Remorso do Filho Ingrato
Lágrima e sorriso sinceros são como espelhos da vida: refletem no corpo o que a alma sente e ninguém consegue esconder. Seja tristeza ou amor! Felizes são os que conseguem interpretar no outro esses pequenos detalhes.
sexta
deita aqui
deixa eu te ouvir
me deixa descobrir
o que te deixa leve
o que te faz sentir
o peso indo embora
o mundo se partir
em tudo o que já foi
e aquilo que há de vir
o ponto em que o tempo
deixa de fluir
e nada do que foge
te faria desistir
de ficar mais um minuto
de morar pra sempre aqui
deita aqui
deixa eu te olhar
me deixa despertar
o que te torna forte
o que te faz sonhar
sem medo de crescer
com sorte pra errar
com tanto a aprender
e muito a ensinar
com frio na barriga
por restar diminuída
a certeza escondida
de que é melhor voar
deixe o meu abraço
dissipar esse cansaço
que há muito te consome
deixe que esse laço
descortine o espaço
em que o nosso descompasso
já não mais nos aprisione
deixe que o passado
seja apenas um recado
posto à mesa, com cautela
para não retroceder
nem tampouco esmorecer
ante o medo de viver
e abaixar sua defesa
deixa lá
deita aqui
que agora o sol se pôs
deixa eu te ouvir
deixa eu te olhar
deixe só o que for nós dois
Informou-me a bela rosa
com muita sinceridade
que era doce o seu perfume
e discreta a sua vontade
disse ainda que era mito
que eram só pra proteger
sua frágil estrutura
os espinhos em seu ser
pois gostava do poder
que surgia na derrota
do gigante que caía
por sonhar além da conta
mas ainda que eu soubesse
as regras todas do jogo
e não quisesse arriscar
colocando a mão no fogo
cometi um grande erro
ao olhar todo o cenário:
conhecer as consequências
não te livra do calvário
quando pude reparar
o meu sangue já descia
pela inerte flor do campo
que eu achava que sorria
tinha um tom bastante intenso
de vermelho em sua cor
o que sempre teve antes
quando era incolor
tinha a mesma densidade,
sua aparência se mantinha,
nada estava ali mudado
nem ao menos parecia
mas enquanto perfurava
o meu dedo a flor apática
eu só pude me calar
e sentir de forma estática
que era minha a natureza
porque dela eu sempre fui
relembrou-me a flor imóvel
que por mim a vida flui
Você me assusta...
Mas não quando briga
ou grita, explode
os sentimentos
que a gente evita
Nem quando me
olha de lado
querendo evitar
fogo cruzado
Tampouco quando ampara
o muro que separa
o meu e o teu chão
e leve faz a ponte
à linha do horizonte
até que eu te encontre
feliz na contramão
Você me assusta,
mas não quando
desvia o olhar
àquilo que eu
não consigo enxergar
ou quando fala
que me esquece
e depois aparece
como quem não
consegue esperar
Tampouco quando finge
que o mal que nos oprime
é maior que o teu coração
e sai sem dizer nada
fica assim então calada
até ver que à cruzada
não se nega a doação
Você me assusta
por não ter nada de mais
nada além do que me faz
perdoar minha loucura
quando deixo o meu lugar
e te peço pra ficar,
contestar minha censura
Por deixar na tua ausência
um vazio sem consequências
que antes era o meu recanto
por fazer com que a vitória
represente a minha glória
se durante a trajetória
findar-se o teu pranto
Por ignorar o roteiro
que um dia tão certeiro
protegeu o meu caminho
e fazer com que pareça
que a história às avessas
é sempre o melhor destino.
Você me assusta
porque eu volto a ser menino.
Verônica
Ela havia chegado há pouco, e não trazia consigo nada além de empenho e curiosidade. A nova estagiária da redação, assim como a antiga aprendiz, passeava pelo escritório sem que a sua presença fosse notada. De fato, nada entre as atividades que desempenhava poderia ser classificado como essencial ou imprescindível, e somente quando faltava alguém se atrevia a confundir o seu nome.
Mas Olindo não caiu na armadilha que a rotina preparara, e logo percebeu que a nova aquisição da empresa tinha algo que lhe perturbava. Talvez a tranquilidade e a discrição com que ela transitava por um local revestido de exposição lhe desafiassem a veia jornalística, ou quem sabe não se tratasse de alguma qualidade da garota, mas de algo que lhe faltava.
