Poemas de Conversa
Me foi enviada com fé
a bolsinha de São José
me roubaram a bolsinha
no Metrô da Praça da Sé
Pois é...
Benê
Um dia
Um dia você vai acordar evitando abrir os olhos por não ter se entregado a quem realmente merecia, tendo assim evitado viver os melhores momentos da sua vida.
Ruínas da dor
Alicerces enfraquecidos, fugas da realidade,
num castelo aonde eu sou o rei as aparências são o meu melhor disfarce,
um dia agente percebe que é tarde demais para voltar atrás , e então de joelhos choramos em ruínas sobre as nossas próprias decisões,
carrego uma dor que não encontrou um lugar para ser enterrada,
nas brincadeiras a joia vermelha foi tratada como bobo da corte,
sob o sacramento a confissão virou piada, a rosa se encheu de espinhos, a mentira fingiu ser verdade e o romance virou uma mentira.
... a razão
do viver não se resume
a uma busca desenfreada
por nossa felicidade - contudo,
em perceber-se útil - visto que,
vem desse senso de utilidade
o que nos possibilita
habitualmente
felizes!
Poema - És
És qual cantiga de ninar
a um sepulcral descanso;
O sopro frio de inverno
em secas folhas de outono ...
És do jardim da solidão,
pétala, e caíra ...
Assim pálida de adeus,
de abismos esculpida!
És raio de sombra de um sonho
e não se sonha em trevas;
Como descarnado abraço
que o amor desaconchega ...
És aos campos-santos
poesia de epitáfios
Pútrido coração
e deformada paixão não igualo ...
És a beijos de distância
folha a fio levada
Íris cadente alinhada
a luar em febril lábio ...
És das lágrimas mais puras,
desnuda não cairá
Comum brinde de corpos
por tênue sopro de amar! ...
Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Paimon
.
Ó andarilho —
Conquistador
da torre negra!
Senhor bastardo
que Serpenteia
e deus herdeiro
das Areias! —
Sopra a ampulheta
entre os meus olhos
que marca o tempo
de tua estrela:
Vem, anuncia
o aluvião!
Não silencia
a tempestade
que percorrendo
o meu Deserto
é um império
até então! —
Vem, andarilho,
reinar o pó
de minhas mãos —
elas são duas!
Vem, e confunda,
e ruja as mãos
e essas palavras,
elas são tuas!
Vem, andarilho,
veja o teu filho —
e como Dário,
como Alexandre
ou como Ciro
Ouve o meu Verso
entre o alaúde,
o dromedário
e o nosso Exílio! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Pássaros
.
Tenham pena,
suas Asas,
dissecadas
De pancada
debatidas
Por Canção —
se elas partem
meu telhado
se elas caem
Separadas
se elas chovem
Solidão:
Sacrifícios
de silêncio
artifícios
do Deus tempo,
pra tingirem
de tormento
pra escreverem
de vermelho
Na entrelinha
dessas mãos —
tenham pena
suas Asas
Arrancadas
como as minhas
costuradas
Na Canção,
se os meus Versos
são gaiolas
se a Minh'alma
nunca chora
porque a delas
foi embora —
é que as aves
estão mortas
e eu roubei
a Canção! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Gárgula
.
Eu vi um santo
muito feio
Se sentar
aos pés
De uma Cruz —
Se chovia
suas asas
Lhe estendia
como taças
e bebia
água benta
aparada
de Jesus:
Era alado,
tinha um falo
Parecia
ser Diabo,
mas chorava
aos pés
De uma Cruz! —
Tinha garras
tinha presas,
Eram chifres
a tiara
que o adornava
e adorava —
abaixava
a cabeça!
Eu vi um santo,
dava medo:
Vi no topo
de uma igreja
e ele ria
sem sossego,
Com esgar
e incertezas —
Ele ria
quem olhasse
para o trono
das estrelas! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Vodu
.
