Textos de Luis de Camoes

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Ricardo só dê ouvidos a quem te ama, repito. Cuidado com as acusações de quem não te conhece. Não coloque sua atenção em frases que te acusam injustamente. Há muitos que vão feridos pela vida porque não souberam esquecer os insultos maldosos. Prenderam a atenção nas palavras agressivas e acreditaram no conteúdo mentiroso delas.

Há muitos que carregam o fardo permanente da irrealização porque não se tornaram capazes de esquecer a palavra maldita "inveja", o insulto agressor. Por isso repito: só dê ouvidos a quem te ama. Não se ocupe demais com as
opiniões de pessoas estranhas e canalhas. Só a cumplicidade e conhecimento mútuo pode autorizar alguém a dizer alguma coisa a respeito do outro, abraços meu irmão estamos aqui com você para o que der e vier.

Definição

O corpo é onde
é carne:

o corpo é onde
há carne
e o sangue
é alarme.

O corpo é onde
é chama:

o corpo é onde
há chama
e a brasa
inflama.

O corpo é onde
é luta:

o corpo é onde
há luta
e o sangue
exulta.

O corpo é onde
é cal:

o corpo é onde
há cal
e a dor
é sal.

O corpo
é onde
e a vida
é quando.


Publicado no livro Canto e palavra (1965).

A Casa Branca Nau Preta

Estou reclinado na poltrona, é tarde, o Verão apagou-se...
Nem sonho, nem cismo, um torpor alastra em meu cérebro...
Não existe manhã para o meu torpor nesta hora...
Ontem foi um mau sonho que alguém teve por mim...
Há uma interrupção lateral na minha consciência...
Continuam encostadas as portas da janela desta tarde
Apesar de as janelas estarem abertas de par em par...
Sigo sem atenção as minhas sensações sem nexo,
E a personalidade que tenho está entre o corpo e a alma...

Quem dera que houvesse
Um terceiro estado pra alma, se ela tiver só dois...
Um quarto estado pra alma, se são três os que ela tem...
A impossibilidade de tudo quanto eu nem chego a sonhar
Dói-me por detrás das costas da minha consciência de sentir...

As naus seguiram,
Seguiram viagem não sei em que dia escondido,
E a rota que devem seguir estava escrita nos ritmos,
Os ritmos perdidos das canções mortas do marinheiro de sonho...

Árvores paradas da quinta, vistas através da janela,
Árvores estranhas a mim a um ponto inconcebível à consciência de as estar vendo,
Árvores iguais todas a não serem mais que eu vê-las,
Não poder eu fazer qualquer coisa gênero haver árvores que deixasse de doer,
Não poder eu coexistir para o lado de lá com estar-vos vendo do lado de cá.
E poder levantar-me desta poltrona deixando os sonhos no chão...

Que sonhos? ... Eu não sei se sonhei ... Que naus partiram, para onde?
Tive essa impressão sem nexo porque no quadro fronteira
Naus partem — naus não, barcos, mas as naus estão em mim,
E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta,
Porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta,
E nada que se pareça com isto devia ser o sentido da vida...

Quem pôs as formas das árvores dentro da existência das árvores?
Quem deu frondoso a arvoredos, e me deixou por verdecer?

Onde tenho o meu pensamento que me dói estar sem ele,
Sentir sem auxílio de poder para quando quiser, e o mar alto
E a última viagem, sempre para lá, das naus a subir...

Não há, substância de pensamento na matéria de alma com que penso ...
Há só janelas abertas de par em par encostadas por causa do calor que já não faz,
E o quintal cheio de luz sem luz agora ainda-agora, e eu.

Na vidraça aberta, fronteira ao ângulo com que o meu olhar a colhe
A casa branca distante onde mora... Fecho o olhar...
E os meus olhos fitos na casa branca sem a ver
São outros olhos vendo sem estar fitos nela a nau que se afasta.
E eu, parado, mole, adormecido,
Tenho o mar embalando-me e sofro...

