Soneto da Saudade

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Através da vidraça os olhos já não alcançam
o horizonte em detalhes acinzentados,
descortina-se lá fora a visão da liberdade,
embora ali dentro existam braços acorrentados

Sobre a mesa simples a louça especial,
ornando com a toalha de renda branca e linda,
tingida por pétalas de flores caídas,
apenas lembranças, outra tarde quase finda...

O corpo transpirou e quase dormente
deixou agitar o coração em desarmonia,
n'alma os sonhos, aos poucos, sucumbiram...

Percebeu grande vazio, tão de repente !
flutuando nesse escuro vácuo de agonia,
ao amor que se ausentou, lágrimas surgiram...

Cantemos pois (fragmento dos Três Contos)

Trôpego à esmo em labirínticas vielas.
Corpo em espasmos devido à frialdade.
Pensamentos inconsistentes à realidade,
São lindas pinturas de feias aquarelas.

São olhos que vêem qual anjo o algoz.
O qual tece a arte tão bem aceita,
"se há o plantio tem de haver a colheita ",
E deixam aos deuses a vergonha por nós.

E choram um brado de ignota agonia.
Se sofrem é de uma mental patologia.
Prefiro a poesia que há no caixão.

Deita ao lixo tua bela sinfonia.
Guarda teu canto, amante da hipocrisia.
Chegada é a hora de cantarmos podridão.

Versos Podres - fragmento dos Três Contos

Quão podres são estes meus versos,
Que quando os recito me vêm ânsias de vômito.
Após o término revivo atônito,
Outrora felizes, momentos perversos.

Me vêm à tona pensamentos submersos,
Estando desperto ou num sonho cômico,
Peço mais um litro de meu forte tônico.
Nos meios que busco tenho resultados inversos.

E o quanto peço, e à quem peço nem sei mais.
Vejo-me abandonado em labirintos desconexos.
Não sou ator e nem participo de meios teatrais.

E me acho nestes sonhos não-complexos,
Pesaroso pelos sonhos não serem reais.
E constato quão podres são estes meus versos.

Confissões Profanas

Tudo que te peço é um segundo;
Para poder dizer o que sinto;
Se digo que a amo,não minto.
Sei que você sabe lá no fundo.

Até agora venho escondendo;
Pois tenho medo de levar um não;
Se não sentires o mesmo,eu entendo;
Não há tempo,começarei a confissão:

Como eu,ninguém jamais te amará;
De longe admiro teu sorriso;
Porém sei que meu,ele nunca será;

Uma chance é tudo do que preciso;
Em algum momento você perceberá;
Não suportava ser só amigo.

TUA LUZ

Nas multicores de tão bela pintura
Busca minh'alma, ao distinto olhar
O que a bem descreve em candura
E com seus encantos a faz brilhar

Seria loucura essa tal procura?
É sinfonia a magia desse sonhar
Que no ritmo das linhas sela a jura
Da estrada de estrelas juntos trilhar

A lançar semente, ver nascer a flor
Nos jardins da vida revelar o amor
Abrir o peito aos matizes da beleza

Pois de todos os tons é o da pureza
Que Ilumina a face no brilho a oferecer
Clara luz, clara alma...eterno amanhecer.

Sob a Via Láctea,
Vou te beijar intensamente.
Vou te beijar e beijar e beijar,
E vamos dançar... até o anoitecer.

E vamos dançar... e dançar e dançar,
Tocando a nossa música preferida.
Ouvir "Sixpence None" a noite toda,
Vou te beijar... e beijar e beijar.

Até os vagalumes vão dançar,
Sob a fenda lunar,
Que para nós está mais brilhante!

E vamos nos beijar, dançar e cantar,
Lua abençoando-nos nesta loucura,
Do soneto que canto à tua ternura!

AMOR ETERNO AMOR

À todo este amor sofrido serei devota
Mesmo que minhálma doa eternamente
Mesmo que não torne a ver a gaivota
A beijar as ondas do mar azul novamente.

Em teu favor escreverei todas as poesias
Que um dia sonharam os grandes bardos
Por ti meu amor, minha vida não será vazia
Faço de minha dor meu poema mais sagrado...

