Textos de Anjos

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⁠Silêncio atípico” é uma expressão curta, mas carregada um grande significado. Ela descreve um silêncio que foge do comum — que não é o esperado numa certa situação. É aquele silêncio que estranha, que pesa, que faz pensar e refletir.
É quando se esperava apoio e houve omissão. Quando você de repente se cala.
É o tipo de silêncio que não passa despercebido — porque fala muito mesmo sem emitir som.

Inserida por Michele_Anjos

O nosso dia de domingo se findando, muito para agradecer e linda e abençoada a nossa noite vai ser.
Luz para sua noite, tranquilidade para seu sono e muitas alegrias e realizações a cada amanhecer, em todos os dias.
Que a fé nunca nos falte e o amor sempre nos encontre.
Durma bem e tenha bons sonhos!

Não me venha com desculpas singelas
dignas de meu temor por saber que
seus olhos tem veracidade suficiente para
apodrecer minha malévula vontade de objetivar o futuro.

Contanto que tu digas somente o que queres falar e ardeu no seus seios perfeitos
Não abras a boca. Calunias superfúlas não vão sustentar minha tênue alegria muito menos curar as chagas nascidas dos meus atos.

Se queres me julgar culpado do meu erro maldito de querer ter dois colibris fêmeas na mesma gaiola. Faça, porque eu já me dei a sentença de eliminar toda as vontades, de dar um ponto final aquilo que não sei nomear.

Um sentimento de querer cuidar de sua pessoa, mesmo sabendo que não conseguiria tomar conta de mim mesmo, sabendo que tu com toda certeza cuidaria melhor de minha pessoa.

Menino ainda, feto nefelibato, não passa de um garoto sentimental que aprendeu a obstruir todos as suas artérias que antes passavam um sangue frio, malditos amores passados, me passaram a sabedoria do amor, mesmo sabendo que não amava ninguém antes como amava seus progenitores.

Podia até saber o que essa palavra que gerava medo significava, mas só sentia o amor de cria que tens para os seus queridos entes, agora procura o significado deste sentimento.

Mesmo tendo os maiores exemplos na frente de seus olhos, seus queridos pais que ultrapassaram qualquer barreira,
para morar e compartilhar essa aliança que era tão fútil, um pedaço de ouro em forma circular que é tão cara quanto entrar nesse estado civil.

Ele não acredita ainda.

Mas é só mais um pensamento idiota...
Quem leria algo que vem de uma alma jovem...

Não passam de bobagens, assim como as histórias que só vivi em minha mente...

Já diz Flora Mattos o mundo e tão pequeno pelas vontades que venho tendo .
Acordo 5:30 da matina pronta pra mais uma batalha de confusões
Crianças e o futuro e ela que ira nos ensinar como viver nesse mundo .
Já não entendo mais nada , eu crescendo, a criança nascendo ela ensinando eu aprendendo.
Invertido ou não está desse jeito.
Os velhos esperando um fim, os adultos querendo mais, os jovens crescendo e as crianças nascendo.
Seria normal se a criança não te fizesse chorar por uma lição de vida, os velhos te ensinando sonhar e querer mais vida.
O que acreditar, que fazer o mundo correndo eu ainda sonhando hoje e quinta e se dormir já será segunda nem vi ele passar, minhas vontades enorme que nem sei por onde carregar .
Loucura sem nexo afirmação com talvez, sou eu dono, sendo meu próprio freguês.

IX de OS DOENTES

O inventário do que eu já tinha sido
Espantava. Restavam só de Augusto
A forma de um mamífero vetusto
E a cerebralidade de um vencido!

O gênio procriador da espécie eterna
Que me fizera, em vez de hiena ou lagarta,
Uma sobrevivência de Sidarta,
Dentro da filogênese moderna;

E arrancara milhares de existências
Do ovário ignóbil de uma fauna imunda,
Ia arrastando agora a alma infecunda
Na mais triste de todas as falências.

No céu calamitoso de vingança
Desagregava, déspota e sem normas,
O adesionismo biôntico das formas
Multiplicadas pela lei da herança!

