Ruth Rocha Amor
Não tenhas medo,
me diga o que você quer,
porque eu vou te dar o que você quiser.
Quero em teus braços morrer de paixão
me embriagar em teus desejos,
em teus beijos tão meigos.
E numa noite com uma linda lua
me entregar a você, ser toda sua
me permita sentir o sabor de ouvir você dizendo
que me deseja e que quer que eu seja
somente pra ti
quero ser pra você
tudo que sempre quis ter
te causar arrepios, calafrios
com esse meu jeito
que você diz que adora
então corra meu bem pros meus braços
porque eu te quero agora!
Você me hipnotiza, me faz sentir viva. Me olhas tão profundamente que não consigo mais pensar em nada a não ser no teu cheiro e nos teus lábios. Lábios esses que me beijam ora quente, envolvente, ora doce, apaixonante. Mas meu coração tem medo de se abrir, ele ainda está tão machucado, então seja cuidadoso, porque estou caindo em seus braços. Braços esses que me enroscam, que me apertam. Mas seja prudente e não me faça sofrer, doer, correr. Porque tudo que quero é mergulhar em seu corpo. Corpo esse que ora me faz esquecer tudo e ora me excita, grita por seu corpo pesando sobre o meu. Então podes ver os dois extremos? Paixão e medo. Então com esse teu jeito gostoso, dengoso, me faça perder o medo e me entregar a essa paixão de coração. Mas faça valer a pena.
Meu quarto está inundado. De lágrimas, de mágoas e de culpa. Vejo o quanto aprendi e o quanto te ensinei. Mas não há porque voltar, não consigo mais nos ver felizes. Só quero que cada um siga seu caminho sem olhar pra trás, sem enfraquecer. Porque não importa o quanto nós podemos tentar, o quanto podemos nos esforçar, mesmo às cegas, às tontas, mas se não era pra ser, o que se há de fazer?
Meu erro foi pensar que estar ao teu lado bastaria. Eu dizia: prefiro ser infeliz com você do que ser feliz com outra pessoa. Mas a resposta agora é não. Não quero um final feliz, quero uma história completa.
Nunca pensei que fosse tão forte. Nunca pensei que desistir seria o meu ato de coragem. Nunca pensei que conseguiria dizer não. Nunca pensei em lidar com minha culpa. Sim, a culpa. Estava achando difícil quando era meia culpa pra cada um e agora sinto algo apertando meu estômago. Mas o fato é que tenho que enfrentar. Chega de fugas, é hora de levantar a guarda. Se não choramos e não sofremos, então fingimos. E fingir é tão ruim, porque ao invés de sofrer um simples acidente, mais tarde vamos sofrer um engavetamento.
Então chore o que tiver que chorar. Sofra o que tiver de sofrer, mas levante-se, enchugue essas lágrimas e apenas siga em frente.
Nessa manhã tão fria e chuvosa, tudo o que queria eram os teus braҫos pra me proteger e me fazer esquecer todo medo. Com teus beijos, teus carinhos,teu sorriso que me causa outro sorriso, mas pra ser mais preciso me causam algo diferente: uma vontade louca de te ter pra sempre. Sinto que estou ficando veemente, loucamente, perdidamente apaixonada por você. Então não me faҫa sofrer e me tenha desse jeitinho, devagarinho, com carinho, somente pra você.
Me deixa ser eu. Me permita ser e estar. Não precisa me proteger tanto assim, eu quero aprender sozinha, e se isso for ruim, não se preocupe, eu posso mudar. Não quero viver uma vida que não é minha. Apenas me deixe descobrir quem sou.
PAUTA
Eu queria fazer um poema
Assim, métrico
Tenso como um fio elétrico
Para que todos os dias
Os pássaros venham
Pousar, cantar.
Eu queria fazer uma música
Na pauta tensa da rua
Para que todos as noites
A lua venha
Tocar, rebrilhar.
QUINTANA
Escrevo olhando para o céu
O papel é da mesma cor azul
Verde, a caneta, da esperança escrita
E também desenho um pássaro ao léu.
Estou curioso por ver a paisagem enfeite
Misturo tons que me arregalam a visão
Buscando sempre as mesmas descobertas
O céu, é inútil querer dar-lhe outros efeitos.
Brinco com a luz incidente na folhagem
Que pinto e bordo, da cor e do cortado
E que propunha, a poesia, enfeita-se
Desses desmandos de nova linhagem.
Ando volátil como o ar rompido
Que acolho e beijo em minhas mãos aos poucos
E me permito voar com ele aos pedacinhos
Aí nessa folha como tenho sido.
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naeno*comreservas
CANTADOR
Às vezes os olhos se entregam
Lembrando momentos de plena dor.
Enquanto o coração segreda
Lindas palavras de amor.
Distante a paisagem dorme
Parada sem nem um brilho
A dizer que o tempo passa
E tudo fica pequeno
É quando a luz
Revela a campina bela
Numa aquarela sem cor.
E as vezes nada toma importância
E do nada se vê uma tela
Preenchida de vazio
Do que veio a não ser falado
Um estio esvaziando a claridade.
