Poemas de William Shakespeare Anjos
Minha Mãe
Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora. Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fronte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.
Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: - Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão, que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu.
Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Dize que eu parta, ó mãe, para a saudade.
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe.
(...)Os grandes relacionamentos que tive foram os que me renderam as melhores metáforas. Que me despertaram uma vontade constante de ser uma pessoa cada vez melhor e mais inteira. Que me deram colo e não conselho e beijo na boca quando o silêncio ainda era a melhor resposta. Algumas dessas pessoas se foram antes que eu pudesse lhes contar uma história bonita e eu chorei feito menina. Outras ficaram até descobrir que uma caixa de quiwís era o melhor presente que eu poderia ganhar no meio de uma tarde triste...Outras, ainda, me cobraram respostas demais e eu só sabia que nunca aprendi a andar de perna de pau porque tenho medo de altura (o que por um lado pode ser também resposta para várias outras coisas). Mas todas essas pessoas me desenvolveram e isso ficou comigo; são minhas porque faziam parte do meu potencial amoroso e elas vieram só pra me conduzir ao melhoramento do meu amor. Hoje o meu grau de exigência aumentou muito porque aprendi que dar amor não é a mesma coisa que dar carência. Por isso fico sozinha pelo tempo que for necessário para ter novamente essa sensação de "encontro". Abandonei um monte de certezas, recuso sem pudor algumas regras e desrespeito várias vezes as placas de aviso de perigo. Me divirto muito ou sofro, mas tenho cada vez mais faisquinhas nos olhos por viver as coisas em sua totalidade, sem recusar experiências e aproveitando diversas possibilidades. O que posso dizer é que existem na vida pessoas sedutoras e seduzíveis por quem nos apaixonaremos "definitivamente" todos os dias e que amaremos "para sempre"... hoje!
Agora, tem um lado muito romântico meu que diz que a "tal pessoa" virá e enroscará uma margaridinha nos meus cabelos cacheados, fazendo pousar no meu rosto o sorriso de um beija-flor... ;-) e plagiará Neruda sussurrando ao pé do ouvido: "Quero fazer com você, o que a Primavera fez com as cerejeiras..."
A T
No amor basta uma noite para fazer de um homem um Deus.
(PROPÉRCIO)
Amoroso palor meu rosto inunda,
Mórbida languidez me banha os olhos,
Ardem sem sono as pálpebras doridas,
Convulsivo tremor meu corpo vibra...
Quanto sofro por ti! Nas longas noites
Adoeço de amor e de desejos...
E nos meus sonhos desmaiando passa
A imagem voluptuosa da ventura:
Eu sinto-a de paixão encher a brisa,
Embalsamar a noite e o céu sem nuvens;
E ela mesma suave descorando
Os alvacentos véus soltar do colo,
Cheirosas flores desparzir sorrindo
Da mágica cintura.
Sinto na fronte pétalas de flores,
Sinto-as nos lábios e de amor suspiro...
Mas flores e perfumes embriagam...
E no fogo da febre, e em meu delírio
Embebem na minh’alma enamorada
Delicioso veneno.
Estrela de mistério! em tua fronte
Os céus revela e mostra-me na terra,
Como um anjo que dorme, a tua imagem
E teus encantos, onde amor estende
Nessa morena tez a cor de rosa.
Meu amor, minha vida, eu sofro tanto!
O fogo de teus olhos me fascina,
O langor de teus olhos me enlanguece,
Cada suspiro que te abala o seio
Vem no meu peito enlouquecer minh’alma!
Ah! vem, pálida virgem, se tens pena
De quem morre por ti, e morre amando,
Dá vida em teu alento à minha vida,
Une nos lábios meus minh’alma à tua!
Eu quero ao pé de ti sentir o mundo
Na tu’alma infantil; na tua fronte
Beijar a luz de Deus; nos teus suspiros
Sentir as virações do paraíso...
E a teus pés, de joelhos, crer ainda
Que não mente o amor que um anjo inspira,
Que eu posso na tu’alma ser ditoso,
Beijar-te nos cabelos soluçando
E no teu seio ser feliz morrendo!
Dezembro, 1851
Alguém
Alguém me levou de mim
Alguém que eu não sei dizer
Alguém me levou daqui.
Alguém, esse nome estranho.
Alguém que eu não vi chegar
Alguém que eu não vi partir
Alguém, que se alguém encontrar,
Recomende que me devolva a mim.