A ruína vinha horrenda e deletéria
Do subsolo infeliz, vinha de dentro
Da matéria em fusão que ainda há no centro,
Para alcançar depois a periféria!

Contra a Arte, oh! Morte, em vão teu ódio exerces!
Mas, a meu ver, os sáxeos prédios tortos
Tinham aspectos de edifícios mortos
Decompondo-se desde os alicerces!

A doença era geral, tudo a extenuar-se
Estava. O Espaço abstrato que não morre
Cansara... O ar que, em colônias fluidas, corre,
Parecia também desagregar-se!

Os pródromos de um tétano medonho
Repuxavam-me o rosto... Hirto de espanto,
Eu sentia nascer-me n’alma, entanto,
O começo magnífico de um sonho!

Entre as formas decrépitas do povo,
Já batiam por cima dos estragos
A sensação e os movimentos vagos
Da célula inicial de um Cosmos novo!

O letargo larvário da cidade
Crescia. Igual a um parto, numa furna,
Vinha da original treva noturna,
O vagido de uma outra Humanidade!

E eu, com os pés atolados no Nirvana,
Acompanhava, com um prazer secreto,
A gestação daquele grande feto,
Que vinha substituir a Espécie Humana!

Espírito Natalino

Ho ho ho!
É véspera de Natal, as crianças despertam mais cedo
para desfrutar do momento que ainda está por vir.

A manhã se cala diante da natureza encantadora dos pequeninos.
Sua sutil inteligência age conforme seus sonhos, como
Papai Noel, desequilibrando os corações na busca de
um novo acontecer.

Os avôs observam atentamente o percurso dos tão aclamados, sentem a saudade bater à porta.
Relembram com orgulho seu passado...

Os pais veem a hora chegar, quando então,
no sublime instante...
As lágrimas caem, como um riacho de felicidade.

A voz dos pequeninos soa profundamente, como
um piano a tocar, ao mesmo tempo, destroem com seus
gritos ensurdecedores quando notam a presença do senhor
de barba branca entrar.

A lareira se esconde com tantos presentes, dando espaço
para o aconchego familiar.
São os gestos mágicos natalinos, indo de encontro com o
toque diferenciado, coberto de esperança, de amor.

Mas no final daquela noite a surpresa...
Um pequenino deslumbra a irradiante comoção.
Ele, olha com seus olhos singelos nos olhos vivos da
vida dos avôs e diz:

- Feliz Natal!

Debaixo do tamarindo

No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!

Hoje, esta árvore de amplos agasalhos
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!

Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,

Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade,
A minha sombra há de ficar aqui!

DEREPENTE E DE ROMPANTE!!!

Eu não gosto das coisas assim, ávidas e velozes
Eu as quero calmas, batendo na porta antes de entrar
Eu as quero preenchendo um formulário, marcando audiência
Eu não gosto das coisas assim, ousadas e intrometidas

Tu foste assim, rápido como o Som a propagar-se no ar
veloz, como a luz a propagar-se na água
Não viste portas, janelas muito menos campainhas
E meu coração estava fechado, tu arrombaste

Por isso não gosto de ti, não gosto de amar-te
Tu es o oposto do que eu quero para mim
Eu preciso de sentimentos respeitosos se procuram vaga e vão a entrevista
Tu chagaste e te instalaste

Por isso eu te amo, sem culpas e com medo
Medo que do mesmo jeito que entraste em minha vida saias
Medo que a porta se abra de novo antes de eu ter tempo de colocar a fechadura
Medo que faças o perscurso contrário assim derepente e de rompante como entraste em minha vida

Os dicionários não resolvem todos os problemas, mas ajudam muito. Verdadeiramente, o domínio da língua não se adquire com o estudo da gramática, que é atordoante e pouco apetecível. Só a leitura de bons autores nos familiariza com o vernáculo. Foi essa, pelo menos, a experiência que adquiri quando, durante dois anos, mais ou menos, lecionei Português num Ginásio de Belo Horizonte.
(entrevista com Cyro dos Anjos)

Raízes

O sertanejo antes de tudo
É um forte que batalha
Pelo pão e cada dia
Que é tão pouco quase nada