Poderia ser a pouca experiência de vida que lhe impunha a falta de idade, o silêncio de cada palavra que não saía da sua boca ou a ausência de um traço característico, uma identidade. O mistério crescia na cabeça do jovem redator, e apesar de não conseguir lhe tirar o sono, a busca por respostas sempre foi um prazer ingrato que nunca encontra fim.
Dois meses após a entrada dela no jornal, Olindo reparou que, pela primeira vez, a moça usava uma blusa de mangas curtas. Não deu grande importância, afinal, não entendia conceitos de moda e muito menos sabia a forma como as pessoas se expressavam através do vestuário. Entretanto, a diferença de estilos lhe chamou a atenção, pois era, até então, a única mudança perceptível.
Dias depois, durante o horário do lanche, ele foi até a cozinha da redação pegar um café para mandar embora o sono. Enquanto apertava o botão da garrafa para encher o copo plástico que tinha nas mãos, perdeu-se por um minuto olhando pela janela e descuidou-se a ponto de queimar o dedo indicador. Quando virou-se para olhar a queimadura e sussurrar um palavrão, notou a presença da estagiária na copa, conversando com Roberta, que não era conhecida pelo bom humor, mas olhava de forma esperançosa para a amiga.
- Agora você pode ter uma vida normal, finalmente vai conseguir enxergar a beleza das pequenas coisas! Aproveite que ele saiu do caminho de vocês, e tenha só pensamentos e ações positivas!
Olindo ia para sua sala tentando juntar a nova peça à trama que tinha construído, quando Verônica lhe deu um sorriso. Foi o sorriso mais tímido que alguém poderia dar. Aquele em que as bochechas se inflam de vermelho, e o corpo se retrai ao mesmo tempo em que a alma aparece.
O quebra-cabeças estava incompleto, mas nada mais faltava.
Carta a uma ovelha
Há muito me questiono sobre o que me atormenta...
Que não recaiam sobre a minha cabeça o título de cético
Ou as baratas ironias dos manipuladores da verdade:
A fé que move montanhas aquece o meu espírito;
Os templos que louvas abrigam a arte em que mergulho;
Os versos de que tu necessitas, mesmo que despidos de significado,
São proferidos em nobre oratória;
A força com a qual defendes teus princípios faz até grandes mestres se espantarem.
Mas, algumas coisas ainda são uma incógnita para a minha pobre compreensão...
Por que a tristeza que os teus olhos encerram teima em ofuscar
A alegria que a tua boca propaga?
Por que os castigos de que tens medo parecem pequenos diante
Da agonia da tua alma?
Por que os caminhos nos quais andas não contém a marca dos teus passos
E sim os teus rastros?
Por que a voracidade com que juntas as duas mãos é a mesma
Com a qual apontas o teu dedo para criticar o semelhante?
Por que vives à margem de ti mesmo?
Por que pagas um preço pelo dom que já tens?
Por que morres um pouco a cada dia?
As cartas que você me escreveu
Ontem eu reli as suas cartas
Enquanto as lembranças salgadas
Faziam borrões nos seus escritos
À medida que o tempo corria
A gramática realçava a ironia
De um ponto após o “infinito”
Nem as bordas do papel coloridas
Retomavam as cenas descritas
Por aquele texto estático
E as marcas das nossas escolhas
São as dobras daquela folha
Em um silêncio diplomático
Ontem eu guardei as suas cartas
Enquanto as lembranças fartas
Justificavam o meu ato
Abri a gaveta do criado mudo
E coloquei junto com tudo
Sua foto três por quatro
Não menosprezo a literatura,
Um ideal ou uma musa,
Camões ou Machado
Mas à medida que o tempo caminha
A vida realça a ironia
De um sentimento ser grafado
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp- Relacionados
- Desabafo de uma mãe para um filho ingrato (frases para refletir)
- Filho ingrato: frases para quem não valoriza o amor de pai e mãe
- O ingrato: frases para quem é assim
- Palavras de desabafo de uma mãe magoada com o filho
- Frases de filho para mãe que são verdadeiras declarações de amor
- Frases de mãe e filho que mostram uma conexão única
- Versos para Filho