Poema Arnaldo Jabor - Deus e Satanas

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Eu apresento a página branca.

Contra:

Burocratas travestidos de poetas
Sem-graças travestidos de sérios
Anões travestidos de crianças
Complacentes travestidos de justos
Jingles travestidos de rock
Estórias travestidas de cinema
Chatos travestidos de coitados
Passivos travestidos de pacatos
Medo travestido de senso
Censores travestidos de sensores
Palavras travestidas de sentido
Palavras caladas travestidas de silêncio
Obscuros travestidos de complexos
Bois travestidos de touros
Fraquezas travestidas de virtudes
Bagaços travestidos de polpa
Bagos travestidos de cérebros
Celas travestidas de lares
Paisanas travestidos de drogados
Lobos travestidos de cordeiros
Pedantes travestidos de cultos
Egos travestidos de eros
Lerdos travestidos de zen
Burrice travestida de citações
água travestida de chuva
aquário travestido de tevê
água travestida de vinho
água solta apagando o afago do fogo
água mole sem pedra dura
água parada onde estagnam os impulsos
água que turva as lentes e enferruja as lâminas
água morna do bom gosto, do bom senso e das boas intenções
insípida, amorfa, inodora, incolor
água que o comerciante esperto coloca na garrafa para diluir o whisky
água onde não há seca
água onde não há sede
água em abundância
água em excesso
água em palavras.

Eu apresento a página branca.

A árvore sem sementes.

O vidro sem nada na frente.

Contra a água.

Não há o que lamentar
quando chega o fim do dia
Se despede da sua dor
Diz adeus à sua alegria.

O buraco do espelho


o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí
pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some
a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve
já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora

As árvores são fáceis de achar
Ficam plantadas no chão
Mamam do sol pelas folhas
E pela terra
Também bebem água
Cantam no vento
E recebem a chuva de galhos abertos
Há as que dão frutas
E as que dão frutos
As de copa larga
E as que habitam esquilos
As que chovem depois da chuva
As cabeludas, as mais jovens mudas
As árvores ficam paradas
Uma a uma enfileiradas
Na alameda
Crescem pra cima como as pessoas
Mas nunca se deitam
O céu aceitam
Crescem como as pessoas
Mas não são soltas nos passos
São maiores, mas
Ocupam menos espaço
Árvore da vida
Árvore querida
Perdão pelo coração
Que eu desenhei em você
Com o nome do meu amor

Longe

Não passa um carro sequer
Todo comércio fechou
Não tem satélite algum transmitindo
notícias de onde eu estou
Nenhum email chegou
Nem o correio virá
E eu entre quatro paredes sem porta
ou janela pro tempo passar
Dizem que a vida é assim
Cinco sentidos em mim
Dentro de um corpo fechado
no vácuo de um quarto no espaço sem fim

Se o pensamento duvidar, todos os meus poros vão dizer
Estou pronto para embarcar, sem me preocupar e sem temer
Vem me levar para um lugar longe daqui
Livre para navegar no espaço sideral
Porque sei que sou
Semelhante de você
Diferente de você
Passageiro de você
À espera de você

[...]

Se o coração disparar quando eu levantar os pés do chão
A imensidão vai me abraçar e acalmar a minha pulsação
Longe de mim
Solto no ar
Dentro do amor
Livre para navegar
Indo para onde for
O seu disco voador

um dia desses você vai ficar lembrando de nós dois
e não vai acender a luz do quarto quando o sol se for
bem abraçada no lençol da cama vai chorar por nós
pensando no escuro ter ouvido o som da minha voz
vai acariciar seu próprio corpo e na imaginação
fazer de conta que a sua agora é a minha mão
mas eu não vou saber de nada do que você vai sentir
sozinha no seu quarto de dormir

no cine-pensamento eu também tento reconstituir
as coisas que um dia você disse pra me seduzir
enquanto na janela espero a chuva que não quer cair
o vento traz o riso seu que sempre me fazia rir
e o mundo vai dar voltas sobre voltas ao redor de si
até toda memória dessa nossa estória se extinguir
e você nunca vai saber de nada do que eu senti
sozinho no meu quarto de dormir

Eu sonhei com você
E acordei sem querer
E queria continuar
E foi tão bom imaginar
Você também a me sonhar
Um sonho tão real assim
Não pode ter afinal nascido só pra mim
Ora direis, ouvir estrelas
Perdeste o senso, meu bem
Ou tudo foi brincadeira
Me deixe saber o que os anjos sentem por lá
Mas fale bem perto, baixinho, pra eu não acordar

Um sonho tão feliz assim
Não deveria ter mais fim
Eu quero voltar a escutar
Dos seus lábios, galáxias dizendo que sim

Quando você carrega uma Bíblia, satanás fica com dor de cabeça… Quando você abre a Bíblia, ele desmorona… Quando ele vê você lendo a Bíblia, ele desmaia… Quando ele vê você vivendo o que você lê, ele foge… E quando você estiver a ponto de repassar esta mensagem… ele tentará desencorajar você… Eu acabei de vencer estes obstáculos, pela Graça de Deus.

