Vício
Conta uma lenda que o baralho de cartas foi inventado por um povo que, vitimado pela carestia, alimentava-se um dia sim, outro não. No dia de jejum desperdiçava o tempo jogando. Assim, o jogo e as cartas são filhos da miséria.
Das desgraças onde naufragam a honra e o dever, em todas as classes sociais, não há origem mais frequente do que o jogo.
A novela, seja como gênero literário ou televisivo, explora o aspecto sentimental e psicológico dos indivíduos. Geralmente apresenta um confronto de sedução e poder, adornado por triângulos amorosos, relações conflitantes e um constante fluxo de eventos para capturar o espectador na narrativa. Diante da impossibilidade de experimentar tais emoções na realidade, as pessoas recorrem ao universo virtual para aliviar as tensões. Frequentemente, a vida não é vivida, não por falta de atenção, mas por não se permitir ser amado.
Adoro quando dormimos nos tocando e, de noite, você me faz um carinho sem ser pra me acordar para parar de roncar.
Adoro quando você me acorda de manhã com um afago, se recosta em mim e acaricia meus braços.
Adoro quando me acompanha até a porta pra me dar um beijo de despedida e desejar bom dia.
Adoro receber, no meio da manhã, uma mensagem sua, por desimportante que seja, pra mostrar que pensou em mim.
Adoro quando chego em casa para o almoço e você para o que está fazendo para se sentar por dez minutos na sala e me contar suas coisas e ouvir as minhas.
Adoro quando vamos, juntos, para o trabalho e você cantarola a música que está tocando, faz comentários descontraídos e apoia a mão em minha perna, sem que seja para eu ir mais devagar no trânsito.
Adoro quando, no intervalo de suas aulas, você vai até minha sala, apaga as luzes e se recosta na poltrona pra relaxar um pouquinho.
Adoro quando voltamos pra casa e você, exausta, mesmo quietinha, segura minha mão apertado.
Adoro quando, cansada, se deita no meu colo e aceita que eu lhe faça um carinho, um cafuné.
Adoro quando me chama pra fazer quebra-cabeças, ir a um cinema, a um jogo ou a um bar. Adoro sentir que gosta de minha companhia e que eu faço falta quando não estou com você.
Adoro quando viajamos e você parece uma criança, me abraça e gosta de comentar sobre as descobertas.
Adoro quando vamos à missa juntos e eu sei que você não está pensando em nada que não esteja ali.
Adoro quando me faz participar de suas coisas, mesmo que eu me mostre ranzinza.
Adoro estar do seu lado e você nunca pegar o celular para deixar claro que a sua atenção está em mim.
Adoro quando, no celular, eu sei que não está sendo compulsiva, olhando e curtindo coisas milhares de vezes, como num vício sem fim.
Adoro todas essas coisas e tantas outras que você não faz.
“Sejam fiéis aos ensinamentos. Arranquem a erva má. Lancem ao fogo da transformação o egoísmo, o vício e o desalento. Separem o joio do trigo, andem pelos caminhos luminosos do discernimento supremo.”
A fé em Deus protege do pecado, que segue um ciclo de provocação, tentação, desejo e queda. Pecar contra o próximo, tratando-o de forma que não gostaria de ser tratado, é grave e o vício é o caminho mais destrutivo.
No vício, a pessoa se torna submissa a algo que não é Deus, destruindo seu discernimento e compaixão, o que pode levá-la a atos impensáveis.
Fazer o bem ao próximo depende, primeiramente, de amar a si mesmo, enquanto o vício consome e exige estímulos cada vez maiores, conduzindo a um vazio sem fim.
Preocupação não é emoção, é um lifestyle viciante. Ficar ocupado ainda é fuga. Ocupado demais, preocupado demais, para expressar sua realização. Largue os mecanismos de defesa. Apenas viva.
O Monólogo do Abstêmio
São oito horas da manhã de um domingo,
Os raios de sol invadem a cozinha pela janela,
Uma paz enorme me toma,
Como que quando fechou os olhos pareço flutuar,
É como se eu estivesse nos braços do Universo,
Como um abraço,
Me sinto tão completa agora,
Tão feliz,
Uma força motriz,
De dentro para fora,
Enfim, consigo me enxergar,
Respirar,
Sem a face escondida pela máscara do vício em álcool,
Sem a depressão que só passava no fundo de um copo e num comprimido de Rivotril,
Comprimido era meu ser, minha alma,
Num engano intrínseco,
Em passar um pano,
Em fugir da realidade ao invés de enfrentá-la,
O álcool era minha bengala,
Velha, quebrada e que no final o resultado era o chão,
As perdas imensuráveis,
Os vexames inomináveis,
Que agora ficam só na lembrança,
Sim, tenho que me lembrar,
Porque para aquele buraco,
Nunca mais quero voltar,
Essa liberdade que agora sinto,
Eu voltei a respirar...
Humanos são ambivalentes sobre serem livres. Quando livres, tem a necessidade de serem "acorrentados".
Duas mil curtidas em fotos e vídeos de uma mesma pessoa, sozinha ou beijando mulheres, vestido ou seminu, em vários perfis no Instagram? É só uma coisa banal. O que importa é o que eu sinto por você.... nem me atrevi a perguntar o que seria.
Se você não consegue ficar 3 minutos sem pegar o celular e olhar o Instagram, tem alguma coisa muito errada com quem está te julgando. Você está certo, errada está a Bíblia.
Se o tempo que vc tem não te pertence ou a quem você ama, ou o tempo não é seu, ou quem você ama não é a mesma pessoa que ama você.
O viciado digital passa pelos mesmos sintomas do viciado analógico.
Necessidade, compulsão, satisfação, depressão, negação, redenção ou recaída. Não importa o que se diga, não acha que fez nada errado e que pode parar quando quiser.
A primeira vítima é a paz, própria ou do parceiro. A segunda é a confiança.
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