Ruth Rocha Amor
Eles vão vir com tudo pra cima de você, mas não deixe que farejem seu medo. Fique firme como uma rocha.
Quando soube o tamanho do amor que a sua namorada lhe prometera, o menino rapidamente ao papai do céu perguntou: Papai do céu, como eu faço para retribuir tanto amor e carinho que recebo da minha namorada? Alguns dias depois, ele recebe uma carta com umas anotações. O pequeno rapaz tratou de ler e, com o passar das linhas, percebeu que a carta era para outra pessoa, endereçada a uma casa que ficava uns dois quarteirões a frente. O menino, ficou espantado, pois a carta era embebida de palavras ásperas e grossas, algo um tanto diferente do que lhe foi ensinado até então. A leitura era fascinante, parar de ler já não fazia parte dos planos do garoto. Já no final das palavras ele pôde ler: "E apesar de tudo, eu a amo!", confuso, o jovem, não entendia como a vida funcionava, aliás, ele próprio a princípio só queria retribuir à altura o amor e carinho que sua namorada lhe dava. Ainda sem respostas, ele continuou, até que o carteiro, com a real endereçada, bateram em sua porta, chamando por seu nome. Ele, assustado, foi atender a porta. A mulher em prantos perguntava pela carta. O menino disse a ela que se verdadeiramente amasse o marido não haveria motivos para ler a carta, pois o conteúdo era ofensivo e que talvez ela não gostasse. A mulher explicou que o amor é um sentimento invisível como o ar, mas se faz sentir quando encontramos a pessoa certa, como o vento que balança árvores, ele será grande e forte quando houver afinidade. Por isso, quando encontramos uma pessoa que nos completa, temos que agir de forma elegante e retribuir tudo aquilo que recebemos. A partir desse dia, o menino começou a dar presentes sem motivos, fora das datas festivas, passou a ser mais calmo e compreensivo, passou também a elogiar mais e mais a beleza da sua amada, passou a amá-la cada vez mais, pois descobriu que o verdadeiro sentido do amor está na retribuição e que ser amado é lindo, mas retribuir esse amor é o gesto mais puro e nobre que um ser humano pode realizar.
“Ela se foi... E com ela seu sorriso!
Amor grande assim nunca se viu
Por tamanha saudade ele chora
Coração em pedaços ficou
A casa da paixão ele não mais abrigou.”
"Indaga(a)ções"
Distäncia?
Porém constância...
Impossibilidade?
Mas apego a verdade...
Obstáculos?
Podem ser superados...
Desânimo?
Estou contigo...
Tempo?
Espero-te...
Cair?
Eu te levanto... Tu me levantas...
Oposição?
Perseverança...
Sofrimento?
Acalento-te...
Lágrimas?
Eu as enxugo...
Tudo isso enfrentar?
Só se houver um grande “AMAR”.
(Ruth)
“Ainda que eu falasse a língua dos
homens e dos anjos,se não tivesse amor
nada seria.”(Bíblia)
“O amor tudo sofre, tudo crê ,tudo espera,
tudo suporta”(Bíblia)
JOSÉ
E agora, José?
A copa acabou,
a luz não pagou,
o juro subiu,
o boleto expirou,
e agora, José?
e agora, você?
Você, que é um número,
só um entre tantos
Você que faz empréstimos,
que compra, ostenta?
e agora, José?
Está sem sindicância,
está sem recurso,
está sujinho,
já não pode efetivar,
já não pode parcelar,
discutir já não pode,
a inflação aumentou,
o reajuste não veio,
o concurso público não veio,
o hexa não veio,
não veio a aposentadoria
e a corrupção dominou,
a justiça aboliu,
dr Enéas morreu,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce jornada,
seu direito de férias,
sua multa de rescisão,
sua Unimed,
sua bolsa de estudo
seu seguro desemprego,
sua gratificação,
seu 13°, - e agora?
Com direito a escolher
quer eleição,
não existe eleição;
quer votar,
mas o golpe forjou;
quer atravessar a fronteira,
O Sem fronteiras não há mais!
José, e agora?
Se você implorasse,
se você concordasse,
se você aumentasse,
a hora extra,
se você negociasse,
se você mendigasse,
se você protestasse...
Mas você não faz greve,
você tem orgulho, José!
Dobrando o turno
Qual um escravo,
sem segurança
sem hora almoço
para descansar,
sem conta poupança
que desafogue,
você tributa, José!
José, para quem?
Um brinde as sardas; as espinhas; e ao ovo frito.
Um brinde a frivolidade caiada.
Quero uma selfie do meu quarto revirado, do meu look em dia de faxina.
Um brinde ao volume do cabelo, e ao pão com tomate.
Um brinde a cereja que eu roubei do bolo, e ao bolo que levei da vida.
Um brinde as meias rasgadas, e um brinde ao pinhão que esmaguei no dente.