As primaveras virão e irão placidamente
Bordando rugas no meu rosto de margarida
Mas te amarei sempre. Incansavelmente!

E não direi nunca que por te amar fui triste
Antes guardarei o riso que um dia trouxe
Nada saudade do beijo que sempre existe!

Elisa Salles
( Direitos autorais reservados)

Me sinto mal quando olho para o horizonte
E me lembro pelo que me fez passar,
Mas já passou né? tanto faz.
E você não admite, ta certo você ainda mais linda.

Eu não quero ter você aqui mas sinceramente eu necessito.
Você não me quis... ainda sinto falta de você,
penso e retorno a mim, meu amor não me ajude.
E então olho para frente

E vejo o resto da minha vida
E vejo quanto tempo perdi te esperando.
Pensando em você

Mas não quero mais
Quando olho ao horizonte
A vastidão me acalma

Hoje escutei aquela musica
Me Recordei dos Maravilhosos
Momentos curtos e pequenos
Que muito breve passamos juntos!

A TERCEIRA LÁGRIMA

Se o homem destemido jamais chora
Eu digo que até Deus pode chorar
Pois já que tudo pode, a qualquer hora
Pode também, sentido, lacrimar.

Pois vi, num rosto, a fome da criança
Carente, solitária, numa praça
Todo amargor, toda desesperança
Daquela vida só, fria, sem jaça.

Seus olhos eram vozes a implorar
Era um espelho, a angústia em seu olhar
A refletir, dolente, os olhos meus.

Sem entender o senso do destino
Vi merejar nos olhos do menino
Plácida e triste a lágrima de Deus!

Oldney Lopes©

TOLICES

"Todas as cartas de amor são ridículas"
Pessoa bem o disse, com razão
Uma fala de amor é uma gotícula
No mar revolto e turvo da paixão

Pior quando há palavras de ironia
Camuflando os agrores do ciúme
Instigando o torpor de uma agonia
Que surge, imotivada, num queixume

Prefiro então ridículas tolices
Declarações, ainda que mesmices,
Palavras ternas de doce sabor

Então desejo pois de minha amada:
Se para me dizer não tem mais nada
Diga-me ao menos tolices de amor!

ELA

Ela me afoga, ela me traz à tona
Ela me me mata e traz de volta a vida
Ela me acolhe e cuida e me abandona
Prende, encurrala e mostra-me a saída

É ela quem acende a luz nas noites
E apaga a escuridão no amanhecer
E acaricia-me com seus açoites
E me maltrata com seu bem-querer

É ela a minha musa mais dileta
Ela é meu rio: curso, leito e borda
É ela o meu trajeto, a curva, a reta

Que guia-me nos sonhos e me acorda
Que quando estou vazio me completa
E que quando estou pleno me transborda!

Oldney Lopes©

INDIZÍVEL

Pobre incapaz, nosso vocabulário
Que tenta definir o que é o amor
Jamais o encontrará no dicionário
Quem nunca houver provado o seu sabor

Amor nunca se explica com palavras
É mais do que a maçã, mais que a serpente
Amor é amo e faz de almas escravas
Amor é servo e serve a quem o sente

Amor é assim: princípio, meio e fim
Raiz e solo, orvalho e flor, jardim
É dupla eternidade em todo agora

Vida de dois em um, da carne ao pó
Dois corações pulsando como um só
Uma só alma, que em dois corpos mora!

Oldney Lopes©

FUGAZ

Amor de sonho e vida e de esperança
Que por ventura e gáudio logrei tê-lo
Foi sonho e vida que curtí com zelo
Com esperança firme e confiança

Mas triste é amor que morre em tenra idade
Que é de um sonho, quando cessa o lume?
Que é da vida, evolado o perfume?
E da esperança, cessada a vontade?

Percebo deste amor o esvoaçar
Enevoar, perder-se na distância,
E dissipar-se em prantos eternais

É sonho - esvaído ao despertar
É vida - envelhecida já na infância
Esperança - chamada nunca mais!