Adiante um sabiá
Canta, enchendo o tempo real
De verde tingido o chão
Que anseia pingos de frio
Prefere dormir lá fora
Solando pelas narinas
Em grosso e moderado tom
Cantigas que retoquem a vida.
Naeno* com reserva de domínio
É MESMO ASSIM
Quando tentamos entender a vida
Arriscamos-nos ao precipício de uma estrela cadente
Que perde o seu rumo
E caminha no escuro
Perdida a luz das outras.
Quem ao deslembrar saber de si
Indica a persuasão do alheio
Da vida de outros, quem?
Mergulhado em seu mar longo
Encontra o sentido que os outros navegam?
Sabemos ainda de nós, mas não sabemos do nada
E é ausência o que somos
Quando convictos disto
Conseguimos avistar uma fresta
Ainda incapaz de caber nossa visão
Somos esses passageiros sem rumo
Ciganos do cosmos estrelas desgarradas
Ora estamos em nosso perfeito sentido
Quando nos julgamos errantes
Momentos depois dentro da vida
Convencemos-nos que ela engana.
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Naeno*com reservas
SINAIS DE BELEZA
Solitário, meu modo,
No meio das multidões de faroleiros
Afasta-me, andando para qualquer canto
Que ali marcava o limite entre o que ouço
E o que não mais posso ver.
Um lugar ermo, uma parte da terra coberta
De gramíneas novas
Meus sonhos, minhas fantasias de qualquer dia.
Daí a vista dela por vezes incontáveis.
Ela estranha o povaréu
Fora como todos,
Largada à parte pelo mutirão.
Estava de pé recostada a um tronco morto
E olhava-me.
Era de uma beleza incomum
De olhos negros e um cabelo solto
Fino, puro negrume
O que facilitava a minha visão
Assentar-se sobre o brilho
Ponto feito pelo sol.
Eu era um animal de raça
Que a mirava intensas vezes
Como se figurasse uma bela
Mas perigosa efígie da beleza
Quente alentada, mas, ao mesmo tempo
Sublime e intensamente mulher.
Olhava-a como se a mim
Ela tivesse dado algum sinal
Comunicado algo de seu fulgor.
Já a reconhecera
Já a olhava por toda a minha vida.
Vi naquilo um sinal do meu destino.
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naenorocha*comreservas
EU E ELA
Lá fora o luar continua
Sinal de que as nuvens
Amanhã ganharão um dia.
Mas só amanhã.
Hoje ainda correm frescos
Esses faróis perfurantes.
E o dia e a noite
São de nós.
Eu aproveito a presença da lua
Para ser romântico e lunático.
Uivo como lobo,
Um lobo estático
Sobre um cume quieto
Um cupinzeiro deserto.
Eu aproveito o dia
Para por em dia
A noite indormida,
Dos sonhos com crocodilos
Uma ameaça distante,
Que é só do inverno.
Mas eu antecipo as chuvas,
Para não fazer de dia
O que se mais detesta,
Tomar café,
Sentar no alpendre,
Ir para o almoço
Fazer a cesta.
E quando eu olho
Para o relógio incerto,
Vejo que ainda há tanto tempo
Pra que a noite venha,
E eu me junte a ela,
Amaciando ela,
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naeno*com reservas
TEAR
Enquanto eu faço um poema eu te descrevo
Como se não te conhecesse
E meus olhos prego em ti.
Tudo eu lamento na minha poesia
E tudo sai na alegria de tua boca rindo.
Queres uma prova de amor?
Eu ando sobre as brasas.
A caneta dança uma interminável valsa,
E de nós quem rodopia,
Quem tem a autonomia nos pés
És tu. tutora de tudo o que aprendi.
Enquanto sonho tu acordas
Para fazer de mim teu mimo
Teu cãozinho novo, tua maquiagem.
E eu aprendi o que me ensinastes,
Nunca olvidar aprendi também.
Graças a ti, poesia feita agora,
Minhas verdades de outrora
A vida contigo, pode dizer-se eterna.
Sem ti é tudo um desmantelo.
Enquanto eu teço o verso
Tu urdes em minha cabeça
Um templo de bombardeios,
Das tantas guerras,
Que comemoramos o seu final.
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naeno*com reservas
A BOCA DA LOBA (09)
O que a boca fala
Com a cumplicidade dos dentes
Porteiras de saídas e de entradas,
O coração se atemoriza.
E rebate na palavra, esgrima.
A boca não tem a contensão
Do coração.
De ficar calada,
Quando sente o gosto bom
E ácido que leva o fermento dentro.
Bocas que eu beijei,
E as que só sonhei beijando,
Pintaram-me dentro e fora,
Na alma e na gola.
Com marcas de ferros,
Quando dobraram a minha vida.
Sonho com cada uma
E sofro por todas elas,
Sinto os sabores dessas bocas
Em minha língua provadora.
Ah, tua boca, a minha boca agora.
Puxo pela memória,
Mas eu nunca senti nenhuma
Doce como a tua,
Dos formatos da lua,
Quando está cheia,
Quando declina minguando,
E quando vai se levantando
Pros meus olhos escurecerem.
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NAENO*comreservas