Vamos brindar os que se assumem apaixonados, e brindar aquele presente improvisado.
Um brinde ao amor perdido, ao aniversário esquecido.
Um brinde ao mendigo!
Sem desculpas, culpas e negações.
Vamos brindar a pele ressecada, e a conta negativada.
Brindemos a realidade das coisas, da vida, dos sentimentos, da sorte.
Traga lá um chimarrão! Vamos brindar de cuia, que o vinho anda muito caro.
Seja! Seja o que quiser ser, seja! Seja sua melhor versão. Aprecie a vida, mas aprecie com razão e não com emoção! Seja.
Estágio:
Substantivo masculino singular.
É aquele período depressivo e inevitável que assemelha-se a TPM.
"Não deixe que o medo de falhar te impeça de tentar, pois é na tentativa que encontramos a coragem para alcançar nossos sonhos."
Não se cobre tanto
Pegue leve com você
Perdoe os seus deslizes
Aceite as suas crises
Não seja tão responsável
Falhe quando puder
Fuja quando esgotar
Não há vergonha nenhuma
Em, de vez em quando,
Admitir que é preciso parar
Majestosa araucária
Janela para a alma era te ver assim
Soberana
Arranhando os céus
Mas o progresso não para araucária velha
A cidade quer ser vertical
Majestosa araucária velha
Não mais majestosa
no meu horizonte de brisa fresca
Não mais soberana entre o dourado céu
Destronada, súdita e vencida
Teu destino breve e inevitavelmente será horizontal.
QUEM DEIXOU MEUS PAIS ENVELHECEREM?
Meus pais não são velhos. Quer dizer, velho é um conceito relativo. Aos olhos da minha avó são muito moços. Aos olhos dos amigos deles, são normais. Aos olhos das minhas sobrinhas, são muito velhos. Aos meus olhos, estão envelhecendo. Não sei se lentamente, se rápido demais ou se no tempo certo. Mas sempre me causando alguma estranheza.
Lembro-me de quando minha mãe completou 60 anos. Aquele número me assustou. Os 59 não pareciam muito, mas os 60 pareciam um rolo compressor que se aproximava. Daqui uns anos ela fará seus 70 e eu espero não tomar um susto tão grande dessa vez. Afinal, são apenas números.
Parece-me que a maior dificuldade é aprendermos a conciliar nosso espírito de filho adulto com o progressivo envelhecimento deles. Estávamos habituados à falsa ideia que reina no peito de toda criança de que eles eram invencíveis. As gripes deles não eram nada, as dores deles não eram nada. As nossas é que eram graves, importantes e urgentes. E de repente o quadro se inverte.
Começamos a nos preocupar- frequentemente de forma exagerada- com tudo o que diz respeito a eles. A simples tosse deles já nos parece um estranho sintoma de uma doença grave e não uma mera reação à poeira. Alguns passos mais lentos dados por eles já não nos parecem calma, mas sim uma incômoda limitação física. Uma conta não paga no dia do vencimento nos parece fruto de esquecimento e desorganização e não um simples atraso como tantos dos nossos.
Num dado momento já não sabemos se são eles que estão de fato vivendo as sequelas da velhice que se aproxima ou se somos nós que estamos excessivamente tensos, por começarmos a sentir o indescritível medo da hipótese de perdê-los- mesmo que isso ainda possa levar 30 anos.
Frequentemente nos irritamos com nossos pais, como se eles não estivessem tendo o comportamento adequado ou como se não se esforçassem o bastante para manterem-se jovens, vigorosos e ativos, como gostaríamos que eles fossem eternamente. De vez em quando esbravejamos e damos broncas neles como se estivéssemos dentro de um espelho invertido da nossa infância.
Na verdade, imagino eu, nossa fúria não é contra eles. É contra o tempo. O mesmo tempo que cura, ensina e resolve é o tempo que avança como ameaça implacável. A nossa vontade é gritar “Chega, tempo! Já basta! 60 já está bom! 65 no máximo! 70, não mais do que isso! Não avance, não avance mais!”. E, erroneamente, canalizamos nos nossos pais esse inconformismo.
O fato é que às vezes a lentidão, o esquecimento e as limitações são, de fato, frutos da idade. Outras vezes são apenas frutos da rotina, tão naturais quanto os nossos equívocos. Seja qual for a circunstância, eles nunca merecem ter que lidar com a nossa angústia. Eles já lidaram com os nossos medos todos- de monstros, de palhaços, de abelhas, de escuro, de provas de matemática- ao longo da vida. Eles nos treinaram, nos fortaleceram, nos tornaram adultos. E não é justo que logo agora eles tenham que lidar com as nossas frustrações. Eles merecem que sejamos mais generosos agora.
Mais paciência e menos irritação. Menos preocupação e mais apoio. Mais companheirismo e menos acusações. Menos neurose e mais realismo. Mais afeto e menos cobranças. Eles só estão envelhecendo. E sabe do que mais? Nós também. E é melhor fazermos isso juntos, da melhor forma.
