Soneto da Falsidade de Vinicius de Moraes

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Mesmo sem querer fala em verso
Quem fala a partir da emoção

Os rios

Os rios que eu encontro
vão seguindo comigo.
Rios são de água pouca,
em que a água sempre está por um fio.
Cortados no verão
que faz secar todos os rios.
Rios todos com nome
e que abraço como a amigos.
Uns com nome de gente,
outros com nome de bicho,
uns com nome de santo,
muitos só com apelido.
Mas todos como a gente
que por aqui tenho visto:
a gente cuja vida
se interrompe quando os rios.

João Cabral de Melo Neto
Morte e vida severina. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.

Como aceitara ir
no meu destino de mar,
preferi essa estrada,
para lá chegar,
que dizem da ribeira
e à costa vai dar,
que deste mar de cinza
vai a um mar de mar;
preferi essa estrada
de muito dobrar,
estrada bem segura
que não tem errar
pois é a que toda a gente
costuma tomar
(na gente que regressa
sente-se cheiro de mar).

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato
O amor comeu meus cartões de visita
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minha dieta
O amor comeu todos os meu livros de poesia
O amor comeu meu Estado, minha cidade
O amor comeu minha paz, minha guerra, meu dia e minha noite
Meu inverno, meu verão
Comeu meu silencio, minha dor de cabeça
O meu medo da morte

Tal como o espaço vazio numa pintura, o tempo em que nada acontece tem seu propósito.

Rosa branca se diverte
Pétalas no vento
Imitam a neve.

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho e nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Eduardo Alves da Costa

Nota: Trecho do poema "NO CAMINHO, COM MAIAKÓVSKI", muitas vezes erroneamente atribuído a Vladimir Maiakóvski. O poeta Eduardo Alves da Costa garantiu que Maiakóvski nada tem a ver com o poema, na Folha de São Paulo, edição de 20.9.2003.

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O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém.

William Shakespeare
O Mercador de Veneza (1600).

Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são.

O homem de palavra fácil e personalidade agradável raras vezes é homem de bem.

De vez em quando precisamos sacudir a árvore das amizades para caírem as podres.

Sempre notei que as pessoas falsas são sóbrias, e a grande moderação à mesa geralmente anuncia costumes dissimulados e almas duplas.

Muitas vezes as coisas que me pareceram verdadeiras quando comecei a concebê-las tornaram-se falsas quando quis colocá-las sobre o papel.

Quanta tristeza
Há nesta vida
Só incerteza
Só despedida

Vinicius de Moraes
Álbum "Elizete interpreta Vinicius"

Nota: Trecho da letra da canção "Ai de Quem Ama", composta por Vinicius de Moraes e Nilo Queiroz.

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Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Ah, se eu pudesse dizer tudo que tenho trancado aqui no peito.
Mas não posso.
Eu não posso nem chorar.
Eu acho que, se eu chorasse, iam sair pedras dos meus olhos.

Vinicius de Moraes
Teatro Em Versos

São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão principalmente
Quando uma lua chega de repente
E se deixa no céu, como esquecida
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher...

Vinicius de Moraes

Nota: Trecho do soneto de Corifeu, que faz parte da peça "Orfeu da Conceição"

Um dia nossos filhos verão aquelas fotografias e perguntarão:
quem são aquelas pessoas?
diremos que eram nossos amigos
E isso vai doer tanto...

Aula de piano

Depois do almoço na sala vazia
A mãe subia pra se recostar
E no passado que a sala escondia
A menininha ficava a esperar
O professor de piano chegava
E começava uma nova lição
E a menininha, tão bonitinha
Enchia a casa feito um clarim
Abria o peito, mandava brasa
E solfejava assim:

Ai, ai, ai
Lá, sol, fá, mi, ré
Tira a não daí
Dó, dó, ré, dó, si
Aqui não dá pé
Mi, mi, fá, mi, ré
E agora o sol, fá
Pra lição acabar

Diz o refrão quem não chora não mama
Veio o sucesso e a consagração
Que finalmente deitaram na fama
Tendo atingido a total perfeição
Nunca se viu tanta variedade
A quatro mãos em concertos de amor
Mas na verdade tinham saudade
De quando ele era seu professor
E quando ela, menina e bela
Abria o berrador
Ai, ai, ai,
Lá, sol, fá, mi, ré

Vinicius de Moraes
Álbum "A arca de noé"

Nota: Música composta por Vinicius de Moraes e Toquinho

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DA PRIMEIRA VEZ ELA CHOROU....

...mas resolveu ficar.
É que os momentos felizes tinham deixado raízes no seu penar.
Depois perdeu a esperança, porque o perdão também cansa de perdoar.