Paulo Freire Fracasso Escolar
MEU JARDIM É VOCÊ
E com cuidado, pra não te acordar, eu levanto devagar, não calço os chinelos para não fazer barulho, vou descalça até a cozinha e, sem fazer o mínimo ruído, coloco a água no fogo. Vou até o armário e pego as melhores ervas pra fazer o chá que você gosta (mesmo eu sabendo que você ama café). Enquanto escolho as ervas, olho a janela, o barulho da chuva e o cheiro molhado me lembram você. Devagar, volto ao quarto e te observo dormindo, estirado na cama, abraçando o travesseiro, num sono tão profundo que sinto vontade de te deixar dormindo sempre, só pra eu te sentir bem perto, na certeza de que você nunca vai se perder de mim.
O vapor da água embaça a vidraça, preparo o chá, adoço do seu gosto (com bastante açúcar). O cheiro das ervas tomam conta do ambiente e meu coração dispara querendo logo ouvir você tomar o chá e me elogiar por sempre te tratar tão bem.
Acelero um poucos os passos pra te encontrar, olho direto na cama, mas, você já não está mais. Penso que deve estar brincando comigo, se escondendo pra me dar um susto, mas, logo ali, perto da porta, você se olha no espelho como quem está terminando de se arrumar para sair. Paro e fico te olhando, em meus olhos você sabe que pergunto o porquê de você não estar com o teu pijama, aquele que eu disse pra você vestir porque estava frio. Você passou a mão no rosto, me olhou e nem notou a caneca de chá em minhas mãos. No fundo eu sabia que você iria, mesmo assim tentei encontrar alguma ponta de esperança que dizia que você estava só me fazendo algum tipo de surpresa e que logo abriria um sorriso, pegaria a caneca de chá das minhas mãos e me agradeceria com um beijo.
Mas, não.
Você pegou as chaves, sua carteira, olhou em volta pra ver se não se esquecia de nada e, partiu. Sem olhar pra trás, fechou a porta e a chave girou, e a porta trancou. Fiquei ali, olhando pra porta, esperando você voltar no minuto seguinte, como eu fiz tantas vezes. Mas não, o portão também fechou e eu pude ouvir seus passos se afastando de mim, podia até mesmo ver as suas mãos no bolso, como quem nada quer.
Sentei na beira da cama, encostei-me ao travesseiro que ainda estava com teu cheiro, tomei o chá (mesmo detestando chá muito doce, mas aquilo me fazia te ter ainda perto). E fiquei ali, acho que o dia se passou e eu nem vi.
Mas, não sofri. Porque eu sabia que você voltaria, como vai voltar daqui uns quinze minutos. Pedindo um abraço com o olhar ou perguntando quando é que eu posso te emprestar meu colo pra você dormir, ou o meu abraço pra você não se sentir sozinho.
Eu reguei o jardim, e você sempre volta porque as flores que eu cultivo são as que mais te atraem. Plantei novas ervas, amanhã vou colhê-las. Quando fizer sol, vou colocá-las ao sol, deixar que sequem para que o chá fique mais saboroso pra você. E, quando voltar, não hesitarei em cuidar de você, em zelar pelo teu sono, em me dedicar novamente. Até que você venha com as malas feitas e fique.
Só assim poderei me dedicar pra sempre ao jardim, cultivar as mais lindas flores, porque o meu jardim é você.
A casa era verde musgo. Nunca vou esquecer. E tinha cheiro de dama-da-noite, com uma mistura de erva-doce – que era o sabonete que ele usava para lavar o rosto depois de fazer a barba. Tinha algumas flores no portão que atraía borboletas que me faziam sorrir todas as vezes que eu chegava do colégio. A varanda do segundo andar era gigante, e lá eu sonhava todas as noites. E foi lá que eu decidi que seria injusto demais fazê-lo me esperar tanto tempo. Eu fiquei olhando as estrelas ali, sentada, por noites. Ficando nos mesmos lugares que a gente ficava, quando era noite, olhando pro nada; com você fungando meu cabelo e me fazendo sentir protegida. Fiquei sentada na rede por dias e dias, até decidir te privar de toda a espera. Sabe quando uma pessoa cruza o teu caminho e se torna TÃO especial que você tem medo de fazê-la sofrer um dia ou que ela se arrependa de ter feito tanto por você?
