele.
Essa frase não é sobre império!
SÓ LEMBRANÇA
Oh! Cerrado! O tempo passa e insiste
tuas várzeas feridas, no ataque, tanto
e o teu sofrimento se mistura o pranto
de irreflexão. Quanto sentimento triste
A sedução no teu seduzir ainda existe
que teima na vida em morte, vil manto
deste desencanto, num sofrente canto
que murmura, que agoniza, e assiste
Agora, cerrado, é tablado de matança
de quem te lança, feri e além avança
em busca de mudança, árduo rosário
O teu fascínio és calvário, és cenário
de extermínio, tantos... tantos, vário
deixando para atração, só lembrança.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
08 abril, 2024, 20’36” – Araguari, MG
EM REDOR DA POESIA
Em redor da poesia distrai o amor
Suspiroso, alegre, impar, elevado
Cândida sensação dum confessor
Num soneto tão quão apaixonado
E neste sentimento cheio de ardor
Diz-se palavras ternas, no afinado
Poetar: modesto, castiço, amador
No tom singular. O peito apertado
Obriga então a poesia ser serena
Onde a prosa pra sedução acena
Desenhando o sentido, as ilusões
Nesta bruma de paixão, estamos:
Soneto e poeta, nestes reclamos
Cochichando prezadas emoções.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
09 abril, 2024, 19’36” – Araguari, MG
ENREDADA DE NADA
Versejo triste, ralo, a poesia vazia
Verso sangrando de muito sonhar
Atrás de uma poética com alegria
Em vão me esforço para alcançar
Rimei paixão, sensação, ousadia
Sem nunca largar, ou desanimar
Em uma fé sedutora que me guia
Sofri, chorei... Noite e dia a idear
Poeto exausto, lerdo, desatento
Um canto de sussurro, lamento
Saem nos versos em enxurrada
E neste poetizar com verso rudo
A minha desilusão é quase tudo
Numa poesia enredada de nada.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
10 abril, 2024, 20’36” – Araguari, MG
CATIVO
Ao que a poesia verseja, e teia
Sussurrante, trivial, num clamar
Num amargor do que a perreia
Imersa em um profundo pesar
Com inquietude que devaneia
Um falho sentir, o pouco estar
No qual a insatisfação a enleia
No âmago de um triste poetar
Enturvo nesta aflição tão aflita
De sofredor que na dor orbita
Se limito, então, dizer não sei...
Sei que é danoso, penetrante
Sentimento avarento, pedante
E cativo desta sorte me tornei.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
11 abril, 2024, 19’18” – Araguari, MG
PREDESTINAÇÃO
Imerso em versos dum sonho fundo
Com rima amável, tão simplesmente
Sublime, lia-se na poesia claramente
Que não era igual, era amor fecundo
Tinha na poética algo mais profundo
Aquele olhar sedutor de quem sente
Uma métrica enamorada, docemente
Singular, nobre, do coração oriundo
E neste rubro, e emotivo entardecer
Pra sempre se tornou um significado
Serenamente, no peito, doce abrigo
És então, definição, sentido, um crer
E a solidão uma toada do passado...
Agora, o predestinado amor comigo!
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
12 abril, 2024, 16’40” – Araguari, MG
SOMBRAS
Guardo poemas soturnos e cinzentos
Numa inspiração desbotada, sem luz
Suspiro no verso sentido, que traduz
A minha poética, cheia de tormentos
Tem tons, inquietos, ais e lamentos
Nos sussurros, a poesia me conduz
Choro e apertos numa pesada cruz
Poetizando estes árduos momentos
E cada sentimento, então, aí figura
Sofrência, enchendo de desventura
A prosa que só queria, apenas amar
E triste, poeto e sinto, sofro e enleio
Vejo tudo feio, tenho o coração cheio
E, a noite sombria, a passar devagar.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
13 abril, 2024, 19’32” – Araguari, MG
Vão-se-me
Dos versos para ti, dantes, nada existe
A lembrança é algo de um pouco valor
A poesia, vazia, está sem aquele amor
Que um dia foi certo, da poética saíste
Porque assim como chegaste, partiste
Cessando o peito que batia com ardor
Sangrando n’alma, criando tom de dor
Na prosa, chorosa, suspirante e triste
O tempo anda, a emoção sai do cais
E a sofrência apenas lesão no sentir
E o coração atrelado em outras elos
De quanto foi outrora, nada tem, mais
Nada, daquela sensação, só o resistir
Vão-se-me uns após uns, dos flagelos.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
14 abril, 2024, 12’04” – Araguari, MG
