Poemas de quem Deu um Fora
Para os que Virão
Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.
Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.
Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente -
na primeira e profunda pessoa
do plural.
Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.
É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.
Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.
Nota: Trecho do poema do livro "Sonetos Para Amar o Amor", de Luís de Camões.
"Quand la mort est si belle,
Il est doux de mourir " (V.Hugo)
.....
Amemos! quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
...
Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
...
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
Nós dois e a distância
Começamos por brincadeira
E por desejo nos unimos
Mas não por muito tempo
Pois além do desejo veio a distância, a qual me separa de teu cheiro
Dos teus carinhos, do teu amor.
A saudade me mata por dentro, não sei mais o que fazer
Tentei parar de diversas maneiras de pensar em ti
Mas como fazer se tudo que existe me lembra você?
Pois assim quis, por querer que fizeste parte de minha vida por completo.
Sobrevivo a espera de um tempo ao qual essa distância diminua
E me faça cada vez mais ser seu
Cada vez mais um só
Cada vez mais amor
Resisto por saber que a mesma lua e as mesmas estrelas que iluminam minha noite e as contemplo todos os dias, são as mesmas que iluminam o teu caminho e levam a ti as minhas preces e lamurias sinceras de meu amor a ti.
Amo-te acima de tudo
E sei que a distância não será suficiente para separar nós dois.
Tanto de meu estado me acho incerto,
que em vivo ardor tremendo estou de frio;
sem causa, juntamente choro e rio,
o mundo todo abarco e nada aperto.
É tudo quanto sinto, um desconcerto;
da alma um fogo me sai, da vista um rio;
agora espero, agora desconfio,
agora desvario, agora acerto.
Estando em terra, chego ao Céu voando,
num'hora acho mil anos, e é de jeito
que em mil anos não posso achar um' hora.
Se me pergunta alguém porque assim ando,
respondo que não sei; porém suspeito
que só porque vos vi, minha Senhora.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Se você está pensando
Que eu estou me importando
Claro que eu estou
Eu não sou feito essa gente
Que ama e de repente
Tchau, e se acabou
Eu não cavei teus abismos de mim.
Fui teu abrigo, teu barco e lua cheia iluminando o caminho.
Você escureceu nosso afeto, minou nosso rio.
Pra eu ficar, só precisava do seu toque-agasalho.
Você me deu um punhado de frio.
Poema enjoadinho
Filhos . . . Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!
Banho de mar
Diz que é um porrete . . .
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!
Resultado: filho.
E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.
Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los . . .
Mas se não os temos
Como sabê-los?
Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!
Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!
A vida é igual garimpo.
Não se percebe o diamante
numa primeira olhada.
Por ser muito parecido
com o cascalho,
corre o risco
de ser jogado fora.
Cascalhos e diamantes se parecem.
A única diferença é que o diamante
esconde o brilho sob as cascas
que o revestem.
É preciso lapidar.
Pessoas são como diamantes.
Corremos o risco de jogá-las fora
só porque não tivemos
a disposição
de olhá-las para além
de suas cascas.
E então, desperdiçamos
grandes riquezas
no exercício
de alimentar pobrezas.
Apenas uma canção de amor
Enquanto a chuva molha o meu rosto
Ela esconde a minha lágrima
Que insiste em encontrar o chão.
Enquanto o frio toma o meu corpo
Eu aprendi sem a gramática
Que saudade não tem tradução.
Eu preciso tanto de você
O seu amor é o que me faz crescer
E conhece como a própria mão
Cada medo do meu coração.
Hoje pensei tanto em nós dois
Que não podia deixar pra depois
E eu vim aqui só pra dizer:
-Que eu sou louco por você
Desculpa eu não te querer mais logo agora que a vida está sendo doce comigo. Têm coisas suas que não cabem na minha alegria como, por exemplo, tuas feridas tão antigas e as curas que eu fazia pra te consertar pro mundo, mas continuar com minhas mãos vazias.Desculpa eu desobedecer a demanda da tua angústia. Eu não quero mais ouvir, naquela passividade profunda de amante, tuas lamúrias, tuas escolhas equivocadas, teu emocional sempre tão confuso.
Eu só quero celebrar as minhas flores de dentro da forma mais adequada.
Eu não tenho mais tempo para ser aquela pessoa certa na tua hora errada.
A mulher carioca
A gaúcha tem a fibra
A mineira o encanto tem
A baiana quando vibra
Tem isso tudo e o céu também
A capixaba bonita
É de dar água na boca
E a linda pernambucana
Ai meu Deus, que coisa louca
A mulher amazonense
Quando é boa é até demais
Mas a bela cearense
Não fica nada pra trás
A paulista tem a erva
Além das graças que tem
A nordestina conserva
Toda a vida e o querer-bem...
E a mulher carioca
O que é que ela tem?
Ela tem tanta coisa
Que nem sabe que tem
Ela tem um corpinho
Que mais ninguém tem
Ela faz um carinho
Melhor que ninguém
Ela tem passarinho
Que vai e que vem
Ela tem um jeitinho
De nhen-nhen-nhen-nhen
Ela tem, tem, tem...
A maior prisão que podemos ter na vida é aquela quando
a gente descobre que estamos sendo não aquilo que somos,
mas o que o outro gostaria que fôssemos.
Mulheres que habitam meu ser
Presa em meu vazio o silêncio ecoa na solidão
Sinto-me confusa em meio a tanta opressão
Não sei quem sou, muito menos o que quero
Só sei que presencio uma metamorfose,
E não consigo esconder o que realmente quero
Não vou mais brigar com minhas emoções
Não vou sufocar meus desejos
No meu intimo existe um conflito entre dois seres,
Um calmo e sereno outro estridente como um trovão
Um é a menina que fui pacata e serena
O outro é a mulher que chegarei a ser,
Essa ainda não conheço,
Mas percebo que é audaciosa e destemida
Um tanto tímida e ao mesmo tempo atrevida!
Enfim o ser que se forma é uma mescla dessas duas mulheres
Mulheres, que não conheço, mas que habitam meu perturbado ser.
Mulheres que precisam se harmonizar para que eu enfim possa viver!
O Pequeno Príncipe
Menino pequeno, perdido no mundo
sozinho e cercado de imagem e ilusão,
vagando, vagando sem número e data,
descobre a verdade no meio do chão.
Descobre na terra, de olhos pr'o ceu,
pequeno menino perdido e sozinho,
reinados de estrelas, de sóis e de flores,
poemas ficados na cruz de um caminho.
Menino pequeno, sozinho encontrou
prazer escondido de olhar e sonhar
viver e cantar, beijar e reinar,
deitar e chorar, num berço de ar
Menino tão só, perdido e pequeno
que veio do ceu, que acaba no mar,
com um sopro retira, do chão, essa gente
e ensina que é fácil ter asa e voar
Menino sozinho, no mundo perdido
Menino perdido, pequeno e querido.
As melhores amizades são aquelas construídas sem razão.
São aquelas sem previsão.
As que são feitas no acaso.
E sem qualquer explicação.
LISBON REVISITED
(1923)
Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz
Nota: Trecho da música "Amor em paz"
Abre-se o coração dos outros quando se abre o próprio coração.
A humildade de coração não exige que te humilhes, mas que te abras. É o segredo das permutas.
Só assim então poderás dar e receber.
Aonde quer que vás, leva teu coração!
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