A Verdade de cada um Pirandello
Não existe ignorância alguma em se acreditar na verdade errada. A ignorância está em recusar-se a conhecer as alternativas disponíveis para escolher a verdade certa.
É preciso muita determinação, equilíbrio, mas, sobretudo, coragem para lidar com a Verdade. Ela nos revela coisas que, se pudéssemos, escolheríamos não saber. Daí porque os que a tomam como luz para sua estrada não podem evitar o sofrimento com o que descobrem quando ela expõe suas feridas sem pedir-lhes licença. Muitas revelações contrariam crenças tão profundamente enraizadas que dói muito comparar, pois que colocam holofotes sobre coisas inconfessáveis que preferiríamos continuassem na inconsciência, motivo pela qual a maioria opta pela escolha mais fácil da negação, onde só os mais corajosos a assumem para si mesmos e uma parcela menor ainda reúne força para assumi-la também para os outros.
Por princípio não dou crédito a nada que se pretenda discorrer sob o título de “A verdade sobre...”. Quem pode, em sã consciência, afirmar que detém a verdade sobre o que quer que seja? O bom senso nos ensina que, no máximo, conseguimos reunir diferentes versões sobre a realidade dos fatos para que cada um forme, pela sua lógica, o juízo que se apresenta como mais razoável a respeito. Tudo o mais não passa de arrogante pretensão de mentes obcecadas pelo desejo de domínio ou, o que é pior, já acometidas pela manipulação daquelas.
Por recusar-se a negar o que sabia ser verdade, Giordano Bruno morreu pela fogueira. Já Galileu Galilei, 16 anos mais tarde e pelo mesmo motivo, optou por retratar-se para não ter o mesmo destino. Ainda que minha rebeldia me aproxime mais da postura de Bruno que de Galileu, a inteligência me alerta que nenhum mártir até hoje pôde constatar por si mesmo que o idiota não era ele.
O pior em sociedade é o doutrinamento, já que confundido com “chamada à verdade”. Mas no ensino real se entrega a chave para que o aprendiz busque a resposta por si mesmo, pois se o desejar ele o fará. Já no doutrinamento se busca transferir a crença do “correto presumido”, ilegítimo pela pretensão de que se detém a verdade, da suposta prevalência de uma crença sobre outra, e de uma imposição onde só a nossa versão é válida. Em suma, revela a arrogância de quem vê em si algo superior ao existente em todos os outros, e é isso que faz do doutrinamento um ato tão torpe.
A verdade real só é alcançada pela busca voluntária e consciente. Toda tentativa de transferi-la por osmose expõe o benefício trazido somente ao agente, e não ao seu alegado beneficiário.
A recusa em conhecer a verdade por medo das mudanças que irá impor é a mais desprezível dentre todas as covardias!
Calcula-se que menos de 10% das pessoas enfrentam a verdade tal como é, por mais assustadora ou dolorosa que se mostre. Dentre as demais, outro décimo é das que a negarão até o último de seus dias, mas nada a lamentar neste caso, já que escolheram o próprio destino. O mais triste são os 8/10 restantes de pessoas boas que se descobrirão equivocadas até aquele exato momento, mas nunca terão coragem o bastante para confessá-lo sequer a si mesmas.
A coisa mais importante que aprendi sobre a “verdade” é que sua comprovação depende muito mais do talento do argumentador de defender sua tese do que da consistência das informações que usa para tal fim. Seja pelo viés científico ou pelo das crenças, qualquer alegação pode emprestar “legitimidade” a uma tese bastando que seu defensor seja habilidoso o bastante para reunir os elementos que a sustentem, assim como encaixamos uma peça no quebra-cabeças não pelo seu formato – igual ao de outras – mas pela imagem que queremos exibir no final.
O mestre que coloca a verdade acima do que sabe não se propõe a ensinar, mas a compartilhar suas ideias e instigar o aprendiz a refletir sobre elas.
Acreditar em toda narrativa que lhe trazem pode não revelar nada sobre a verdade de alguém, mas apenas que você não é tão esperto quanto imagina!
Não conheci nenhum “dono da Verdade” que não tratasse sua acanhada visão de mundo como realidade absoluta e incontestável.
Desejar expor a verdade a qualquer pessoa contaminada pelo radicalismo ideológico é equivalente a lecionar trigonometria a pacientes lobotomizados.
Algumas pessoas que nos amam de verdade tendem a demonstrar seu amor pelo visão de suas crenças, esquecendo que o melhor presente será sempre o que o outro gostaria de ganhar, e não o que queremos oferecer. A consequência é que suas perspectivas internas acabem criando a falsa percepção de que alguns são responsáveis pela salvação de outros, quando a mais profunda expressão de amor é a do respeito a opção por diferentes caminhos, mesmo na ocorrência de um objetivo comum.
Parafraseando Giordano Bruno, a verdade não muda apenas por que se acredita ou não se acredita nela. O importante é que todos têm direito à própria versão, independente de qual seja a verdadeira, e quando defendendo as nossas nos mostremos honestos em relação aos outros, e coerentes em relação a nós mesmos.
É bem verdade que uma enorme parcela das pessoas ignora a ciência, mas também tem aqueles para quem as próprias crenças são ciência, e todas as dos outros são crendices.
"Quando você olha pro céu, na verdade, você está de cabeça pra baixo, olhando pro abismo cósmico, e a única coisa que te segura, e não te faz "cair pra cima" é a gravidade."
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