Textos eu Preciso
Mãos vazias
Eu me esqueci na portaria
Do silêncio árido do cerrado
Me perdi no hall da fantasia
De um passado inexplicado
Pensei ter tido só a alegria
Vi que nem tudo é alegrado
O armário está de porta vazia
Confundi o fado com legado
Achei que sendo, seria cortesia
Vi que embutido, sou parado
E nesta surpresa oro teimosia
De um solitário sem sinfonia
De um poeta sem a poesia
Mi vi de mãos vazias...
Luciano Spagnol
Ontem eu me via sem sorte
Sem direção, amigo da morte
O destino queria somente o medo
As palavras desenhavam este enredo
Num coração vazio, escuro de ilusão
Tudo parecia enorme, uma imensidão
Queria desistir nesta circunstância
O horizonte estava sem fragrância
E neste sentimento de abandono e dor
Percebi que maior era o meu amor
Sim para o não...
Olha só...
Foi bom encontrar você
Meu coração estava de dar dó
Sozinho, e eu buscava o amor ter
Pois no para brisa d’alma nada se via
Porque ninguém no vazio existia
Ou ao meu lado desenhava alegria
E foi tão importante assim para mim
Tudo no começo já tinha fim
E no fim o não era o sim
Olha só...
Agora que te encontrei
Nos desencontros da paixão
Quero acreditar na sua emoção
Ficar ao teu lado, silenciar, deitar
Poder ser amado e a ti ofertar
Sentir a tua respiração, ser feliz
E falando em amor sou eterno aprendiz
Então, vamos deixar de lado a ilusão
Olho no olho, e dizer sim para o não...
Amor de todas a cores
Eu canto o amor
o que traz todas as cores
o que escolhe a flor
o complexo os amadores
o que na alma tem sensor
brancos, amarelos, pretos, amores
os que se apaixonam sem pudor
sem olhar alheio, sem dores
os que sabem no beijo dar valor
os que são verdadeiros vencedores
os que conquistam amor, eu canto o amor
Amor pra vida inteira
Eu quero um amor
De galanteios, de flor
Que fale ao coração
Sem pudor, com emoção
Aquele amor que ama
Que a alma clama
Cheio de meiguice
Que não caia na mesmice
Nos fazendo esquecer o que passou
Senhor dos desejos, que aquietou
O olhar, cheio de cheiro
Inteiro
No abraço cumplicidade
Na vida partilha da felicidade
Instigador
Inspirador
Eu quero um amor pra vida inteira
Na lembrança parceira...
Semente
O tempo não para nos ponteiros
Fecho os olhos e sinto saudade
Ainda ontem eu via os carroceiros
Das ruas da minha capiau mocidade
Aqui inventando um pouco de ilusão
Tanto tenho e quero mais felicidade
Mas sinto falta de quimera no coração
Das madrugadas da vida de sonoridade
Tão inquietas e tão cheias de emoção
E tão bem fazem pra nossa mortalidade
Quero o mar para paliar a minha tristura
Palavras para escrever contentamento
De estes versos tirar esta toda amargura
Pois ainda moço vetusto sou para ter tal sentimento
E se o decesso ainda não veio, quero mais aventura...
Semente de paixão, ter a vida com mais acontecimento.
Poema ateu
Escondido no breu
Da madrugada
No fundo do meu eu
O corpo cala
Dormente acende o seu
Espírito, na lembrança que fala
Que um dia sofreu
Sofre, e ainda a nostalgia embala
Na noite, de um poema ateu
Que disfarça, clandestino
A saudade que um dia valeu
E hoje apenas brado peregrino
Adverso
Eu trago loucuras na lucidez
A poesia é a minha variedade
Inquieto translado timidez
Com palavras de venustidade
Trovando o amor exagerado
Do desalento da soledade
Me apego fácil ao ser amado
Mais fácil saio desta comodidade
Amo mais do que sou capaz
Tenho mais do que a prioridade
Se nos versos eu sou um audaz
No sentimento pura lealdade
Sou um eterno amador fugaz
Na inconstância tranquilidade
Um adverso com fragilidade, assaz
Ah! Se Asas Eu Tivesse...
Se asas eu tivesse...
As daria para a minha emoção
Para buscar na imensidão
Do teu olhar... O amor...
E o levaria para aonde eu for
Como preciosa e rara flor
Se asas eu tivesse...
Voaria alto para trazer-te
O raiar do amanhecer
Para espelhar no teu viver
Como melodia de uma paixão
Que canta o encanto na canção
Se asas eu tivesse...
Ti levaria para a eternidade
Com todo vigor e intensidade
Do doce conforto da alma
Para adormeceres com calma
Nos acalantos do meu coração
E ao luar... Então eu daria razão
Se privado de ti sentisse solidão
E a ela pedisse alguma explicação
De sua ausência, de seus encantos
Pois a lua silente nada poderia saber
Só lamentar comigo por asas eu não ter
Para eu voar até ti e lhe dizer:
O tanto do meu amor por você
Se asas eu tivesse
Até mais!
O tempo é indefinição
Eu vim parar no cerrado
Onde não tem inclinação
O por do sol é encarnado
E a secura racha o chão
Também, é encantado...
Eu vim buscar a benção
E encontrei o meu fado
No amor outra direção
Na vida o meu real cais
No coração só devoção
Na poesia tantos anais
Daqui, levo a gratidão
Até mais!
A volta
Quando eu partir
quero ir com saudade
assim, poderei sentir
saudade e liberdade
juntas no meu existir
arrumadinhas
sem nada por vir
só lembrancinhas
que as carregarei
no meu poetar
e assim, estarei
lembrando, sem recuar
sem mala, sem passaporte
pois estou voltando...
me deseje sorte!
