Somos Ligados pelas nossas Alma

Parece, na verdade, que nós nos servimos das nossas orações como de um jargão e como aqueles que empregam as palavras santas e divinas em feitiçarias e em efeitos de magia.

Ao abuso das nossas faculdades físicas sucede a dor; às perversões do espírito seguem o pesar e o arrependimento.

O mundo é o repertório das nossas possibilidades vitais. Não é, pois, algo à parte e alheio à nossa vida, mas é a sua autêntica periferia.

Não é mais fácil encontrar quem chora com as nossas tristezas do que quem se rejubile com as nossas alegrias.

Uma circunstância imaginária que nós gostamos de acrescentar às nossas aflições é acreditar que seremos inconsoláveis.

O mal que fazemos não nos suscita tantas perseguições e ódio como as nossas boas qualidades.

É tão fácil desperdiçar nossas vidas: nossos dias, nossas horas, nossos minutos. É tão fácil existir ao invés de viver. A menos que você saiba que existe um relógio marcando o tempo. Muitos de nós mudamos nossas vidas quando ouvimos o relógio biológico, e decidimos ter filhos. Mas este som é um murmúrio se comparado aos sinos da mortalidade.

O valor de todo o conhecimento está no seu vínculo com as nossas necessidades, aspirações e ações; de outra forma, o conhecimento torna-se um simples lastro de memória, capaz apenas - como um navio que navega com demasiado peso - de diminuir a oscilação da vida quotidiana.

Tiremos das nossas miseráveis virtudes o que devemos ao temperamento, à honra, à opinião, ao orgulho, à impotência e às circunstâncias: que ficará? Pouquíssima coisa.

Nós só conhecemos as paixões dos outros, e o que chegamos a saber das nossas, é deles que podemos aprender.

Na verdade, o cuidado e a despesa dos nossos pais visam apenas enriquecer as nossas cabeças com ciência; quanto ao juízo e à virtude, as novidades são poucas.

Nossas ações terminam sempre por traduzir nossos pensamentos.

Esse método estoico de bastar às nossas necessidades suprimindo os nossos desejos equivale a cortarmos os pés para já não precisarmos de calçado.

Toda a sabedoria consiste em desconfiar dos nossos sentidos e das nossas paixões.

Podemos convencer os outros pelas nossas razões, mas só os persuadimos com as deles.

A razão, já tão insuficiente para prevenir as nossas infelicidades, ainda mais o é para nos consolar delas.

Os nossos desejos ocupam maior espaço do que as nossas necessidades.

Porquê dar conhecimento das nossas opiniões? Amanhã, podemos ter outras.

Nossas vidas não são nossas. Desde o útero até ao túmulo, somos ligados a outra pessoa. No passado e no presente. E com cada crime e cada boa ação fazemos renascer o futuro.

O nitrogênio em nosso DNA, o cálcio em nossos dentes, o ferro em nosso sangue, o carbono em nossas tortas de maçã… Foram feitos no interior de estrelas em colapso, agora mortas há muito tempo. Nós somos poeira das estrelas.