Somos Passaros de uma Asamario Quintana
Atirar-se para o conflito com sucesso, saindo da zona de conforto, exige tempo de reflexão, o mesmo de descompressão de um mergulhador.
No casarão, ele, de um silêncio aterrador e um gato com olhar de interrogação que desaprendeu a miar.
Você tem dúvidas de que há um grande amor na vida de cada um?
Vai chegar o dia em que terá certeza de que aquela pessoa é esse amor.
Quando estiveram juntos brigaram muito, desconfiaram um do outro, choraram. O coração apertava se sabia dele(a) com outra(o). Todas essas vezes você quis sair definitivamente do relacionamento sofrível. E um dia você conseguiu.
Nas baladas e em conversas com amigos(as), tentava se convencer de que fez a coisa certa e de que a liberdade era muito gratificante. Então saiu por aí beijando muitas bocas, conhecendo outros corpos e dormindo em camas diferentes. E você foi feliz durante um tempo, ou quase feliz.
Mas aí, de quando em quando, você se lembra do(a) ex; sente vontade de compartilhar algo com ele(a), uma bobagem (um filme, o Oscar, uma luta UFC, algo da política); desejaria lhe contar do curso que está fazendo, da viagem, da chateação no trabalho ou da briga com o(a) melhor amigo(a).
Essas lembranças vão passar, e o alívio de não estar mais com aquela pessoa vai novamente lhe fazer bem. Entretanto, depois de uns dias ou meses, ou anos, um simples lanche vai fazer você se lembrar de novo da figura. Você terá uma e outra noite maldormidas sonhando com ele(a) e o resto do dia com uma sensação muito incômoda.
Compreende a enrascada em que se meteu desde que conheceu tal pessoa? Vocês estavam predestinados a envelhecer juntos; porém, em algum momento, um achou que podia viver sem o outro.
E de agora em diante, é isso que deve acontecer. Cada um segue seu caminho. Vai bater saudade, vontade de ouvir a voz e de dar um abraço. Mas não há mais nada que possa ser feito.
Aprendi a duras penas que ninguém nos pertence. Ou as pessoas morrem, ou nos deixam (o que também é um tipo de morte). E não há nada que possamos fazer quando isso acontece, senão sobreviver ao luto.
Em ambas as situações também morremos. E a nós nos parece que um tipo pior de morte - ainda que saibamos que haverá vida um dia.
E quando mortos estamos, a verdade é que os outros não se importam. No máximo um lamento, uma lembrança, uma postagem no insta, um torrão de barro sobre o caixão.
Saber que a vida, ou a morte, da outra pessoa persiste sem nosso consentimento não é motivo de angústia - mas de conforto. De igual maneira, nosso tormento não cativa aos demais nem dói além de nós mesmos...
Porque a vida segue; e a morte, também.
É possível que o amor morra. Mas há também a infeliz certeza de que os restos ficam dentro de nós a nos assombrar. Não passamos, pois, de cemitérios ambulantes.
A maturidade me ensinou que não devo falar tudo o que penso, ou que não devo falar de qualquer forma a qualquer hora. As verdades são temporais. Fatos esclarecidos com a cabeça fria, apoiados na razão e empatia impedem ações levadas pela emoção. É sábio refletir, mudar de opinião e de atitudes também, se preciso.
Quando se tem um sentimento sincero e verdadeiro.
A distância pôr maior que seja não é um obstáculo.
É só um detalhe!