Perda de um Amor por Orgulho
IV
Conclusão a sucata! ... Fiz o cálculo,
Saiu-me certo, fui elogiado...
Meu coração é um enorme estrado
Onde se expõe um pequeno animálculo
A microscópio de desilusões
Findei, prolixo nas minúcias fúteis...
Minhas conclusões Dráticas, inúteis...
Minhas conclusões teóricas, confusões...
Que teorias há para quem sente
O cérebro quebrar-se, como um dente
Dum pente de mendigo que emigrou?
Fecho o caderno dos apontamentos
E faço riscos moles e cinzentos
Nas costas do envelope do que sou ...
Menino chorando na noite
Na noite lenta e morna, morta noite sem ruído, um menino chora.
O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas.
E no entanto se ouve até o rumo da gota de remédio caindo na colher.
Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora, em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.
E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça
e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas).
E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino chorando.
Suponho que nunca teria visto um homem; não sabia, portanto, o que era o homem.
Cada um chama de bárbaro o que não é de seu uso, como, em verdade, não parece que tenhamos outro padrão de verdade e de razão que o exemplo e a idéia das opiniões e usanças do país de onde somos. Lá esta sempre a religião perfeita, o emprego perfeito e acabado de todas as coisas.
Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso, onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.
Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.
Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de seccionar aqueles dois mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se muito longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.
Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela. Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.
De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde...
Mas para isso precisaria de um gênio criador, porque teria de carregar o homem de qualquer coisa, da mesma maneira que eu o carrego de uma inclinação para o mar que fará dele construtor de navios. Só assim cresceria essa árvore que depois se iria diversificando. E ele havia de pedir de novo a canção triste.
Não seria propriamente um efeito da arte, concordo, e sim da natureza; mas que é a natureza senão uma arte anterior?
CÂNTICO
Não, tu não és um sonho, és a existência
Tens carne, tens fadiga e tens pudor
No calmo peito teu. Tu és a estrela
Sem nome, és a morada, és a cantiga
Do amor, és luz, és lírio, namorada!
Tu és todo o esplendor, o último claustro
Da elegia sem fim, anjo! mendiga
Do triste verso meu. Ah, fosses nunca
Minha, fosses a idéia, o sentimento
Em mim, fosses a aurora, o céu da aurora
Ausente, amiga, eu não te perderia!
Amada! onde te deixas, onde vagas
Entre as vagas flores? e por que dormes
Entre os vagos rumores do mar? Tu
Primeira, última, trágica, esquecida
De mim! És linda, és alta! és sorridente
És como o verde do trigal maduro
Teus olhos têm a cor do firmamento
Céu castanho da tarde - são teus olhos!
Teu passo arrasta a doce poesia
Do amor! prende o poema em forma e cor
No espaço; para o astro do poente
És o levante, és o Sol! eu sou o gira
O gira, o girassol. És a soberba
Também, a jovem rosa purpurina
És rápida também, como a andorinha!
Doçura! lisa e murmurante... a água
Que corre no chão morno da montanha
És tu; tens muitas emoções; o pássaro
Do trópico inventou teu meigo nome
Duas vezes, de súbito encantado!
Dona do meu amor! sede constante
Do meu corpo de homem! melodia
Da minha poesia extraordinária!
Por que me arrastas? Por que me fascinas?
Por que me ensinas a morrer? teu sonho
Me leva o verso à sombra e à claridade.
Sou teu irmão, és minha irmã; padeço
De ti, sou teu cantor humilde e terno
Teu silêncio, teu trêmulo sossego
Triste, onde se arrastam nostalgias
Melancólicas, ah, tão melancólicas...
Amiga, entra de súbito, pergunta
Por mim, se eu continuo a amar-te; ri
Esse riso que é tosse de ternura
Carrega-me em teu seio, louca! sinto
A infância em teu amor! cresçamos juntos
Como se fora agora, e sempre; demos
Nomes graves às coisas impossíveis
Recriemos a mágica do sonho
Lânguida! ah, que o destino nada pode
Contra esse teu langor; és o penúltimo
Lirismo! encosta a tua face fresca
Sobre o meu peito nu, ouves? é cedo
Quanto mais tarde for, mais cedo! a calma
É o último suspiro da poesia
O mar é nosso, a rosa tem seu nome
E recende mais pura ao seu chamado.
Julieta! Carlota! Beatriz!
Oh, deixa-me brincar, que te amo tanto
Que se não brinco, choro, e desse pranto
Desse pranto sem dor, que é o único amigo
Das horas más em que não estás comigo.
Há maquinas terrívelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um cachuto aperte um botão,
Paletós abotoam-se por eletricidade,
Amor e faz pelo sem-fio,
Não precisa estômago para digestão (...)
Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse.
"Hoje faz exatamente um ano que Augustus Waters morreu.
Não havia mais aqueles olhos azuis, não havia mais ligações durante a noite, nem metáforas. Só eu e meu câncer.Relembrar a morte dele era como ter água nos pulmões: Sufocante e doloroso, uma dor que nunca passava. Estava vivendo naquela terceira dimensão só nossa. Minha e do Gus.Desta vez, terrivelmente sozinha.
