Sinto falta do meu Passado
Enquanto alguns fabricam deuses que precisam ser levados, o meu Deus é o Criador e é Ele quem me leva nos braços.
Ele é meu alicerce invisível e inabalável. Onde minhas pernas hesitam ou tremem, Sua mão me estabiliza e sustenta.
Nos piores vales, Ele não grita. Ele sussurra ao meu espírito que a minha identidade é maior e mais forte que a dor do meu pranto.
Quando a coragem me trai e se esvai, Sua paz se manifesta, delicadamente, na forma do meu próximo e seguro passo.
Quando o mundo desaba em ruínas ao meu redor, a Sua presença se impõe como um telhado de aço, blindado e que não vaza.
É no silêncio profundo e reverente d’Ele que, ironicamente, meu espírito encontra a voz, recobra o fôlego e se pacifica.
Meu refúgio inegociável, o porto seguro onde a alma se abriga quando a tempestade decide rugir mais alto que a minha voz.
Eu te comparo ao lírio que nasce entre os espinhos do meu medo, a beleza mais pura só floresce onde o perigo tenta impedir o toque.
A doçura de sua boca é a única mirra que meu sono aceita, repousar em seus braços é a única maneira de apagar a aridez da ausência.
Meu coração vigia mesmo quando o corpo dorme, pois sabe que a visão da ausência é a pior das tormentas no silêncio da noite.
Meu rastro na solidão foi a bússola que te trouxe até mim. Nenhuma sombra, nenhum abismo deteve os passos do teu amor. Tu vieste sem cansaço, somente com propósito.
Neste mundo de ilusão, o meu coração de tudo cansou, ansiando por um refúgio de paz em meio à falsidade.
Assim como o orvalho gélido de uma manhã de inverno, a dúvida se instalou em meu coração, fria, silenciosa e com o poder sutil de congelar toda a esperança. O cristal, que parecia belo e puro à primeira vista, era, na verdade, a evidência de uma noite rigorosa que ainda não havia chegado ao fim. Não era um prelúdio de sol, mas a prova de que a vida, por vezes, se detém em sua forma mais dura e intocável.
Carrego dentro de mim batalhas que ninguém viu, mas cada uma delas moldou meu peito como ferro aquecido, não pedi para ser forte, fui obrigado pela vida, e mesmo assim aprendi a amar no intervalo das dores, sou testemunha da minha própria ressurreição diária.
Embora estivesse imerso na minha própria dor, a verdade eu já conhecia no íntimo do meu ser, uma luz que teimava em brilhar através das nuvens da minha tristeza, o conhecimento salvífico de que Jesus morreu por mim um dia no madeiro, essa certeza da Sua entrega, do quanto sofrimento Ele suportou, era o único farol capaz de orientar meu barco em meio à tempestade, mostrando a magnitude de um amor incondicional.
Queima, Jesus. Que Teu fogo atravesse cada sombra do meu ser e transforme em cinza as raízes do ódio e da mágoa. Que o Teu sacrifício caia sobre mim como neve, imaculada, lavando tudo o que me prende. Toca-me com Tua unção mais profunda, que minhas feridas se tornem portas e minhas memórias, cânticos. No Teu amor, faz-me renascer.