Dois botões
de um casaco,
duas cores
— O olhar dela —
Seu cabelo
arrancado
de almas mortas,
cheira a terra:
Com seus pontos
de remendo
( sendo pano
Empoeirado )
Seu vestido
nem os ventos —
quem ousou
Soprá-lo?
Maquiada
pelas traças,
Costurada
por aranhas —
É mestiça
é de palha
e também
porcelana!
— Das costelas
dela, um fio
Se soltando
é sombrio:
e vê caindo
das entranhas
tristes ossos
Estridentes,
Recheada
com agulhas
com unhas
E até dentes —
mais assombro
causa o nome
da boneca
De presente! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Café
.
A lenha atiça
o fogão (a)brasa —
pro fundo escuro,
o pó e a água:
Cheira a (e)coados
copos dos lábios
e aquece os corpos
como o pecado —
Odeia a boca
dos apressados
ama o silêncio,
Sofre calado,
Queima as más línguas
magoá-lo —
Ele envenena
Sem pena, amargo —
Ele envenena,
e os sonhos "Lembra
que estão acordados!" ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Gaia
.
Costurei
ó criança,
Em meu ventre
o teu irmão —
Ele chora
tempestades,
ele arranca
tuas árvores
Toca os galhos
como mãos —
quando o vento
lhe balança,
Traz o raio
e o tufão!
Quem o nina,
nina tarde,
tem a morte
por compadre —
tem o abismo
por canção!
Tem no passo
os nevoeiros,
treme a terra
treme os lagos —
tem os rastos
desordeiros
Como rastos
de vulcão!
Também olha
como as vespas,
come as flores —
boca seca,
Depois bebe
do trovão:
Ele inunda
quando impera,
ele chove,
Desespera —
e faz guerra
por paixão! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - dos Crepúsculos
Plena no horizonte
de negro arvoredo,
Nas brumas tardias
guardando segredos
Onde dando a luz
( mãe de pesadelos )
Ela tomou o vale,
fez das sombras reino —
Fez servos demônios,
Ela ensinou o medo
E ela — a própria lua —
sangra em desespero? ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Verso - Eu, a sombra ...
Se a luz encontra
algum obstáculo,
Estarei a frente
bem mais que um passo —
E serei sempre,
Sempre o outro lado! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Ensaios de uma Rosa e um Cadáver
.
Profundezas
ferrugíneas —
Nosso leito
conjugal,
Que perfumes
não declina —
Só os une
a odor mau! ( ... )
"Pouco importa
minha sina,
Estou morta
e o vermelho
É o sangue
de teus dedos —
só ferindo
meus espinhos" ( ... )
Teu caminho
de tristezas —
Teu desprezo
me venerem
Se uma lágrima
não caiu —
Se uma lágrima
há que reste —
Se por ti
sou outras mil! ( ... )
"Pouco importa
o teu amor
Contrapor —
ser meu fim,
Sou flor murcha
e ainda flor —
Entre vermes
e cupins!" ( ... )
Meu caixão
sendo adubo,
Serei teu
jardim de ossos —
E um casulo
só de moscas
Selaria
beijos nossos! ( ... )
"Há lá fora
tantos anjos,
Todos pálidos
e sem súplica —
Só reinando
a irmã morte —
Tem por trono
covas fundas!" ( ... )
Pois de inferno
farei céu —
Teus espinhos
a cercando —
Serão vasos
de caveira
E mais lindo
teu descanso! ( ... )
"Ouço um sino
badalar"
— É a igreja!
"Pouco importa"
— Silencia
tua voz
"Todos nós"
— E então chora? ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Zéfiro
.
Com galhos
e janelas
se tocando
ele cessa.
Com a sombra
na parede
Pelo fio
do alfinete,
ele cessa.
Entre as teias
e o telhado
— as aranhas,
o terraço —
ele cessa.
Segue a chuva
pela fresta,
toca a pele
bem mais frio.