Oldney Lopes©

DESDÉM

Já não espero mais pelos carinhos
E muito menos peço por amor
Já percebo, nas flores, mais espinhos
E vejo sombra onde foi esplendor

Tudo o que peço agora é atenção
Um "bom dia", um "boa noite", um "tudo ok"
Presença que me extirpe a solidão
Uma resposta, um gesto ou um "não sei"...

Prefiro um rude não ao cruel desdém
Quando só peço um doce querer bem
Rogo atenção e espero, paciente

Mas eis que essa alma, fria como um gelo,
Ignora e menospreza o meu apelo
Nem se cala, nem nega e nem consente!

ESPADA E FLOR

As palavras, ditosas e benditas,
São também como espadas ou navalhas
Podem ser as derrotas nas batalhas
Ou grande trunfo quando não são ditas

Cultivar o silêncio como flor
E cuidar de calar mais que dizer
Resulta triunfar mais que sofrer
Confere mais alívio do que dor

O silêncio é uma jóia preciosa
Sutil como uma pétala de rosa
Mas firme nas contendas mais renhidas

Assim se escolhe entre ter gáudio ou dor:
Ser do silêncio seu amo e senhor
Ou servo das palavras proferidas!

Oldney Lopes©

NA MADRUGADA

É madrugada, sei que estás dormindo
Talvez sorrindo, alegre, no teu sonho
E me ponho a pensar se choro ou brindo
Se é lindo o teu sonhar ou se é tristonho

Queria estar morando em tua mente
No que sentes ou pensas, no que sonhas
Mas nas tristonhas horas, num repente
A serpente do ciúme me abocanha

Sonha comigo, amor, pois me apavora
Pensar que no teu sonho um outro mora
Sonha sonhos de amor, não te envergonha

Mas como não pedir, neste queixume,
Se até dos sonhos teus sinto ciúme
Sonha comigo, amor, ou nada sonha!

Oldney Lopes ©

CONSTELAÇÃO

Sem ti sou um epíteto do nada
Refuljo toda vez que te aproximas
Olhando o céu na noite enluarada
A tua imagem doce me sublima

Quando acordo sem ti fico tristonho
Se te busco no início estás no fim
Se me ponho a dormir estás no sonho
Como fujo de ti, se estás em mim?

Olhar-te como estrela é minha sina
És como o sol que brilha e me ilumina
Como uma lua em todo o seu clarão

Mas não podes, se a noite se insinua,
Ser sequer o meu sol ou minha lua
Pois que já és minha constelação!

CRIVO

Não meça a vida pela duração
Em anos, meses, dias ou em horas
Mas pela intensidade em cada ação
Que faz do seu viver soma de "agoras"

Pois resta após as voltas dos ponteiros
Da ampulheta esgotada toda a areia
O que se produziu pelos canteiros
Plantios, sementeiras e colheitas

Perceba que em essência amor é vida
E o tempo cronológico é um crivo
Que faz a vida em vão se esvaecer

Então abane o pó, sopre a ferida
Tente viver bem mais do que estar vivo
Cuide de amar bem mais do que viver

Oldney Lopes ©

A VOZ DO TEU OLHAR

Sou um sagaz leitor dos olhos teus
Se usas das palavras como escudo
Trazes na fala a pez de densos breus
E pondo-te calada diz-me tudo

Sei ler o que não dizes, quando falas
Ouço o que calas, pelo teu olhar
Não derrames a voz então nas valas
Das tentativas vãs de te explicar

Entre teu doce olhar e a voz aguda
Enxergo em tua fala uma alma muda
Escuto em teu olhar a voz da fada

Na voz improdutiva, o olhar é lavra:
Dizes no olhar bem mais que mil palavras
Com mil palavras não me dizes nada!

Oldney Lopes©

⁠CANTO II

Janela d'alma, visão
Íris líquidas pingantes
Longe, longe, coração
Ah, distâncias distantes.

Na ronda teu juízo
Envolto em madeira e terno
No bosque paraíso?
Na floresta inferno?

Se com luz,
Voo alto
Asas de Ismália.

Se na cruz,
Não falto
Mortalha.