Às vezes me flagro imaginando um homem hipotético que descreva assim a mulher dos seus sonhos:
“Ela tem que trabalhar e estudar muito, ter uma caixa de e-mails sempre lotada. Os pés devem ter calos e bolhas porque ela anda muito com sapatos de salto, pra lá e pra cá.
Ela deve ser independente e fazer o que ela bem entende com o próprio salário: comprar uma bolsa cara, doar para um projeto social, fazer uma viagem sozinha pelo leste europeu. Precisa dirigir bem e entender de imposto de renda.
Cozinhar? Não precisa! Tem um certo charme em errar até no arroz. Não precisa ser sarada, porque não dá tempo de fazer tudo o que ela faz e malhar.
Mas acima de tudo: ela tem que ser segura de si e não querer depender de mim, nem de ninguém.”
Pois é. Ainda não ouvi esse discurso de nenhum homem. Nem mesmo parte dele. Vai ver que é por isso que estou solteira aqui, na luta.
O fato é que eu venho pensando nisso. Na incrível dissonância entre a criação que nós, meninas e jovens mulheres, recebemos e a expectativa da maioria dos meninos, jovens homens, homens e velhos homens.
O que nossos pais esperam de nós? O que nós esperamos de nós? E o que eles esperam de nós?
Somos a geração que foi criada para ganhar o mundo. Incentivadas a estudar, trabalhar, viajar e, acima de tudo, construir a nossa independência. Os poucos bolos que fiz na vida nunca fizeram os olhos da minha mãe brilhar como as provas com notas 10. Os dias em que me arrumei de forma impecável para sair nunca estamparam no rosto do meu pai um sorriso orgulhoso como o que ele deu quando entrei no mestrado. Quando resolvi fazer um breve curso de noções de gastronomia meus pais acharam bacana. Mas quando resolvi fazer um breve curso de língua e civilização francesa na Sorbonne eles inflaram o peito como pombos.
Não tivemos aula de corte e costura. Não aprendemos a rechear um lagarto. Não nos chamaram pra trocar fralda de um priminho. Não nos explicaram a diferença entre alvejante e água sanitária. Exatamente como aconteceu com os meninos da nossa geração.
Mas nos ensinaram esportes. Nos fizeram aprender inglês. Aprender a dirigir. Aprender a construir um bom currículo. A trabalhar sem medo e a investir nosso dinheiro. Exatamente como aconteceu com os meninos da nossa geração.
Mas, escuta, alguém lembrou de avisar os tais meninos que nós seríamos assim? Que nós disputaríamos as vagas de emprego com eles? Que nós iríamos querer jantar fora, ao invés de preparar o jantar? Que nós iríamos gostar de cerveja, whisky, futebol e UFC? Que a gente não ia ter saco pra ficar dando muita satisfação? Que nós seríamos criadas para encontrar a felicidade na liberdade e o pavor na submissão?
Aí, a gente, com nossa camisa social que amassou no fim do dia, nossa bolsa pesada, celular apitando os 26 novos e-mails, amigas nos esperando para jantar, carro sem lavar, 4 reuniões marcadas para amanhã, se pergunta “que raio de cara vai me querer?”.
“Talvez se eu fosse mais delicada… Não falasse palavrão. Não tivesse subordinados. Não dirigisse sozinha à noite sem medo. Talvez se eu aparentasse fragilidade. Talvez se dissesse que não me importo em lavar cuecas. Talvez…”
Mas não. Essas não somos nós. Nós queremos um companheiro, lado a lado, de igual pra igual. Muitas de nós sonham com filhos. Mas não só com eles. Nós queremos fazer um risoto. Mas vamos querer morrer se ganharmos um liquidificador de aniversário. Nós queremos contar como foi nosso dia. Mas não vamos admitir que alguém questione nossa rotina.
O fato é: quem foi educado para nos querer? Quem é seguro o bastante para amar uma mulher que voa? Quem está disposto a nos fazer querer pousar ao seu lado no fim do dia? Quem entende que deitar no seu peito é nossa forma de pedir colo? E que às vezes nós vamos precisar do seu colo e às vezes só vamos querer companhia pra um vinho? Que somos a geração da parceria e não da dependência?
E não estou aqui, num discurso inflamado, culpando os homens. Não. A culpa não é exatamente deles. É da sociedade como um todo. Da criação equivocada. Da imagem que ainda é vendida da mulher. Dos pais que criam filhas para o mundo, mas querem noras que vivam em função da família.
No fim das contas a gente não é nada do que o inconsciente coletivo espera de uma mulher. E o melhor: nem queremos ser. Que fique claro, nós não vamos andar para trás. Então vai ser essa mentalidade que vai ter que andar para frente. Nós já nos abrimos pra ganhar o mundo. Agora é o mundo tem que se virar pra ganhar a gente de volta.