Aos próprios palácios distantes a nau que penso não leva.
As escadas dando sobre o mar inatingível ela não alberga.
Aos jardins maravilhosos nas ilhas inexplícitas não deixa.
Tudo perde o sentido com que o abrigo em meu pórtico
E o mar entra por os meus olhos o pórtico cessando.

Caia a noite, não caia a noite, que importa a candeia
Por acender nas casas que não vejo na encosta e eu lá?

Úmida sombra nos sons do tanque noturna sem lua, as rãs rangem,
Coaxar tarde no vale, porque tudo é vale onde o som dói.

Milagre do aparecimento da Senhora das Angústias aos loucos,
Maravilha do enegrecimento do punhal tirado para os atos,
Os olhos fechados, a cabeça pendida contra a coluna certa,
E o mundo para além dos vitrais paisagem sem ruínas...

A casa branca nau preta...
Felicidade na Austrália...

Álvaro de Campos
Poesias de Álvaro de Campos

Mas não é agindo apenas sobre o corpo dos indivíduos, degradando-lhes o tamanho, mirrando-lhes as carnes, roendo-lhes as vísceras e abrindo-lhes chagas e buracos na pele, que a fome aniquila o homem. É também atuando sobre seu espírito, sobre sua estrutura mental, sobre sua conduta social.

No estudo da influência da fome sobre o comportamento humano devemos considerar, em separado, a eventualidade da fome aguda das épocas de calamidades e a da fome crônica, latente ou específica.

Nenhuma calamidade é capaz de desagregar, tão profundamente e num sentido tão nocivo, a personalidade humana como a fome, quando atinge os limites da verdadeira inanição. Fustigado pela necessidade imperiosa de comer, o homem esfomeado pode exibir a mais desconcertante conduta mental. Seu comportamento transforma-se como o de qualquer outro animal submetido aos efeitos torturantes da fome(...).

Deitado ao meu lado, seus dedos deslizaram pelas minhas costas
abrindo fendas e poros, tecendo caminhos,amanhecendo desejos.
Afastou meus cabelos da nuca pra roçar o seu queixo.
Eu sentia a sua respiração no meu ouvido, seu sopro de vida entrando em mim.
Desajuizada e mansa, deixei que com um movimento de braço
levasse meu corpo em posição de feto pra dentro da concha do corpo dele.
Naquele encaixe, com o nosso melhor calor, ficamos ali,
desabotoando fomes, desamarrando sentimentos.
Meu coração estava na boca...pro beijo.

Ele não me acordou.
Ele entrou no meu sonho.

Sabe, eu preciso de alguém especial como você
E não é brincadeira.
Desde o primeiro momento que te conheci, me encantei.
Meus olhos se alegraram e minha alma se encheu de vida.
Seu sorriso passou a me fazer feliz
Sua voz tornou-se doce aos meus ouvidos
Não sei, mas é algo especial.
Toda manhã espero ansioso o momento de te encontrar
Acordo com você no pensamento
E uma vontade louca de te olhar
O que é isso?
Não sei, mas se for um sonho.
Não quero acordar.

Estou precisando de um tempo só pra mim. Preciso de alguma forma, sozinho, rever meus conceitos, planejar meus objetivos, criar e executar estratégias que me tire desse buraco o qual só eu tenho ciência. O vejo, quando ninguém, em hipótese alguma, consegue ver. É uma espécie de vazio que não há abslutamente nada que o preencha, não sei se é a falta de Deus, de bens materiais, não sei. Apenas sei que não tou legal. Não adiantará eu estar fazendo tudo o que venho fazendo, apenas por fazer, para que simplesmente os demais que me rodeiam tenham consigo, eu como manda o figurino, nos conformes, segundo a tese imposta pelo sistema social.
Eu pretendo ir além, me refazer, para então depois voltar a fazer tudo com muito amor e sinceridade.

alegoria da caverna

Situação imaginada por PLATÃO no Livro VII de A República (trad. 2001, Gulbenkian) para representar os diferentes tipos de ser que, segundo ele, existem e a condição em que nos encontramos em relação ao seu CONHECIMENTO.