Enfrentar o cruel mundo
É sua sina calejada
Ainda sonha que no fundo
Do velho poço tenha água

Pra molhar a plantação
Aliviar o coração
Que a chuva caia neste chão

Sobre o mar de conselheiro
Nas cantigas de Gonzaga
Dos incríveis brasileiros
Com o sertão dentro da alma

Ficaria tudo verde
Onde a seca castigava
Nesta terra onde os guerreiros
Foram pássaros sem asas



E o meu canto derradeiro
É que um dia aja água
Pra matar a nossa sede
E lavar as nossas almas

Geivison dos Anjos

O Corrupião

Escaveirado corrupião idiota,
Olha a atmosfera livre, o amplo éter belo,
E a alga criptógama e a úsnea e o cogumelo,
Que do fundo do chão todo o ano brota!

Mas a ânsia de alto voar, de à antiga rota
Voar, não tens mais! E pois, preto e amarelo,
Pões-te a assobiar, bruto, sem cerebelo
A gargalhada da última derrota!

A gaiola aboliu tua vontade.
Tu nunca mais verás a liberdade!...
Ah! Tu somente ainda és igual a mim.

Continua a comer teu milho alpiste.
Foi este mundo que me fez tão triste,
Foi a gaiola que te pôs assim!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

PRISÃO SEM MUROS
A pior prisão que existe vem perigosamente disfarçada de algo que todo ser humano busca ao longo da vida chama-se "Liberdade"
Em nome dessa Liberdade o ser humano se corrompe se afasta dos amigos, da família, dos filhos e de tudo que supostamente lhes ceifa essa "Liberdade"
Liberdade quando não compreendida torna-se a pior das prisões.
Deus nos fez livres e nos deu Livre arbítrio, mas também nos deu Leis básicas que alicerçam esse livre arbítrio
Os 10 mandamentos.
O que vier fora disso não te liberta muito pelo contrario te escraviza a vícios deslealdade mentiras e ações que não te preenchem como ser, e te tornam cada vez mais vazio pois onde habita o Pecado não habita o Espírito Santo.
Quando você enfim perceber a vida já passou e você se tornou escravo das tuas escolhas portanto escravo de si mesmo.
(Fabio Leonardo dos Anjos)

Quando nós trocamos o primeiro olhar
O meu coração pediu pra se apaixonar
Igual ao sol que nasce e só pertence ao dia
Quando nasci o meu amor já te pertencia.

Se não existisses eu te inventaria
As estrelas se eu pudesse te daria
Prometi a Deus que ao céu vou te levar
E vou gritar pro mundo ouvir
Que sempre te amei e vou te amar.

Foi no primeiro olhar que eu te consagrei o meu amor
E nada vai nos separar na alegria ou na dor
O mundo não verá o nosso amor se acabar.

Logo no primeiro olhar Deus nos casou
E escreveu seu nome e o meu no azul do céu
Pra sempre vou te amar.

Viagem de um vencido

Noite. Cruzes na estrada. Aves com frio...
E, enquanto eu tropeçava sobre os paus,
A efígie apocalíptica do Caos
Dançava no meu cérebro sombrio!

O Céu estava horrivelmente preto
E as árvores magríssimas lembravam
Pontos de admiração que se admiravam
De ver passar ali meu esqueleto!

Sozinho, uivando hoffmânnicos dizeres,
Aprazia-me assim, na escuridão,
Mergulhar minha exótica visão
Na intimidade noumenal dos seres.

Eu procurava, com uma vela acesa,
O feto original, de onde decorrem
Todas essas moléculas que morrem
Nas transubstanciações da Natureza.

Mas o que meus sentidos apreendiam
Dentro da treva lúgubre, era só
O ocaso sistemático de pó,
Em que as formas humanas se sumiam!

Reboava, num ruidoso burburinho
Bruto, análogo ao peã de márcios brados,
A rebeldia dos meus pés danados
Nas pedras resignadas do caminho.

Sentia estar pisando com a planta ávida
Um povo de radículas em embriões
Prestes a rebentar, como vulcões,
Do ventre equatorial da terra grávida!

