So Queria ser Ouvido
Talvez
não era depressão
Era só alguém que começou
desistindo de um dia de cada vez,
até que desistir de tudo de uma só vez...
Às vezes
não é depressão.
É só alguns momentos
em que precisamos usar duas
muletas, álcool e música.
Só mostre seus erros a alguém que contribuiu para o seu aprendizado;
Só mostre suas feridas a alguém que contribuiu para a sua cura;
Só mostre seus medos a alguém que contribuiu para sua superação;
Só mostre suas fraquezas a alguém que contribuiu para a sua força;
Só mostre suas derrotas a alguém que contribuiu para a sua vitória;
Só mostre suas dores a alguém que contribuiu para o seu conforto;
Só mostre suas falhas a alguém que contribuiu para a sua evolução;
Só mostre seus anseios a alguém que contribuiu para a sua paz;
Só mostre seus sonhos a alguém que contribuiu para a sua realização;
Só mostre suas tristezas a alguém que contribuiu para a sua felicidade.
SÓ POR HOJE NÃO VOU TOMAR MINHA DOSE DE VOCÊ
Ah como eu queria poder te dizer que te amo!
Que meu coração acelera quando te vejo.
Que fico contando as horas para te encontrar novamente!
Que basta pensar em você para meu dia ficar perfeito!
Que amo cada mensagem que me manda!
Que não largo do celular esperando você me chamar!
Mas eu não posso, preciso preservar meu coração.
Já me declarei, já demonstrei meu carinho.
Mas não mandamos no coração alheio.
Sei que gosta de mim, mas apesar de ter o corpo muito quente, parece que tem um coração de gelo.
Pois se guarda de uma forma, que não se abre por completo.
Você me domina em todos os sentidos.
Lê meus pensamentos, advinha meus passos.
Mas não me diz que o que sinto é recíproco!
Então para não sofrer, vou me guardar!
Vou calar a voz do meu coração!
Como dói!
Eu quando gosto é pra valer, se entro em um relacionamento é de cabeça.
Quero viver tudo exagerado.
Mas nem todo mundo é assim, pena você é um deles!
Todo certinho, com seu mundinho controlado.
O que sei de você? Apenas o que me diz!
Já você tem meu mapa astral na mão, sabe até a hora que to com fome.
Não posso mais te dizer pessoalmente, por isso escrevo para deixar registrado.
É tanto amor aqui dentro do meu peito, que preciso de alguma forma de me declarar!
Como eu queria poder viver intensamente todo esse amor!
Um dia de cada vez, será assim, entrei para os apaixonados anônimos!
Como os alcoolatras dizem, SÓ POR HOJE não vou "tomar minha dose de você".
Eu só queria que você soubesse que no meu corpo, além de carne e osso, tem um coração querendo que me amasse.
A verdadeira felicidade consiste em viver a justiça. Só assim a pessoa tem consciência tranquila, e não se sente reprovada nem por si mesma, nem pelos outros.
(nota de rodapé - Eclesiástico 13)
Eu pareço observadora, mas é só desatenção.
Pareço metida, mas é só timidez.
Pareço drogada, mas é só falta de vitamina.
Pareço criativa, mas é só infantilidade.
Pareço grossa com quem eu gosto, mas é só vontade de cuidar.
Às vezes pareço até inteligente, mas é só sorte.
Acabei de descobrir que não sou uma pessoa transparente.
Paz é uma mentira, só existe paixão.
Através da paixão, ganho força.
Através da força, eu ganho poder.
Através do poder, eu ganho a vitória.
Através da vitória, minhas correntes são quebradas.
A força me libertará.
RONDÓ DE MULHER SÓ
Estou só, quer dizer, tenho ódio ao amor que terei pelo desconhecido que está a caminho, um homem cujo rosto e cuja voz desconheço.
Sempre estive duramente acorrentada a essa fatalidade, amor. Muito antes que o homem surja em nossa vida, sentimos fisicamente que somos servas de uma doação infinita de corpo e alma.
O homem é apenas o copo que recebe o nosso veneno, o nosso conteúdo de amor. Não é por isso que o homem me atemoriza, quando aqui estou outra vez, só, em meu quarto: o que me arrepia de temor é este amor invisível e brutal como um príncipe.
Quando se fala em mulher livre, estremeço. Livre como o bêbado que repete o mesmo caminho de sua fulgurante agonia.
