Voce foi meu Pecado

Manhã de frio.
Se fosse menino escrevia
Meu nome no vidro.

A porteira bate -
Do meu lado esquerdo,
A lua de verão.

meu cachorro velho
ouvindo com interesse
o canto do verme

Meu Deus, como ficam / sozinhos os mortos!

Maria-fecha-a-porta
ao toque do meu dedo:
ah plantinha tímida...

E por esta arte de conhecer os homens, digo-vos, meu filho, que se pode aprender, mas que não se pode ensinar.

Glória

Vive dentro de mim um mundo raro
Tão vário, tão vibrante, tão profundo
Que o meu amor indómito e avaro
O oculto raivoso ao outro mundo

E nele vivo audaz, ardentemente,
Sentindo consumir-se a sua chama
Que oscila e desce e sobe inquietamente;
Ouvindo a minha voz que por mim chama

Em situações grotescas que me ferem,
Ou conquistando o que meus olhos querem:
Príncipe ou Rei sonhando com domínios.

Sinto bem que são vãs pra me prenderem
As mãos da Vida, muito embora imperem
Sobre a noção real dos meus declínios.

(in "Dispersos e Inéditos")

Ao lado do homem vou crescendo

Defendo-me da morte quando dou
Meu corpo ao seu desejo violento
E lhe devoro o corpo lentamente

Mesa dos sonhos no meu corpo vivem
Todas as formas e começam
Todas as vidas

Ao lado do homem vou crescendo

E defendo-me da morte povoando
de novos sonhos a vida.

Eu nado de costas;
meu ventre magnífico é
o Monte Fuji.

Move-te ó tumba!
Meu pranto
é o vento do outono.

Antes de vos pertencer, pertenço ao meu país.

tu conheces pelo coração
a gramática do meu corpo
e seu dicionário

Considero como uma das felicidades da minha vida não escrever nos jornais; isto faz mal ao meu bolso, mas faz bem à minha consciência.

O chofer de táxi -
Meu pai também, nos dias quentes,
Assobiava assim.

Sesta no jardim:
a borboleta me acorda.
Coça o meu nariz.

À sombra, num banco,
folha cai suave
sobre meu cabelo branco

Não pude imaginar
Esse tigre invisível
Que vês em meu nariz

Quero ouvir na noite
os sapos que embalarão,
eternos, meu túmulo.

Venha colibri:
dentro do meu coração
já é primavera.

O meu pai dizia das mulheres: "quem conhece uma, conhece-as a todas".
(Do filme Atirem no Pianista)