Poemas de Erico Verissimo 1910 a 8

⁠Acordo sozinho. Leio e escrevo sozinho. Fumo sozinho. É uma rotina pacífica, silenciosa e amarga. Ainda não me decidi se isso é ser livre. Estou em dúvidas. Essa liberdade tem um gosto terrível de solidão e tristeza.

Eu queria que você voltasse para a sua vida comum. Mas agora eu quero ser o seu futuro comum.

Talvez eu soubesse desde o início que você mudaria o meu destino. Que você traria algum sentido para a minha vida sem sentido e sem valor.

Você sabe por que todos os animais querem ser humanos? Só os humanos podem determinar o próprio destino.

⁠Sobre o mundo contemporâneo e as relações de trabalho. O operário é visto como recurso estratégico, é considerado recursos humanos, é chamado colaborador etc. Porém, este trabalhador vive para o trabalho, pouco tempo lhe sobra para a vida social, pouco lhe resta financeiramente para sobreviver e sua jornada de trabalho o sufoca significativamente, para que, não seja percebido o seu valor humano. Pois, sendo tratado como máquinas obsoletas que não podem apresentar falhas e nem sinais de cansaso, o operário está fadado a sua melancolica busca por uma vida melhor.

O caso envolve muitas pessoas, pessoas com muito a perder! (...) Só podemos confiar em pessoas que conhecemos!

Sempre que eu tenho uma crise de pânico é como se eu fosse um saco de bolinhas de gude que alguém roubou e, na fuga, deixou cair. Pra que eu funcione, as bolinhas têm que se juntar. Mas juntar essas bolinhas não é tarefa fácil.

Parece que tem alguma coisa dentro de mim quebrada que tenho que consertar, mas não consigo.

Eu tenho medo da pia, do ralo, dos azulejos, da calçada. Das criaturas que se levantam de manhã e seguem vivendo.

Eu quero ser uma adulta. Funcionar como uma adulta e ter uma vida normal. Mas eu amo demais! Eu sinto demais! Eu sofro demais!

Você precisa cortar seus pensamentos. Eles são intrusivos, eles não falam a verdade. A mente mente.

No fundo, eu acho que você é igualzinho a eles, só quer me pressionar, me sufocar.

Eu fui muitas coisas, mas não sou mais. E digo mais: essa coisa de macho é superestimada.

Eu sempre ganho, sejam quem forem os oponentes. Eles acham que estão enfrentando uma pessoa, mas estão enfrentando o tigre.

Agora sei como meus animais se sentiam. Tenho vergonha de mim mesmo. Espero ter uma segunda chance, como meus tigres.

⁠O amor não tinha nada a ver com o casamento. Era um contrato de compra para garantir a posse do útero de uma mulher em específico.

⁠Parece que não consigo viver, que nada tem sentido. Para que fazer qualquer coisa?

Como pode ver, nossa vida está por um fio. Mas lutaremos e aproveitaremos a vida ao máximo.

A vida é um ciclo contínuo de bons e maus momentos. Não faz mal que às vezes seja repetitivo. A vida é assim.

⁠Infelizmente, não posso salvar a todos. Mas, apesar da tristeza, sigo adiante. Faz parte da responsabilidade de um médico.