A uma mulher não se pergunta: que farás agora da tua liberdade? A nossa interrogação é uma só e muito mais perturbadora: que farei agora do meu amor? Que farei deste amor informe como a nuvem e pesado como a pedra? Que farei deste amor que me esvazia e vai remoendo a cor e o sentido das coisas como um ácido? É terrível o horror de amar sem amor como as feras enjauladas.
É quando o homem desaparece de minha vida que sinto a selvageria do amor feminino. Somos todas selvagens: são inúteis as fantasias que vestimos para o grande baile. Selvagem era a romana que ficava em casa e tecia; selvagens eram as mulheres do harém, as mais depravadas e as mais pudicas; selvagem, furiosamente selvagem, foi a mulher na sombra da Idade Média, na sua mordaça de castidade; mesmo as santas - e Santa Teresa de Ávila foi a mais feminina de todas - fizeram da pureza e do amor divino um ato de ferocidade, como a pantera que salta inocente sobre a gazela. E selvagem sou eu sob a aparência sadia do biquíni, olhando a mecânica erótica de olhos abertos, instruída e elucidada. Pois não é na voluntariedade do sexo que está a selvageria da mulher, mas em nosso amor profundo e incontrolável como loucura. O sexo é simples: é a certeza de que existe um ponto de partida. Mas o amor é complicado: a incerteza sobre um ponto de chegada.
Aqui estou, só no meu quarto, sem amor, como um espelho que aguarda o retorno da imagem humana. O resto em torno é incompreensível. O homem sem rosto, sem voz, sem pensamento, está a caminho. Estou colocada nesse caminho como uma armadilha infalível. Só que a presa não é ele - o homem que se aproxima - mas sou eu mesma, o meu amor, a minha alma. Sou eu mesma, a mulher, a vítima das minhas armadilhas. Sou sempre eu mesma que me aprisiono quando me faço a mulher que espera um homem, o homem. Caímos sempre em nossas armadilhas. Até as prostitutas falham nos seus propósitos, incapazes de impedir que o comércio se deixe corromper pelo amor. Quantas mulheres traçaram seus esquemas com fria e bela isenção e acabaram penando de amor pelo velhote que esperavam depenar. Somos irremediavelmente líquidas e tomamos as formas das vasilhas que nos contêm. O pior agora é que o vaso está a caminho e não sei se é taça de cristal, cântaro clássico, xícara singela, canecão de cerveja. Qualquer que seja a sua forma, depois de algum tempo serei derramada no chão. Os vasos têm muitas formas e andam todos eles à procura de uma bebida lendária.
Li num autor (um pouco menos idiota do que os outros, quando falam sobre nós) que o drama da mulher é ter de adaptar-se às teorias que os homens criam sobre ela. Certo. Quando a mulher neurótica por todos os poros acaba no divã do analista, aconteceu simplesmente o seguinte: ela se perdeu e não soube como ser diante do homem; a figura que deveria ter assumido se fez imprecisa.
Para esse escritor, desde que existem homens no mundo, há inúmeras teorias masculinas sobre a mulher ideal. Certo. A matrona foi inventada de acordo com as idéias de propriedade dos romanos. Como a mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita, muito docilmente a mulher de César passou a comportar-se acima de qualquer suspeita. Os Dantes queriam Beatrizes castas e intocáveis, e as Beatrizes castas e intocáveis surgiram em horda. A Renascença descobriu a mulher culta, e as renascentistas moderninhas meteram a cara nos irrespiráveis alfarrábios. O romancista do século passado inventou a mulherzinha infantil, e a mulherzinha infantil veio logo pipilando.
O tipos vão sendo criados indefinidamente. Médicos produzem enfermeiras eficientes e incisivas como instrumentos. Homens de negócios produzem secretárias capazes e discretas. As prostitutas correspondem ao padrão secreto de muitos homens. Assim somos. Indiquem-nos o modelo, que o seguiremos à risca. Querem uma esposa amantíssima - seremos a esposa amantíssima. Se a moda é mulher sexy, por que não serei a mulher sexy? Cada uma de nós pode satisfazer qualquer especificação do mercado masculino.
Seremos umas bobocas? Não. Os homens são uns bobocas. O homem é que insiste em ver em cada uma de nós - não a mulher, a mulher em estado puro ou selvagem, um ser humano do sexo feminino - o diabo, a vagabunda, a lasciva, o anjo, a companheira, a simpática, a inteligente, o busto, o sexo, a perna, a esportista... Por que exige de nós todos os papéis, menos o papel de mulher? Por que não descobre, depois de tanto tempo, que somos simplesmente seres humanos carregados de eletricidade feminina?
