Um dia a Gente Aprende Mario Quintana

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Do Mau Estilo...

Todo o bem, todo o mal que eles te dizem, nada
Seria, se soubessem expressá-lo...
O ataque de uma borboleta agrada
Mais que todos os beijos de um cavalo.

Há uma cor que não vem nos dicionários. É essa indefinível cor que têm todos os retratos, os figurinos da última estação...a cor do tempo.

Alma errada

Há coisas que a minha alma,
já mortificada não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas

porque, sendo bom,
a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há…

e quem é que hoje faz questão de virgindades…

E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada

me deixará aqui, ouvindo o que todos ouvem,
bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.

A estes, a falta de alma não incomoda.

(Desconfio até que minha pobre alma fora destinada ao habitante de outro mundo).

E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente,
o desfilar das grandes paradas do Exército.

E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido…

A verdadeira coragem consiste, apenas, em não nos importarmos com a opinião dos outros. Mas como custa!

Verbetes

Infância - A vida em tecnicolor.
Velhice - A vida em preto-e-branco.

Entre a minha casa e a tua, há uma ponte de estrelas.
Uma ponte de silêncios.

Deixem o outro mundo em paz! O mistério está aqui!

Não sei dançar. Minha maneira de dançar é o poema.

Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá.
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é Es-pe-ran-ça...

Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém...

Só o que está perdido é nosso para sempre.

Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa nova me quedar a sós,
Deixa-me em paz na minha quieta rua...
Nada mais quero com nenhum de vós!

Quero é ficar com algumas poemas tortos
Que andei tentando endireitar em vão...
Que lindo a Eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da Expressão!...

Eu levarei comigo as madrugadas,
Pôr de sóis, algum luar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas...

E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu negro manto...

As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade.

Ah! quanta vez a vida nos revela que "a saudade da amada criatura" é bem melhor do que a presença dela.

Por causa tua, quantas más ações deixei de cometer.

O triste dos caminhos é que eles jamais podem ir aonde querem.

E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas.

Poesia, uma maneira de falar sozinho.

DO ESPÍRITO E DO CORPO

O espírito é variável como o vento,
Mais coerente é o corpo, e mais discreto...
Mudaste muita vez de pensamento,
Mas nunca de teu vinho predileto...

O tempo é a insônia da eternidade.

Mario Quintana
Caderno H. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.