Ele cessa
o arrepio
Ele cessa
meu silêncio —
Só não cessa,
triste folha,
teus caminhos
pelo vento! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Monólogo de um anjo torto
.
Minhas asas,
minhas duas
negras asas —
Sangrarei
sem o céu
tocá-las?
Sete vezes
seu bater
Deixarei
pela estrada
– Sem que o ouçam –
e pela alva,
Sem caírem
como lágrimas!
Minhas asas,
minhas, duas,
Irmanadas
– Se abriram
debatidas
Pelo assombro
das palavras?
Choraria
nas florestas
Pelos bosques
pé de serras,
Pelas frias
madrugadas
Por tê-las,
minhas asas,
Entre estrelas
colocadas! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Um jardim estranho
As flores
deixadas
por ti
São passos
Adeuses
sem vaso,
São gestos
calados:
As flores
tem tempo
Teu tempo
Eu entendo
pois elas
– Se caem –
Também
perseguem
o vento!
As flores
deixadas
por ti
Sem ti
São nada:
Se flores
tem cheiro
de flores
Nenhuma
perfuma
a mágoas!
Mas flores
deixadas
por ti
– As flores
orvalho
de lágrimas?
Ahh
Melhor
seria
tirá-las ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Oráculo
.
São rosas de gelo
cada um de teus beijos,
És a tempestade
que assombra os outeiros
Com as folhas que caem
ouço os teus lamentos,
Fui o vendaval
quem os afugento!
Quem persigo as noites
rangendo as janelas
"Sê rios de sangue,
sou chamas de vela ...
Quem por eras e eras
eras o arrepio
És o quarto escuro
e eu em ti silencio
Eu, simples telhado,
fostes minha chuva
Nunca foram lágrimas,
era a espera tua! ...
Campos neblinosos,
de amor nuvens negras
E o amor, flor dos olhos,
'úmido de estrelas!
Sou hoje a madrugada
serei os teus fantasmas
e até o anjo negro:
Tudo serei, amada,
amando em segredo! ...
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Sete
.
Ela espalha
sete passos
pela sala:
Sete danças
Sete Saias
para cada
Os seus olhos
são feitiços
Os seus lábios
duas taças
Ela chove
pelos cantos
Sete flores
são seu pranto
Se sorri
Sorri estrelas
( Estou escuro
de vê-las! )
Sete vezes
me chamou
Sete vezes
me calei
Para ouvir
sua voz
Sete amores
decifrei
Fui encruza,
cemitério
Alma errante,
bode velho
Fui a gira
e a canção
Dos humores
que a cercam
( Divisores
da paixão )
Se as cortinas
anoitecem
Seu mistério
me confina
Se andarilha
segue os ventos
Eu respiro
seus amores:
Suas dores
meus delírios
( Bem versados
de magia! )
Pela pele
seus suspiros
E a palavra:
"Pombagira!" ...
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
Poema - Minha elegia
.
Emudecida
pelos meus dedos
como me sinto,
não mais escrevo —
Sou dominada
pelas palavras
cheias de medo:
Minhas mãos tremem —
tocam a folha
como o meu espelho,
rabiscam a alma
que não desejo:
Minhas mãos mentem,
mentem pra mim
tudo o que leio —
mentem meu nome,
o meu silêncio,
Mentem meus olhos,
os meus tormentos:
Minhas mãos sentem,
minhas mãos sabem,
sabem que mentem
( Falam de mim
como mão estranha —
tão monstruosas
quanto as mãos frias
nos pés da cama )
Falam de mim
como vizinhas
divorciadas
da solidão,
ainda sozinhas —
Falam de mim
com as palavras
esquartejadas
de quem Canta
a própria história,
de quem Conta
as próprias mágoas:
Minhas mãos tolas —
Elas acham
que ainda acredito
que os meus fantasmas
São esses, Escritos
Esses seus versos
de meus "Achados",
nunca perdidos! ( ... )
- Lemos de Sousa
@lemo.sdesousa
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp