Pietro Metastasio
Hoje acordei com uma vontade mórbida, um desejo cético aguçado, um gosto amargo em meus lábios, um fogo ardente em tudo o que vejo, uma dormência em meu corpo, mas depois percebi que ser traído é algo bem pior do que imaginava.
Hoje é o dia de me perder, afinal algum dia eu me encontrei? Coloco minha roupa feita estilo "alguém", uma culturização impossível de codificar, piso no acelerador bem fundo, é sem perceber - mentira - apenas quero sentir adrenalina em um risco individual, posso? A música está tão alta que nem consigo me ouvir, proposital. Quando chego noto olhos famintos por carne e sede ao putrificável, tem algum "ser" disposto a uma dança sem percepção moral, ética e purgatória? Me embriaguei com essa droga que é viver e agora como faço para tirar esse efeito substancial que nunca passa? Morrer? Uma solução louvável aos que descobriram o que significa tudo isso.
Me arrisquei dizer sobre algo que não sabia, fui além - vivi esse algo desconhecido. Hoje sinto saudade de quem eu era, do sorriso na face, no brilho nos olhos e da vontade de viver tudo o que tinha para ser vivido, bons tempos aqueles. E agora? Estou reconstruindo três tijolos para cada um destruído, vai levar um tempo e não sei se conseguirei montar uma felicidade plena, um amor sincero, um sentimento próprio e uma esperança no acreditar, mas tentarei, tento. Quadrado, triângulo ou pentágono? Que forma terá? preciso pensar nisso urgente.
As lembranças da minha infância na casa de minha mãe tem um gosto de nostalgia, sabor de inocência e uma propriedade muito particular, voltar aqui foi apenas para admitir que falhei. Hoje dei o braço a torcer e vim ver a carcaça da casa e os restos empoeirados que ainda insistem em resistir ao tempo, pois, ela não está para me receber, dói. Perdi minhas asas e levei um grande tombo, fiquei no mesmo lugar engolindo todo o choro para não ter que olhar para tudo que lançei ao vento, destrui. Eu só queria ser acordado por você, ter um olhar sincero de amor incondicional, ouvir sermões e preocupações, sorrir silenciosamente sobre as visões que tinha sobre o mundo, desapareceu. Agora retorno à aqueles dias de menino através do álbum de fotografias, a única forma de me manter vivo, agonia. Acho que vou ficar por aqui, irei abrir todas as portas e janelas e deixar o sol entrar e iluminar um novo caminho, eu devo isso a todas as pessoas que magoei quando fui embora cheio de ideais, perspectivas e sonhos, recomeço.
Eu cai e tive que encontrar forças para levantar, eu subi mas de uma forma surreal tive que descer sem entender o por que, apenas desci. Eu ouvi coisas absurdas sobre minha personalidade - coisas essas desconhecidas até mesmo pelo meu inconsciente - e tive que ficar calado para não entrar em conflito comigo mesmo, tive que me matar para dar vida à outras pessoas, tive muito e hoje tenho quase nada. Desisti de sonhos para alimentar um sonho alheio, tive que sacrificar minha felicidade por algo aceito por várias mentes moldadas, gritei até ficar ficar sem voz e as respostas nunca vieram. Fingi que sabia quem eu era para que não me derrubassem sobre um penhasco profundo, andei sem rumo e hoje ando sem destino. Aceitei o inaceitável e não tive o mesmo respaudo quando precisei, aprendi o que se vai, vai mesmo, nem sempre volta, descobri que o "não" é algo advindo de negatividade e não de instabilidade. Tenho cicatrizes que não se fecharam, mas não por uma questão de não querer que se fechem, mais sim, porque ainda existira esperança, lutei desarmado com seres que estavam preparados até os dentes, usei frases prontas de grandes filósofos e elas não me trouxeram grandes mudanças além da reflexão que as mesmas trazem. Vi que recomeçar é bem mais complicado do que o começo e o fim nem sempre é percebido, insito. Enfim, com todo esse viver que resumo em existir não me trouxeram grandes aprendizados, apenas me ajudaram a secar toda a água que teimosamente exprime o que um dia eu senti.
Quando te vi dormindo naquela noite de quinta feira, eu descobri pelo seu sorriso adormecido que havia outra pessoa nos seus sonhos e deitei ao seu lado sem nunca mais querer acordar, pois, eu sabia que quando você acordasse toda a nossa história desmoronaria sobre a minha cabeça e coração. Queria suportar por alguns anos a mais essa mentira que se instalou no meio do nosso quarto, mas não consigo me olhar no espelho e um desespero contido me consome feito ácido. Tudo acabou com uma frase: "Eu não te amo mais". Não revidei, nem tentei reconstruir esse sentimento, porque, quando essas coisas acontecem e chegamos a dizer o que se sente de verdade, acredite, isso é verdade. Levantei do chão depois de alguns meses e foi muito difícil não te ligar, não te pegar pelo braço e sentir seus cabelos em minhas mãos. perdi alguns quilos que me fizeram bem, conheci pessoas novas e li livros incríveis, descobri que tenho tempo pra pensar no que vou fazer amanhã. Estou com a sensação de ter pulado de um penhasco e esse frio na barriga do novo me faz querer continuar acordar todas as manhãs de sexta feira.
Me chamaram de verme! Se sou? Claro! Prefiro ser um verme que faz diferença do que um verme insignificante como o que me acusa.
Eu não sei o que é pior: Permitir que meu coração se iluda, sabendo que o amor não foi feito para mim, ou deixá-lo trancadinho, passando pela vida, ignorando as sensações de se estar apaixonada.
Eu sou o tipo de pessoa que odeia amando, esquece pensando, chora sorrindo, e abraça espancando. Eu sou Angeli Pietro.
Um dia certo rapaz perguntou-me: Onde fica sua casa? De certo que respondi: Moro aqui, e ali. No coração dos que me amam e na mente dos que pensam em mim.
Como será do outro lado da vida?
Como seria se eu fosse outra pessoa, outro ser?
Como viver atrás das grades do coração e respirar pelos buracos da solidão?
Sai... Sai... Sai da tua cova senhora dos mortos, volte e reine nos campos de solidão.
Volte e aqueça minha mente e coração... deusa da noite... Senhora da imaginação.
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