Poemas da Juventude de Paulo Coelho
'ITALLO'
Teu abraço incondicional me faz esquecer a hipocrisia que lança-me à frente todos os dias. Para mim, teu olhar tem uma dimensão imensurável. Você é a porção maior dos meus momentos felizes. Já não olho para o que chamamos "futuro". Já o construí. Sou completo mesmo sem saber. Todos objetivos e sonhos me foram realizados, pois a cada janela aberta, olhar sincero e carinho recebido me fazem crer que a existência tem realmente muito de significado e que você é minha imortalidade. Te amarei sempre.
'ROSA'
Apesar do cansaço aparente, vejo vitalidade nos teus olhos. A tua existência fez-me visionário, verdadeiro, devaneador. São tantos outros adjetivos! Se conseguisse ler o meu olhar mais profundo, veria que eles estão cheios de gratidão. Agradecimento. Reconhecimento. Todos os dias quando vejo-te, sinto esperança ao meu lado. Os meus afagos e abraços falam de sentimentos que não consigo exprimir.
Quando eu chorava, ao meu lado você estava com suas recomendações. Seus fortalecimentos. Escrevendo essas poucas linhas, lembrei-me das muitas vezes que você também chorava. Onde parecia que não ia mais tolerar a vida. Falso era minhas percepções. Você sempre estara vencendo obstáculos. Até agora ainda vence. Falta-me palavras para falar que você é o meu tudo. A razão maior. Sinto-me pequenino em meio a esse poço de afeto e amor que tens a dar.
Seguro estou em suas mãos e não me deixarás sucumbir porque és MÃE. Ser MÃE é inexplicável para os homens. Só elas tem o poder do encanto da vida. O poder de tanta admiração. Feliz dia das MÃES! Em especial a você MAMÃE ROSA.
'UM SER ESTRANHO'
Em algum momento da vida, o tempo nos converte naquilo que mais deveríamos temer: um ser estranho. A partir daí, passamos a ver o mundo com outros olhos e o mundo nos ver diferente. A sensação de ver tudo e todos com essa nova perspectiva causa espanto. Medo. Admiração.
Encontrar-se perdido em meio a multidão é consequência do novo. Metamorfose. Mutação. Mutilação. No íntimo, queríamos um outro caminho. Um no qual fosse mais plausível. Mais suportável. Ficar exposto ao sol tem seus agravos e isso, de alguma forma, deixa uma ferida aberta. Custa sarar. Olhar-se diariamente no espelho e não reconhecer-se, sentir a sensação de falta mesmo nas conquistas causa aflição. Terror. Pânico.
A vida é uma moeda. Sempre haverá o lado bom. Admirar o que a maioria não consegue deixa-nos afortunados mesmo estando na miséria profunda. E os sentimentos de conflitos nos fazem um ser melhor. Mais humanos. Generosos. Essa mistura incompreensível de um ser indecifrável trás uma sensação intrigante e avassaladora: como somos parecidos e como somos incomuns!
'O ONTEM'
Estamos cansados. Aflitos.
O amanhã será o hoje
e isso nos aterrorizará novamente.
Asfixiar-nos deveras.
Olharemos para a mesma janela.
O mesmo clarão se aproximando.
Lentamente. Pontiagudo.
O calor do sol será mais intenso.
Mais um dia se repetirá.
Nossas células não serão as mesmas.
Estamos perecendo a cada dia.
A cada por do sol.
As perguntas continuam desde sempre,
com a diferença que elas estão mais invasivas.
Mais sutis. A ostentação adquirida desvaneceu.
A veemência que tínhamos cessou.
O castelo diluiu-se.
A vida levou o que tanto construimos.
Caímos na negligência que criamos e
carregamos o peso das incertezas.
A prática dos abraços que não aconteceram.
O Sorriso nos momentos de tristezas não acontecidos.
A humildade nos momentos de altivez que não foram cedidos.
As palavras que tanto machucaram.
O perdão que ficou no esquecimento.
Foram tantas as faltas...
Porém, no 'agora', não há indulto.
Somente a dor da pena que só aumenta e
os pensamentos vivos que estraçalham o espírito.
Mas temos uma certeza que dilacera:
a de que ficaremos desprezados no esquecimento.
A isso, chamamos vida.
Lógico, numa outra perspectiva.
A do autêntico.
'ELA PRETÉRITO'
Perdeu. Ganhou. Poderia ser discreta, mas os amores passados deixaram-lhe cicatrizes. Olhando do fastígio, as perdas são claras. Mais ainda quando poderia tocar outras formas. Sentir outros sabores. Deveria seguir em frente. Construir outros sonhos. Levantar muralhas. Percorrer outras trilhas. Porém, reclusa está. Dominada pela paixões fúnebres. Presa na mais plena liberdade.
Seguir outros rumos deixa-lhe calafrios. Sonhar outras vidas, infeliz lhe deixará. Medonha nas escolhas deixadas de lado, prefere a palidez. Sabotadora de si. Atrofiada na desesperança.
Pensando em tudo isso há quem diga que é sofredora. Amargurada ou coisa assim. Os pré-conceitos arrepiam-lhe a espinha e o que tanto aterroriza, deixa-lhe forte a cada movimento. Estaria menos infeliz percorrendo paraísos ou seu inferno estaria mais escaldante? Não sabemos! Deixe-la com seus desafetos. Suas reflexões. Dona do seu destino.
'SOLIDÃO'
Nos momentos de solidão, sentimo-nos desertos, deveras um atleta que não consegue chegar ao objetivo essencial. Lembramo-nos do pouco que vivemos. Os pensamentos sempre voltam-se para os aprendizados passados. A experiência é o cerne. O medo de errarmos novamente, tira-nos o sono. Perguntas intrigantes fazem parte do cotidiano como uma criança interrogando ao progenitor o 'porque' de tudo.
A análise do que nos transformamos vem à tona feito um tiro de canhão que acerta o alvo por centenas de vezes. Chegamos a conclusão que somos a metamorfose do improvável. Somos o irreal que transformou-se no genuíno. Porque não excêntricos? Sentimo-nos mais prudentes. Estamos no ápice dos estágios de mutação. Uma borboleta com seus traços já definidos.
Percebemos e compreendemos que fazer parte desse 'aglomerado insólito' deixa-nos insanos. Vira-nos ao avesso todas às vezes quando a flecha da solidão acerta seu alvo. A cada piscar de olhos, os pensamentos ficam mais intensos. Sentimos o poder da mudança. Só não sabemos por onde começar. Traçamos o caminho a percorrer, só não conseguimos dar os primeiros passos.
Um dos piores fracassos é quando temos um caminho à frente, mas, por razões sucintas, não conseguimos trilhá-lo. Um dos atalhos é olharmos para o céu azul. Se não gostarmos do azul, podemos imaginá-lo amarelo, verde, marrom. Nossas escolhas dependem da intensidade com que vemos o mundo, como sentimo-lo e como saímos dele para o nosso exclusivamente particular e íntimo.
A solidão nos propicia essa 'saída', esse reencontro do 'eu' com a 'reflexão'. Solidão também é sinônimo de mudanças. Mistura de isolamento com aprendizado. Solidão é tão óbvio para os seres humanos que a maioria tentam burlá-lo. Tentam escondê-lo sem eficiência. Sendo inevitável para o amadurecimento que precisamos, a solidão é o amigo para as horas incertas e horas profundas de transformação.
'PONTO PARÁGRAFO'
O amor perde-se no vento e
as vicissitudes da alma afaga o coração.
A releitura da arte que criamos
vai desmaterializando às minguas até o ponto fulminante.
Identidade sem labirinto.
Período de sobejos,
sem beijos.
E as novas formas abrem uma cortina
dilacerada em preto e branco.
Época dos grandes sismos em
que gigantes descobertas chegam de rotina,
afunilando a luxúria,
a soberba, a arrogância.
Tempestades gritam ao ouvido
verdades rejeitadas.
A apreensão silencia a voz.
As noites ficam inquietas
falando dos desejos já amaldiçoados.
É a nova 'lei dos contrários' que chega de supetão,
águia sem visão,
indagando-nos dos zigue-zagues traçados.
Tudo passageiro!
O grande livro tornar-se inautêntico
com suas páginas rabiscadas.
E o tremor das mãos que não para,
interrompe as novas páginas que estão no porvir.
E o 'tudo' totaliza-se no utópico
com seus amores e injúrias, poemas mórbidos,
fragrâncias esquecidas: penúrias!
'HODIERNO'
- Perdeu o ofício?
- Sim. Mas tenho novos voos,
Nos ventos: pulmões!
Visito rochedos.
Pra quê receios,
Da vida,
Do freio?
Subo em árvores.
Névoas de crônicas.
Tombo montanhas.
Fobias transformadas.
Perito em bater asas
Quebro horizontes
Céu Transmutei em pousadas.
Agora quadrilátero
Saúdo trovões
Amorteci os medos
Transmito, agora sim,
Meu louco grito
Alma imensurável
Sons ambíguos...
'INACABADO'
O amor passou.
Vertiginoso.
Modesto nas suas facetas.
Com ele,
Fomos juntos.
Escalamos montanhas.
Desafiamos o poder da admiração.
Olhamos nos olhos,
Recitamos palavras expressivas.
As lembranças
Que [ele] nos esculpiu,
Perpetuam um passado presente.
Falou tanto e,
Como um raio,
Partiu sem direção.
Construiu o impossível
E disse adeus,
Deixando nossas almas inacabadas,
Soltas aos ventos...
Mais importante que ser o primeiro,
é saber que você cruzou a linha de chegada
mesmo sendo o último, e arrancou calorosos
aplausos por não ter desistido no caminho.
'OLHAR'
Vejo horizontes
nesses olhos
perdidos.
Inquietude e
chama que me
chama nas noites
que vejo. E a
vontade de
mergulhar por
trás dessa óptica,
deixa-me pássaro,
cantando aos
quatro ventos,
poesias enigmáticas.
'PROCURA'
Tenho uma sede no 'por do sol'. Sacia minh'alma! Penetra esses raios nas minhas imagens! Alimenta a fome dos desejos derramados. Liberta-me das masmorras alagadiças. Colori uma nova canção p'ra nós dois. Harmonia de sentido os dias aluídos.
Afaga/atraca meu coração no real. Volúpia as noites claras em angústias. Aquece-me com seu corpo frenético. Abraça-me! Deixa-me em fúria na morte dos mortais. Esquarteja meus sonhos na varanda, tal qual um olhar, diluído em arco-íris.
Elucida minha procura lesiva. Explode o luar no amanhecer! Desbota o patético corroído. Reflete em mim tua'alma exaurida, até que, consigamos misturar nossos limites, atemporal e sem reflexos. Suga-me como um livro de romance e re/façamo-los diariamente a última página. Até que o 'sempre' permaneça, rodopiando duas vidas em uma.
'CHEGADA'
O inverno chega. Paisagens que não mudam: frio, tempestades, folhas mudas. Viagens por águas quebradiças. Abraços na rotina. E todos os dias, novos ímãs. A esperança no farol, uma nova loucura, tantas outras colinas.
E o verão infinito chega. Torna-se ardente, revigorando a vida no peito. Chegou tão pequenino abraçando-me com seu ávido olhar peregrino. Crescendo com os ditongos. Marca indissolúvel que torna-se forte com seus raios abrasivos e rudes.
Inverno e verão ficam homogêneos a cada chegada. E os pedaços ficam nas enseadas, falando dos raios inertes/refletidos. Cabelos brancos aportam misturas tênues. Inverno e verão não são fidos. E a vida, na sua jornada, não passa de metamorfoses, mutações, quase nada!
'POHESITA'
A neblina mulata perdeu-
Se na negridão e embaçou
As palavras com
Hesitações. Ainda sinto o
Cheiro arraigador na
Madrugada insólita. Os
Beijos ausentes que
Fizeram-se lacunas...
Petrificou-se, disfarçou-se
Nos olhares
E trouxe consigo
'Estilhas', a fome de
Devorar o poeta, que
Redescobriu o mundo, mas
Arruinou-se nos seus
Reencontros.
'AN/DOR/INHA'
O pequeno esvoaçar
Rodopiar com ventos
Voar...
Sentir liberdade
Debulhando céus
Fatuidade...
Subir nas nuvens
Queimar o sol
Inquietude...
Inexpressivo homem
Não rodopia com os ventos
Lobisomem...
Encarcerado profusão
Palmilha cemitérios
Escravidão...
Poste tranquilidade
Vida, meio vivida
Minuciosidade...
Coração de pedra,
Manteiga,
Embriagado,
Desobstruído,
Selado.
Não existe o in/correto na hora de amar
'PROSAICO'
Linhas trançadas e o azul meio amarelado amorna o infinito.
Acima das águas turvas, acinzentada com as mãos entrelaçadas no medo. Tenta gritar, mas ele afugenta-se.
Direciona-se à alma, espetando o sol sem reflexo.
Mutilado em pensamentos, o azul subterrâneo transforma-se ...
E a pausa, agora loucura, fez-se revoada.
O trilhar da esperança, face oculta dos sonhos, deixa a clarão do rosto sombria.
E a fantasia da felicidade, fez-se gelo.
Escorregadia rumo à mãe terra, esfacelando-se no ar.
Voltando de onde outrora saiu medonho.
É assim que direciono o teu rosto: prosaico e sem flores.
'CABOC[L]0'
Ele se foi e deixou uma
Saudade na cabana. Os
Olhos, misturado com o
Atrito das mãos,
Derramaram a
Vermelhidão por várias
Noites em alvorada.
Simplório, sem brilho e
Sem calor para aquecer
O mundo, devastou
corações e
Transformou-as em
Amizades. Dos troncos
Perdidos, fez raízes.
Das flores, perfumes
Verdadeiros. A forma
Tangente da última
Expressão fala ao mundo
Despercebido: ainda
Estou vivo! Respirando
Os sonhos de outrora.
by Risomar Silva.
Uma breve homenagem ao meu
amigo caboc[l]o. Que se foi...
'FERIADO'
A sombra mórbida deixa uma inquietude aparente. Algumas árvores embaçam a visão rumo ao estreito rio representando calmaria. Peixes esboçam o que de mais belo existe na natureza. O balançar da rede entra em harmonia com a brisa de inverno e o cantar dos pássaros, intrínseco a outros cantos, soa longínquo.
Casa de palha e um velho barco esquecido demonstra pulsação, temporada. Uma velha tralha de pesca, sem cor, fala do tempo fatigado. A água com seus sons melodiosos atraí o sol com seu olhar ofuscante. Olhos pontiagudos, mas suportável. Tudo tranquilo! Exceto meu coração, louco e distraído.