Sou a paciente de uso contínuo mais longo do Falanxifor. O remédio funcionava para mim, mas não para todo mundo.
Me sinto sozinha, e não vejo motivos para meus pulmões continuarem em sua luta contra essa praga de câncer.
O dia começou como todos os outros. Me desliguei do biPAP, me liguei ao Felipe e assisti alguns episódios gravados de America’s NextTop Model na cama.
Abri o e-mail para reler os quatro anexos que Lidewij Vliegenthart havia lhe mandado um ano atrás. Isso era reconfortante, como se uma parte dele tivesse ficado comigo.
Um novo e-mail tinha chegado uma semana atrás, e eu nem tinha notado.
"Querida Hazel,Desde que Peter leu as últimas cartas que Augustus escreveu, se encontra mudado. Parou de beber e começo ua escrever um novo livro, sem nome definido ainda. Ele está contando sua história. De vocês, na verdade. - Sua e de Augustus.- E em breve te mandará os primeiros capítulos.Van Houten também pretende fazer uma continuação de Uma Aflição Imperial, contando o que aconteceu com a mãe da Anna, o Homem das Tulipas Holandês, Sísifo, o hamster e com todos os outros. Isso é o que podemos chamar de milagre não acha?Estou realmente muito feliz, acho que tudo vai dar certo agora. Espero te ver novamente.
Sua amiga,
Lidewij Vliegenthart "
Na mesma manhã, coloquei alguns sanduíches de tomate e queijo dentro de uma cesta de pique-nique,carregando o UAI e saí.Quando cheguei ao meu destino,sentei-me num banco e li um pouco do livro. Assim como Uma Aflição Imperial, a existência de Augustus foi,de certa forma, rápida, marcante e finita.
Fui até a última página em branco,peguei uma caneta e comecei a escrever.
” Augustus Waters,Uma vez, você me pediu um elogio fúnebre, e eu não disse nem a metade da metade do que deveria ter dito.Amo seu sorriso torto e amo sua voz.Amo o fato de me chamar de Hazel Grace, e não só Hazel como todos. Amo suas lindas pernas e o modo como você anda. É muito egoísmo da minha parte,mas queria ter morrido antes.
Bem,o mundo não é uma fábrica de realização de desejos. Ah, Isaac está ótimo. Veio me ver alguns dias atrás - Não literalmente,claro. - E me contou que a Mônica apareceu em sua casa com o novo namorado para ameaçá-lo pelos ovos que vocês jogaram no carro. Ele apenas bateu a porta na cara dela e disse que no momento não sentiu nada, mas instantes depois foi jogar Counterinsurgence 2: O preço do alvorecer enquanto chorava. Sem troféus quebrados dessa vez.Seus pais espalharam mais encorajamentos pela casa. E está tudo bem com as suas irmãs.Meus pais choram bastante ultimamente. A unica coisa pior do que morrer com um câncer aos dezessete anos é ter um filho morrendo de câncer aos dezessete anos. Então respiro fundo - ou quase- E tento consolá-los. Sou uma granada, e aprendi que é impossível tentar salvar os outros de minha própria explosão iminente.E o que eu queria dizer aqui ainda não disse, não caberia nesse pequeno espaço em branco na folha. Afinal, não é todo dia que encontramos um cara que não tenha perna e ao mesmo tempo tenha as pernas mais lindas do universo. Um cara que gaste seu único desejo pra me levar à Amsterdã e beber estrelas comigo. E não, não me arrependo deter ido à Disney, foi bem legal.” Meus pensamentos são estrelas que eu não consigo arrumar em constelações. ” Você não é um escritor tão ruim assim sabia?Alguns infinitos são maiores que outros, Augustus. O nosso infinito durou muito pouco. Mas agora, farei com que ele se prolongue.
Da sua,
Hazel Grace."
Arranquei um pedacinho do livro e escrevi:
”Fui atrás de Augustus Waters, esse é o meu destino. Me desculpa. Amo vocês.”
Tirei a cânula e esperei que a escuridão viesse.- Okay. - Disse num último suspiro."
Um dia a gente aprende que nem tudo o que queremos na verdade será nosso, até porque certas coisas não podemos possuir, mas sim ter por perto, já outras nunca nos pertenceram e foram apenas mais um aprendizado.
A vida passa e um dia começamos a aprender com nossos próprios erros, reconhecer e de fato aprender, pois certos erros do passado são aprendizados que contribuem para nosso crescimento pessoal, profissional e espiritual.
Um certo dia a vida provará que apesar de não entendermos certos acontecimentos, eles foram importantes do jeito que foram para que pudéssemos evoluir como espécie e atingir a vida plena.
Chegará um dia em que você irá olhar para seu passado, não para retornar lá, mas sim para ver o caminho percorrido e ser grato a cada momento que contribuiu para que você chegasse até aqui.
Esteja em movimento, viva a vida, não desperdice seu tempo com tristezas, incertezas e principalmente orgulho, para que não aconteça de um dia você olhar para sua história e ter um sentimento de arrependimento por não ter vivido isso ou aquilo.
Nosso tempo é precioso e um dia a vida vai te mostrar que com o tempo muita verdade vem e muita coisa se ajeita, mas esteja em movimento!