Vários prisioneiros estão amarrados de pés e mãos numa caverna e só podem olhar para a parede diante deles.
Por detrás existe um fogo e entre eles e o fogo passam pessoas transportando vários objetos, cuja sombra se projeta na parede diante dos prisioneiros, o que os leva a pensar que as sombras são a verdadeira REALIDADE.

Só os prisioneiros que são capazes de se libertar (os filósofos),
sair da caverna (MUNDO SENSÍVEL)
e contemplar a realidade e o Sol (mundo inteligível e IDEIA de Bem)
são capazes de compreender como até essa altura viveram num mundo de aparências e ignorância.

Vivemos em um mundo desumano onde tolos seguem tolos, onde hipócritas pensam ser os reis de tudo, onde ninguém mais pensa em ser importante, pensam em só viver, só isso, não se cria mais rebeliões humanitárias para ajudar coisas ou pessoas.
Ninguém mais pensa em pegar uma mala, entrar em um carro e seguir um caminho onde nos leva simplesmente a lugar nenhum, sem rumo, sem parada, sem medo de onde vai parar e quem vai encontrar no caminho.
Estamos esquecendo como se vive, sentir o que há de melhor aqui, não trabalhamos mais pra viver e sim vivemos para trabalhar. O que está acontecendo?
Drogas, bebidas, não lealdade, racismo, enfim bobeiras aparecem em qualquer lugar, pega qualquer pessoa, te "consome" até você ficar dependente dela.
Isso não está certo; não é subjugação, é o real.

Os olhares, hoje já não são os mesmos
Os sorrisos são forçados
Os abraços não têm o mesmo calor
O beijo não tem o mesmo sabor

As conversas são sem graça
Os toques não despertam mais aquele desejo
Agente não se liga
Passamos dias sem se ver
E não sentimos saudades
Os Nicks de MSN são pra outro alguém
Já até me esqueci de como era bom estarmos juntos

Hoje somos como estranhos,
E onde foi parar tudo aquilo que sentíamos?
Aquele querer que entre nós existia??
Não sei, gostaria de entender por que paramos no meio dessa historia
Sem nele se quer por um ponto final...
Talvez um dia haja continuação ou talvez recomecemos..
Ou talvez viveremos como se nada tivesse acontecido entre nós, um dia...

Dizem que: "o verdadeiro homem não é aquele que conquista várias mulheres, mas o que conquista a mesma mulher várias vezes".(desconheço o autor)

Discordo. Por que o VERDADEIRO HOMEM É AQUELE QUE CONQUISTA A MULHER APENAS UMA VEZ, E CONSEGUE TÊ-LA AO SEU LADO PARA SEMPRE.( Esse é de minha autoria).

Já não fujo...
Ainda temo, mas não choro...
Simplesmente procuro viver...
Pela primeira vez tenho noção da vida e não me contenho...
Tornei-me aquilo que sempre quis ser...
Escondo através de lembranças, momentos, onde apenas eu poderei matá-lo ou o fazer renascer...
No entanto conheço-me e sei que jamais vou desistir do que neste momento me vejo construir...

Certas mentiras
"Meu afeto por você é tão óbvio
Que me encabula
Toda aquela graça
Aquela toda que tanto você realça,
Some
Se espalha
E só volta quando escuto seu amásio
Suas belas palavras,
Nem precisavam ser tantas
Ah se minha ingenuidade permitisse acreditar!
Se tornariam convenientes verdades
Que não me cansaria de escutar
Mas será que seriam quão formosas?
Será que continuariam sonoras?
Será que me fariam fechar os olhos?
Será que me deixariam sem graça?
Seriam tantas incertezas
Que prefiro não arriscar
Não tem jeito
Me viciei no seu vicio
Não posso mais ficar sem as mais belas mentiras que alguém já ousou me falar"

Mensagem à poesia
Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.

Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso
reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem... – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.

Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência.
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-Ia mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
Forças da tragédia abatem-se sobre mim, e me impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso...
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder de amor pelo direito
De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se...
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.