A Uma Que Lhe Chamou “Pica-flor”
Se Pica-flor me chamais
Pica-flor aceito ser mas resta agora saber
se no nome que me dais
meteis a flor que guardais
no passarinho melhor.
Se me dais este favor
sendo só de mim o Pica
e o mais vosso, claro fica
que fico então Pica-flor.
Amor foi feito para amar
Perdão foi feito pra se dar
Não semeie pra colher depois, o tal ressentimento.
Aula de piano
Depois do almoço na sala vazia
A mãe subia pra se recostar
E no passado que a sala escondia
A menininha ficava a esperar
O professor de piano chegava
E começava uma nova lição
E a menininha, tão bonitinha
Enchia a casa feito um clarim
Abria o peito, mandava brasa
E solfejava assim:
Ai, ai, ai
Lá, sol, fá, mi, ré
Tira a não daí
Dó, dó, ré, dó, si
Aqui não dá pé
Mi, mi, fá, mi, ré
E agora o sol, fá
Pra lição acabar
Diz o refrão quem não chora não mama
Veio o sucesso e a consagração
Que finalmente deitaram na fama
Tendo atingido a total perfeição
Nunca se viu tanta variedade
A quatro mãos em concertos de amor
Mas na verdade tinham saudade
De quando ele era seu professor
E quando ela, menina e bela
Abria o berrador
Ai, ai, ai,
Lá, sol, fá, mi, ré
E sou já do que fui tão diferente
Que, quando por meu nome alguém me chama,
Pasmo, quando conheço
Que ainda comigo mesmo me pareço.
O destino não é uma questão de sorte, é uma questão de escolha, não é algo a se esperar, é algo a se conquistar.
Por si.
O que faz o teu alvo no abstrato?
O que tu miras que nem sabes se há?
Não tens medo de estar errado?
Acha mesmo que sempre ganhará?
Conto somente a ti, meu amigo,
que me ensinaram a desistir.
Até na escola da morte, iludido
me pus, otário, a tentar seguir.
Condensei, perfume em lágrimas,
choros ardiam perfumadamente,
perfumavam as auras,
agrediam a mente.
Mentiam as auras,
iludiam a gente,
então amigo, desista!…
Viva para ti, somente.
No fim da folha.
Eu estou no fim da folha,
quanto mais escondido de todos
melhor me sinto,
menos tolo estou.
E se por acaso,
um dia tentarem me vencer,
não conseguirão, não sou de duelos
nem de batalhas.
Eu sou o fim da folha,
que ninguém chega a ler,
que ninguém quer guerrear.
Eu sou o peixe fora d'água,
um pequeno empresário,
o início do nada.
A CARAVANA DOS DESALENTADOS
Pelas estradas sem destino eles andam
Buscando um lugar pra chamar de lar
Mas só encontram nada além de espinhos
E o silêncio que os faz chorar.
É a caravana dos desalentados
Dos que perderam a esperança,
É a caravana dos desalentados
Dos que o sistema trata com indiferença.
Muitas portas fechadas eles já bateram
Muitos nãos e desculpas já ouviram
Como inúteis já se sentiram
De tanta luta já se cansaram.
É a caravana dos desalentados
Dos que enfrentam a tempestade e nada encontram,
É a caravana dos desalentados
Dos que no peito a dor carregam.
As primeiras vítimas da crise
Desse possesso mercado,
Do privilégio da elite
E do seu atraso escancarado.
É a caravana dos desalentados
Dos que buscam apenas um sustento e direção,
É a caravana dos desalentados
Dos que precisam de menos julgamento e mais atenção.
William Contraponto
Ressentidos Boçais
Em suas grandes edificações
Os ricos buscam destaque,
Numa sanha por competições
Que não há o que aplaque.
Um comportamento cuja pequenez
Revela a sua perturbação da vez.
Ao som de notas artificiais
Que ecoam em mentes vazias,
Acreditam que suas limitações intelectuais
Serão compensadas erguendo paredes frias.
Esse vazio é bem mais profundo
E não se preenche com luxos superficiais,
Esse vazio é bem mais profundo
E suas posses não os tornam menos boçais.
Viajam para lugares distantes
Num esforço tolo de parecerem sensacionais,
Tantas idas inúteis se suas mentes
Seguem obtusas e unidirecionais.
Ostentam carros imponentes
Para se sentirem poderosos,
São eternos descontentes
Guiados por instintos ambiciosos.
Na frustração e no ressentimento
Caminham para o próprio tormento.