Assim eu
Nada fui tão igual
Nada tive ovação
Nada foi excepcional
Nada encontrei em vão
Sempre fui usual
Sempre fui exceção
Sempre fui atual
Sempre fui exclusão
Um solitário nunca só
Um amante sem paixão
Um alegre de dar dó
Um genuíno de tradição
E neste novelo de nó
Aprendi a poetar grão a grão
Como companhia de um caxingó
14/05/2016, 03'35"
Cerrado goiano
Saudades de mim
Levantei hoje com saudades de mim
Pelo tempo veloz eu fui ultrapassado
Já nem sei mais se é começo ou fim
Nesta rota de caminho cascalhado
Sigo em direção ao plano horizonte
Pois o por do sol me leva ao cerrado
O mais interessante é que virou fonte
Nela tento do menino ordenhar o fado
Assim aí eu possa ultrapassar a ponte
Do labirinto acidentado que hoje sinto
Nesta de buscar mais cor onde eu for
O cinza empoeirado me tornou absinto
Me pôs nu nos desejos de ser sonhador
E nas recordações arranquei o estopim
Pra atar na minh'alma os cacos do amor
E tirar da memória às saudades de mim
Luciano Spagnol
20 de maio, 2016
Cerrado goiano
Epílogo
Eu desperto no cerrado em cada alvorada
Sem acaso no destino, alma esbaforida
A fé de uma confiança vaga, indefinida
O poetar de encontro numa encruzilhada
O tempo se fazendo em horas, estirada!
Dum vulto da estória na história recolhida
Em sobras de ir e vir, querendo despedida
E o fado se deslocando em outra jornada
Não vejo um ideal estampado na vida
Do avanço veloz e distante da passada
O fim do horizonte aumenta a corrida
Neste vazio do hoje, o epílogo é morada
Criando e recriando as perdas já vencidas
Numa entusiasta esperança de virada...
Luciano Spagnol
Maio, 2016
Cerrado goiano
Adeus ao cerrado
Oxalá
Que eu volte então
Para o poetar de lá
E assim na retribuição
Só saudade sinta de cá
Oxalá
Que de lá eu só despeça
Em breves idas ali e acolá
E então volte bem depressa
Sem ter que servir de escala
Uma coisa é certa, a gratidão
O cerrado foi recompensa
E um bem ao meu coração
Luciano Spagnol
Maio, 2016
Cerrado goiano
Passo a passo
Eu vim passo a passo errando
Parei no cerrado, hoje solitário
Chão árido, místico templário
Me vi na sorte contemplando
Então pus asas no imaginário
Em vagidos ocos, murmurando
E como peregrino venerando
Em silêncio, orei neste sacrário
E assim o meu poetar ficou perdido
Entre sonhos aos sons estradivário
Devaneando em suspiros indefinido
Já fiz o que vim fazer, involuntário
Fui nobre reverência e saio provido
A alma cheia de um amor solidário
Luciano Spagnol
Maio, 24 de 2016
Cerrado goiano
Soneto do meu eu
Em busca do meu eu, muito errei
Noite a dentro, adentrava em prece
Tolo fui eu, pois a vida acontece
E por muito querer, muito eu andei
Neste dilema o silêncio foi solitário
Achei areia e cascalho sob os pés
E nas procuras tive prazer e revés
Mas sempre nostálgico no itinerário
Fechei os olhos, e ao amor poetei
Pois a poesia tornou-me alicerce
E nos vários temores me encontrei
Tive fala de saudade no meu diário
A cada por do sol tentei ir através
Mas fui operário no meu eu arbitrário
Luciano Spagnol
01/06/2016, 03'16"
Cerrado goiano
Soneto garimpado
Na peneira da vida eu joeirei o amor
Entre vários cascalhos que separei
Nesta labuta e suor, aí te encontrei
Pois ele acontece, não é um eleitor
E assim árido, pelo tempo eu viajei
Bem acreditei, tive pouco ao dispor
Num certo dia pude sentir o frescor
E passei do silêncio pro apaixonei
Desde então vivi o perfume da flor
O garimpo do coração abandonei
E neste gigante afeto tenho ardor
Ai em uma nova luz me entreguei
Pude ser palavras, gestos, e odor
E que noutros versos eu não amei
Luciano Spagnol
2016, junho
Cerrado goiano
Soneto da Ave Maria
Na fenda de ter crença eu já sabia
O pouco de amor se tinha nobreza
Na alma o homem trazia pobreza
E no olhar a mão que oferta, vazia
Nos caminhos, trilhados, uma certeza
O embate de quem clama na Ave Maria
Que na vida a nós é a Mãe da soberania
Via esperança, chama da ternura acesa
E neste sustento de fé, a paz em poesia
E no peito o afeto se dando em surpresa
Sentir a prenda de se ter uma real alegria
Após rezar, contemplar toda está beleza
À luz de Jesus desce da cruz, em romaria
E beija nossa face com humilde riqueza
Luciano Spagnol
13/06/2016
Dia de Santo Antônio
Saudação ao cerrado goiano
Caro cerrado goiano
te saúdo
e sem ter engano
mesmo eu este carrancudo
és soberano.
Aqui, pude te apreciar
aprender a lhe ver
diria até amar
mesmo daqui eu não ser
me sinto parte do seu despertar
belo, e também do entardecer.
Ali, cá, acolá
chão cascalhado
de frutos que são maná
arbusto desencontrado
flores, como não elogiar
tão mágico cerrado.
Então, minha gratidão
por tudo, pouco é o enaltecer
e o sentir que se leva no coração
e se saudade haver
volto, pra mais uma saudação.
Luciano Spagnol
Junho, 2016
Cerrado goiano
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