Versos para Tia
Deve ser evitado o excesso de confiança, pensando que nada mais tem a aprender e cair no feio abismo da vaidade.
Não tem como descrever, a falta que eu sinto de você, é algo insuportável e que eu devo suportar, é algo fora do comum. É ótimo te amar e triste imaginar que não posso te tocar. É em você que eu me acho, é em você que eu vejo minha felicidade. Te vejo transparente, me vejo espelhada em você e sem você meu mundo perde o rumo, meu coração já bate com esperanças de te ver, de poder dizer que não estou sozinha, quero um dia poder dizer que estou ao lado de quem eu amo, quero um dia dizer que vou me encontrar com você, quero que você saiba que todo meu amor é pra voce, só você!
Uma paixão sem fôlego, sem fim, sem meios, sem regras e sem freios. Um desejo que não cala, berra o tempo todo.
Fulano é pra você que ainda escrevo. Pensei em começar assim esse texto, mas após a primeira frase e o ponto final estabelecido por mim e pela gramática, percebi que eu não conseguiria continuar. A vida andou, mas esse assunto já não flui mais faz tempo.
Eu sei, eu sei, a maturidade chega, os pontos negativos se vão, o tão sonhado equilíbrio surge. Mas alguém me perguntou se é isso o que eu quero? Quem disse que uma vida equilibrada é o que me faz feliz? Não, eu não sei o que me faz feliz, mas por alguma razão ilógica eu não tolero que as feridas se fechem, que os ex amores se mandem e me enviem cartões de natal.
Embora em desorganização tamanha e angústia enlouquecedora, eu não quero mudar, amadurecer, me equilibrar e ter melhor qualidade de vida. Eu prefiro os meus defeitos, um a um, bem amados, que mantém essa escultura de LEGOS coloridos funcionando, afinal não sei qual das peças, embora desarmônicas e mal encaixadas, me sustenta.
Fui criada de maneira regrada, limitada, asséptica, diria até assexuada. Filha única, mimada e cobrada, o exemplo a ser seguido, o bibelô de uma família de errados. A única linha reta escrita até o momento. Hoje, inconscientemente me vejo esquecendo o freio, me jogando sem defesas em uma paixão que me fez fora de mim, imersa em um outro, outro a qual já nem sei mais. Uma paixão sem fôlego, sem fim, sem meios, sem regras e sem freios. Um desejo que não cala, berra o tempo todo, fala através da angustia e do medo.
Vivo com crises de pânico a cada esquina dobrada, sofro a todos os minutos para manter o controle de mim, de tudo que se movimenta no mundo.
Eu preciso principalmente de alguém que deseje e acredite em mim, em si, em nós e em possibilidades onde a bondade e o sonho são possíveis.
A única energia que ainda me convence é aquela que pulsa dentro de nós e nos impulsiona a nos tornar seres melhores. Quiromancia, cartas, orixás e outros arquétipos não funcionam comigo. Respeito, todas as crenças e escolhas de estilo de vida, mas nem sempre sou respeitada em minhas dúvidas.
A minha crença é desconexa e sem tradição. O catolicismo foi expulso de mim quando eu ainda habitava a infância, ainda que resquícios de uma ideologia cristã tenham ficado por aqui e surjam vez ou outra. Por isso acredito na lei do retorno, talvez em uma tentativa quase que desesperada de ter algo a acreditar.
Eu vim a este mundo a passeio, por pura despretensão de meus pais que descuidaram da camisinha, não pretendo construir por aqui fortunas ou castelos. Eu quero apenas levar uma vida pacata e segura, minha bipolaridade já é desafio demais pra mim, não preciso de pessoas como você pesando ainda mais no meu dia.
Mulher que é Mulher, Mulher que é Mulher de verdade, com “M” maiúsculo e tudo mais, se basta sozinha. Não precisa descer o nível com joguinhos fúteis ou criar e incitar rivalidades para inflar o próprio ego. Isso é medieval, da época das cavernas, da época em que éramos bichos, desprovidos de racionalidade.
'Oh, que saudade que eu tenho / Da Aurora da minha vida'... Se bem que Guiomar era também outra tia muito boazinha, quando eu tinha lá meus oito anos!