Esse vazio é bem mais profundo
E não se preenche com luxos superficiais,
Esse vazio é bem mais profundo
E suas posses não os tornam menos boçais.
O Desafio
O desafio é diário
Para ser um sobrevivente
E não aparecer no noticiário
Vítima duma intolerante corrente.
São discursos, pregações
Pegando mentes desavisadas;
São estórias, discriminações
Estimulando as piores ações imaginadas.
Quem tem a sala estreita
Não vê nada além dela
Mesmo que janela esteja aberta
Prefere a luz da vela,
Até parece alguém acostumado
A nunca enxergar o outro lado.
Mas quando todo preconceito
Ficar apenas no passado
Ninguém será considerado suspeito
Devido a sua cor
Ou por viver o seu amor.
E o desafio se tornará
Caminho sem crueldade
Com garantia que chegará
Em favor da nossa diversidade.
Fico refletindo como a história começou
Procurando entender a razão do porque tudo começou
Se ao menos a razão pudesse se explicar
Entenderíamos a história do nosso amor
E de como tudo começou
Não podemos aceitar o fim
algo dentro de mim
bate mais forte por você
Será o amor?
O coração tem a resposta.
No canto de casa uma luz iluminava o nosso ser
Nossos corações disparados batiam cada vez mais forte sem entender
Descobrimos com nossos lábios
Que era a chama do amor
Que irradiava sobre nós.
Não poderás sonhar.
Entretanto quem quer correrá,
se o futuro não está nos ajudando,
eu te juro que encontrará,
um jeito simples de continuar sonhando.
Pena que o futuro já não existe
e o fim que nos foi cedido está nas placas,
não achava que lhe deixaria tão triste,
desculpe pelas vossas emoções estampadas.
Juro que não tentei ser sádico,
mas meu coração é fálido.
Eu não pude me mudar.
Eu achei até que eu seria,
uma forma, um ser que amaria,
perdoe-me, disse que há como sonhar.
Não há...
Porcos imundos bailam no salão.
Eu gostava de cartas rasgadas
e vejo o futuro que sangrará.
Entre ruas alagadas,
não é em dinheiro que nadará.
Somos maior que estes,
imundos, até a morte veio parcelada,
com o fim batendo à porta
as suas mãos já devem estar lavadas.
Entre corpos caídos no chão,
entre quem paga a vida a cartão,
não haverá mais mortes em vão,
quem cairá, é quem já devia estar no chão.
São eles! Os que estão acima de nós.
São eles! Os que dizem ser a nossa voz.
São eles! Quem fala bonito e não faz.
São eles! Quem não deveria ter paz.
Atirem em suas caras. Matem!
Quem fez nada por muito.
Matem! Quem está em cima do muro.
Matem! Ou acham que vai ter perdão?
Matem! Quem nos entoca no escuro.
Matem! Não deve haver salvação.
Ludibrioso Deus.
Se o pecado é o preço a pagar
por simples prazeres mundanos.
Se no inferno eu ei de morar
por simples orgasmos humanos.
Então que seja feita a Tua vontade,
ó Deus vaidoso, qual teu medo?
Injusto, profano e sagaz.
Deixe-me falar, não os mantenha em segredo.
Sabemos nós dois,
teus pecados são maiores que os meus.
Apenas mente pra nós,
dizendo: orem! Quem sabe eu sinto zelo.
Profano és tu, mentiroso Deus,
que faz doenças, mortes e massacres,
pecador eterno, mata por vaidade.
Por Teu nome e Tuas mãos morreram milhares.
Em vão, oram bilhões, achando que,
um dia vão, ter salvação.
Conte-vos, Deus! Diga que estão sós.
Fale de si, mostre-se!
Alguns já sabem.
Somos superiores a Ti.
Nós somos o milagre.
Nada.
Entre o vazio do nada
e quem está cheio de tudo,
encontra-se uma ambiguidade.
Em um nada de nada, tem algo,
em um cheio de tudo, há também o nada.
E se o nada anula o tudo, o cheio de tudo é farsa.
Quando algo está no nada, não há o nada.
E quem é o nada que nada fala?
Quem nada fala, não é esperto.
E quem tudo fala, fala nada.
Ao falar tudo, encontra-se o nada,
e basta apenas um sinal negativo para criar a força contrária.
E com nada, faz-se uma bagunça.
O que prova que precisamos, somente,
de nada. E quem somos nós?
Nada.