Não seje como um espinho que fere as mãos de quem o toca, mas sim como uma rosa que perfuma as maos de quem a esmaga
Não seje como uma erva daninha que mata toda a vegetação a sua volta, mas sim como uma rosa que se comunicam entre si e embelejam os jardins
Siga o exemplo das rosa, e mudem o nossa planeta!

O tempo é uma das maiores incógnitas da vida.
Sua velocidade é dada de acordo com quem vai vive-lo
Pros que tem medo ele é rápido como um raio que se choca com a terra.
Pros que lamentam ele é longo como a extensa raiz de uma árvore procurando seu alimento.
Pros que festejam ele é curto e rápido como uma chuva de verão.
Mais para os que amam o tempo é eterno.
Para os que amam o tempo nunca se acaba.
Os que amam podem ser medrosos, que é difícil, pois para amar é preciso coragem para arriscar !
Podemos ser daqueles que só lamentam, apesar que quem ama não tem o que lamentar.
Podemos ser festeiros, porém quem ama tem todo seu direito de festejar, pra quem ama todo dia é festa.
O amor é o único meio que você pode ser todas essas coisas e seu tempo ser eterno.
Ame..
Ame a vida.
Ame quem te ama.
Ame seu próximo.
Ame principalmente a sí mesmo.
Ame e viva pra sempre!

"O sofrimento é um dos supostos motivos para existência do medo. Supõe-se que para vencê-lo, o otimismo é empregado e apelidado de sonho. Visto que o que se sonha é o ideal - e o ideal não existe - resta-nos o medo da decepção, como a alternativa única, virando uma premissa básica para o ato de sonhar. O que se sonha então, é pura ilusão! O que potencializa de fato, a causa da dor.
Todavia, o resultado a curto prazo é impressionante! A verdade é que ninguém quer sofrer. E acredita-se que nos sonhos, alcançamos abrigo seguro; mesmo que sumam no primeiro abrir dos olhos...
Porém, utiliza-se dessa frustração premeditada e pré-programada apenas quem quer. Acima de tudo, somos racionais e somos conscientes. Nós é quem decidimos o que sonhar! E acreditar no inesperado, sabemos que é sempre decepcionante.
A verdade está na sua frente, e a decisão está em suas mãos. Portanto, antes de agir lembre-se:

- A dor é inevitável. Não tenha medo de sofrer...certifique-se apenas de não ter mais coragem de sonhar!"

Ninguém se engane a si mesmo. Se alguém dentre vós se tem por sábio neste mundo, faça-se louco para ser sábio.
Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria astúcia.
E outra vez: O Senhor conhece os pensamentos dos sábios, que são vãos.

Paulo de Tarso
Bíblia, Coríntios 3, 18-20

A SOLIDÃO

Eu escutei uma canção que falou muito ao meu coração, dizia que a solidão é fogo, a solidão devora, é amiga das horas, prima-irmã do tempo, que faz seus relógios caminharem lento causando descompasso no meu coração.
O que diria eu dessa canção!
Diria que a solidão é realmente fogo, fogo porque nos atormenta, por que não encontramos nela alguém para refrigerar o nosso coração com palavras suaves.
Realmente a solidão é fogo que nos faz deixar em cinzas, nas cinzas da concepção. Eu devia também como a canção que ela devora, devora o que temos de bom para da ao nosso próximo, devora a capacidade de sociabilização com nossos amigos, parentes e irmãos, dura solidão, como diz a canção amiga das horas prima-irmã do tempo.
Certamente quem vive em solidão caminha por uma estrada que não chega ao fim, os momentos que passamos em solidão é como uma eternidade vivida em momentos finitos que parecem não ter fim, finalmente a solidão causa um descompasso no nosso coração, que canção, realmente a solidão causa um descompasso no nosso coração, que canção, realmente a solidão rasga o nosso coração, entristece a alma, tira os sentidos das emoções, como é cruel essa tal solidão.

O Haver

Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

Vinicius de Moraes
Jardim Noturno - Poemas Inéditos