Dentro de mim, como num chão profundo,
Choravam, com soluços quase humanos,
Convulsionando Céus, almas e oceanos
As formas microscópicas do mundo!

Era a larva agarrada a absconsas landes,
Era o abjeto vibrião rudimentar
Na impotência angustiosa de falar,
No desespero de não serem grandes!

Vinha-me à boca, assim, na ânsia dos párias,
Como o protesto de uma raça invicta,
O brado emocionante de vindicta
Das sensibilidades solitárias!

A longanimidade e o vilipêndio,
A abstinência e a luxúria, o bem e o mal
Ardiam no meu Orco cerebral,
Numa crepitação própria de incêndio!

Em contraposição à paz funérea,
Doía profundamente no meu crânio
Esse funcionamento simultâneo
De todos os conflitos da matéria!

Eu, perdido no Cosmos, me tornara
A assembléia belígera malsã,
Onde Ormuzd guerreava com Arimã,
Na discórdia perpétua do sansara!

Já me fazia medo aquela viagem
A carregar pelas ladeiras tétricas,
Na óssea armação das vértebras simétricas
A angústia da biológica engrenagem!

No Céu, de onde se vê o Homem de rastros,
Brilhava, vingadora, a esclarecer
As manchas subjetivas do meu ser
A espionagem fatídica dos astros!

Sentinelas de espíritos e estradas,
Noite alta, com a sidérica lanterna,
Eles entravam todos na caverna
Das consciências humanas mais fechadas!

Ao castigo daquela rutilância,
Maior que o olhar que perseguiu Caim,
Cumpria-se afinal dentro de mim
O próprio sofrimento da Substância!

Como quem traz ao dorso muitas cartas
Eu sofria, ao colher simples gardênia,
A multiplicidade heterogênea
De sensações diversamente amargas.

Mas das árvores, frias como lousas,
Fluía, horrenda e monótona, uma voz
Tão grande, tão profunda, tão feroz
Que parecia vir da alma das cousas:

"Se todos os fenômenos complexos,
Desde a consciência à antítese dos sexos
Vêm de um dínamo fluídico de gás,
Se hoje, obscuro, amanhã píncaros galgas,
A humildade botânica das algas
De que grandeza não será capaz?!

Quem sabe, enquanto Deus, Jeová ou Siva
Oculta à tua força cognitiva
Fenomenalidades que hão de vir,
Se a contração que hoje produz o choro
Não há de ser no século vindouro
Um simples movimento para rir?!

Que espécies outras, do Equador aos pólos,
Na prisão milenária dos subsolos,
Rasgando avidamente o húmus malsão,
Não trabalham, com a febre mais bravia,
Para erguer, na ânsia cósmica, a Energia
À última etapa da objetivação?!

É inútil, pois, que, a espiar enigmas, entres
Na química genésica dos ventres,
Porque em todas as cousas, afinal,
Crânio, ovário, montanha, árvore, iceberg,
Tragicamente, diante do Homem, se ergue
a esfinge do Mistério Universal!

A própria força em que teu Ser se expande,
Para esconder-se nessa esfinge grande,
Deu-te (oh! Mistério que se não traduz!)
Neste astro ruim de tênebras e abrolhos
A efeméride orgânica dos olhos
E o simulacro atordoador da Lua!

Por isto, oh! filho dos terráqueos limos,
Nós, arvoredos desterrados, rimos
Das vãs diatribes com que aturdes o ar...
Rimos, isto é, choramos, porque, em suma,
Rir da desgraça que de ti ressuma
É quase a mesma coisa que chorar!"

Às vibrações daquele horrível carme
Meu dispêndio nervoso era tamanho
Que eu sentia no corpo um vácuo estranho
Como uma boca sôfrega a esvaziar-me!

Na avançada epiléptica dos medos
Cria ouvir, a escalar Céus e apogeus,
A voz cavernosíssima de Deus
Reproduzida pelos arvoredos!

Agora, astro decrépito, em destroços,
Eu, desgraçadamente magro, a erguer-me,
Tinha necessidade de esconder-me
Longe da espécie humana, com os meus ossos!