Textos e poema de Luis Fernando Veríssimo;
Textos de Arnaldo Jabor
Poemas de Cecília Meirelles

Inserida por Salvadora

Quer viver bem? Então:
1) Tema a Deus
2) Coloque-se no lugar do seu próximo
3) Divida o pão

Poema do amigo aprendiz

Quero ser o teu amigo. Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias...

Padre Zezinho

Nota: Trecho adaptado da música "Saudação de Amigo", do Padre Zezinho. A autoria do texto tem vindo a ser erroneamente atribuída a Fernando Pessoa.

...Mais

Eu escrevi um poema triste

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Mario Quintana
Quintana de bolso. Porto Alegre: L&PM, 1997.

Poema de aniversário

Procurei no dicionário,
Com paciência e cuidado,
O real significado
Da palavra aniversário.
Aquele livro pesado,
Mestre dos visionários,
"Pai dos burros" batizado,
Pareceu-me sectário,
Ao responder meu chamado.
Deveras decepcionado,
Joguei o meu dicionário
Na estante, empoeirado,
Para pregar, solitário,
O meu significado
Da palavra aniversário.
Diz assim, o verbete lendário,
Ontem, por mim criado:

"Aniversário: espécie de relicário,
Muitíssimo bem guardado
Nas folhas do meu diário,
Dos versos que eu escrevi,
Com todo amor, e não li,
Durante o ano passado."

Afeto, amor, compreensão - eis os alicerces da vida.
Escrevemos com amor o poema da adolescência.
Com a música do amor, orquestramos a grande canção da existência.

E tu, cético diante da ternura,
impermeável ao sentimento,
aprende esta verdade:
A vida é Amor, e nada mais!
(Rubáiyát)

POEMA DA DESPEDIDA


Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.

Um poema para você, minha amiga querida!
Eu sinto sua falta!
Sinto uma saudade que não sei te explicar de onde vem.
Mas acho que ela vem da minha alma e do meu coração.
Eu sinto que você está precisando de um abraço neste momento, e eu não posso te dar agora!
Sinto que você precisa da minha amizade mais perto de você, mas isso eu também não posso te dar.
Sinto que a distância entre nós é grande, porque existem montanhas de quilômetros que nos separam...
Mas também existe o meu coração cheio de amor por você.
E nada pode me separar de você e nem desse amor que eu sinto em meu peito.
Você é uma daquelas pessoas que eu quero ter do meu lado pra sempre.
Deus deveria deixar que as pessoas que se amam nunca se separem e nem nunca fiquem longe.
E nem nunca briguem, e nem as estradas que nos separem de viver esse amor.
Te amo e não consigo imaginar minha vida sem você.
Eu só queria poder te abraçar agora, poder chorar e rir com você.
Eu só queria poder sentar com você em sua sala ou varanda e poder jogar conversa fora.
Eu só queria poder estar contigo nas madrugadas e conversar e rir virando a noite, sorrindo, ou chorando, feliz ou triste, animada ou desanimada, cheia de otimismo ou não.
Mas o melhor disso tudo é saber que eu tenho você na minha memória, mesmo nunca tendo te dado um abraço...
Eu quero que feche seus olhos agora e sinta o meu abraço, que você sinta o meu amor e carinho por você. Você já fez isso?
E então, sentiu?
Eu senti daqui que você me abraçou agora!
Te amo, minha flor!

um bom poema leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

Poema sem nome

Num dia de feroz
Intranquilidade
Desci dos céus
À terra impura
Envolta em véus
De maldade,
De mil doenças,
Sem cura.
E, fui anjo,
Fui demônio.
Expectador
De lutas, de misérias,
De feridas abertas,
Sem dor.
Ao frio das incertezas,
De todas as tristezas,
Em angústias de ais,
Infernais.
Fui arcanjo
Do bem
E do mal,
Em giros gigantes,
Nos gritos vibrantes,
Dos elefantes
Da jangal
De ruinas morais.
Em trilhas tortuosas,
Sinuosas,
A conduzir-nos ao fundo
Dos pantanais de lama,
Fétida.
Onde os javalis
E as hienas
Charfundam,
Em risos roucos
E bestiais.
Onde os pássaros
Não cantarão
Jamais!
Por que desci dos céus
À terra impura?
Loucura!