Restava apenas na minha alma bruta
Onde frutificara outrora o Amor
Uma volicional fome interior
De renúncia budística absoluta!

Porque, naquela noite de ânsia e inferno,
Eu fora, alheio ao mundanário ruído,
A maior expressão do homem vencido
Diante da sombra do Mistério Eterno!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

Volúpia imortal

Cuidas que o genesíaco prazer,
Fome do átomo e eurítmico transporte
De todas as moléculas, aborte
Na hora em que a nossa carne apodrecer?!

Não! Essa luz radial, em que arde o Ser,
Para a perpetuação da Espécie forte,
Tragicamente, ainda depois da morte,
Dentro dos ossos, continua a arder!

Surdos destarte a apóstrofes e brados,
Os nossos esqueletos descarnados,
Em convulsivas contorções sensuais,

Haurindo o gás sulfídrico das covas,
Com essa volúpia das ossadas novas
Hão de ainda se apertar cada vez mais!

Augusto dos Anjos
ANJOS, A. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

Vencido

No auge de atordoadora e ávida sanha
Leu tudo, desde o mais prístino mito,
Por exemplo: o do boi Ápis do Egito
Ao velho Niebelungen da Alemanha.

Acometido de uma febre estranha
Sem o escândalo fônico de um grito,
Mergulhou a cabeça no Infinito,
Arrancou os cabelos na montanha!

Desceu depois à gleba mais bastarda,
Pondo a áurea insígnia heráldica da farda
A vontade do vômito plebeu...

E ao vir-lhe o cuspo diário à boca fria
O vencido pensava que cuspia
Na célula infeliz de onde nasceu.

Versos a um cão

Que força pode, adstricta a ambriões informes,
Tua garganta estúpida arrancar
Do segredo da célula ovular
Para latir nas solidões enormes?!

Esta obnóxia inconsciência, em que tu dormes,
Suficientíssima é, para provar
A incógnita alma, avoenga e elementar
Dos teus antepassados vermiformes.

Cão! — Alma de inferior rapsodo errante!
Resigna-a, ampara-a, arrima-a, afaga-a, acode-a
A escala dos latidos ancestrais. . .

E irá assim, pelos séculos, adiante,
Latindo a esquisitíssima prosódia
Da angústia hereditária dos seus pais!

Versos d’um exilado

Eu vou partir. Na límpida corrente
Rasga o batel o leito d’água fina
- Albatroz deslizando mansamente
Como se fosse vaporosa Ondina.

Exilado de ti, oh! Pátria! Ausente
Irei cantar a mágoa peregrina
Como canta o pastor a matutina
Trova d’amor, à luz do sol nascente!

Não mais virei talvez e, lá sozinho,
Hei de lembrar-me do meu pátrio ninho,
D’onde levo comigo a nostalgia

E esta lembrança que hoje me quebranta
E que eu levo hoje como a imagem santa
Dos sonhos todos que já tive um dia!

Solilóquio de um visionário

Para desvirginar o labirinto
Do velho e metafísico Mistério,
Comi meus olhos crus no cemitério,
Numa antropofagia de faminto!

A digestão desse manjar funéreo
Tornado sangue transformou-me o instinto
De humanas impressões visuais que eu sinto,
Nas divinas visões do íncola etéreo!

Vestido de hidrogênio incandescente,
Vaguei um século, improficuamente,
Pelas monotonias siderais...

Subi talvez às máximas alturas,
Mas, se hoje volto assim, com a alma às escuras,
É necessário que inda eu suba mais!

O deus-verme

Factor universal do transformismo.
Filho da teleológica matéria,
Na superabundância ou na miséria,
Verme — é o seu nome obscuro de batismo.

Jamais emprega o acérrimo exorcismo
Em sua diária ocupação funérea,
E vive em contubérnio com a bactéria,
Livre das roupas do antropomorfismo.

Almoça a podridão das drupas agras,
Janta hidrópicos, rói vísceras magras
E dos defuntos novos incha a mão...

Ah! Para ele é que a carne podre fica,
E no inventário da matéria rica
Cabe aos seus filhos a maior porção!

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