Sabe quando você sente tanto a falta de alguém que prefere esquecê-la só pra não voltar correndo e dizer que sente saudade? Depois do curto reencontro, lembrei de tanta coisa. É como se eu abrisse uma caixinha aqui dentro e começasse tirar as melhores lembranças de um dos melhores anos da minha vida. Das guerras de almofadas, da água gelada, da vez que trouxe o mar até mim, de quando cantou a música do Roupa Nova porque tinha perdido uma rodada do jogo, da vez que ficou me olhando enquanto eu dormia, do beijo na testa, das brigas, crises de ciúme, do medo que eu tinha de andar de carro com você, da vez que freou o carro com força só pra que eu quase batesse o rosto no painel do carro e desfizesse o bico, da noite na praia, das vezes que levou a igreja, das noites ao telefone, das crises de ciúme. Do sabonete de erva-doce que fazia questão de ficar no meu travesseiro quando você ia embora. Saudade da barba que arranhava, do abraço que apertava, do beijo que estalava, dos dentes que só mostrava pra mim (raramente, mas mostrava). Saudade das crises de riso que me fazia ter. Saudade da primeira noite que foi me levar até o portão de casa. Saudade do churrasco que eu não comi, de cantar a noite com você na varanda, de desligar o telefone na sua cara, de contar os meus sonhos, de me surpreender com você. Saudade de te ter como amigo. Como abrigo.
Eu nunca pensei que todas essas lembranças pudessem voltar um dia e você pudesse ficar perto, de novo. Mesmo que amanhã se afaste. Mas hoje, te senti perto. E isso me fez bem depois de uma segunda-feira tão agitada. Me fez bem me lembrar de tudo, lembrar de você, do cheiro, da voz, e até do sotaque que eu odeio e seu jeito de me irritar que sempre fazia eu fugir de você e correr no minuto seguinte.
Pode ser que amanhã tudo volte ao normal, e a gente finja que esqueça de tudo, de novo, como estávamos fingindo. Mas nós saberemos, sempre, que um pertence ao outro, de certa forma. Mesmo que mais tarde não exista mais o amor que une, o respeito que serve como elo, o sorriso que encanta, o sotaque que odeio. Mas sempre vai existir alguma coisa que vai te trazer de volta, pra bem perto de mim. Pode ser uma música, um cheiro de erva-doce, um gosto amargo de chimarrão, uma barba que arranhe. Pode ser qualquer coisa, desde que leve o cheiro, o aperto, as borboletas que sempre estavam por perto enquanto a gente caminhava de mãos dadas, ria um do outro, brigava, se xingava.
O tempo passou feito louco quebrando as vidraças e a gente ficou, aqui, sem ter nem pra onde ir... (8)
Enfim, obrigada por voltar, por me respeitar, respeitar meus motivos e, ainda insistir; e por existir! Não é nem um terço de tudo que eu tinha pra falar e explicar e tentar te fazer entender... Foi só o que eu senti depois, quando cheguei em casa, e tentei dormir; não consegui =S
Noite sem lua. Um cheiro distante de jasmim, as rosas que comprei hoje num vaso aqui ao meu lado. Sabe quando tudo te lembra os tempos em que você era feliz e não sabia?
Agora, eu queria estar muito longe. Numa casinha isolada, no meio da mata, perto da praia. Eu estaria na varanda, deitada na rede, ouvindo o barulho das ondas e o chiado da cigarra. O vento frio bagunçando meus cabelos, e o cheiro de terra perfumando toda a casa.
Sabe quando todas as coisas te encaminham pra uma época aparentemente distante, mas que ainda sobrevive dentro de você? É como se nada daquilo tivesse passado e, hoje, daqui a pouco, eu estaria naquele mesmo lugar, com as mesmas pessoas, sorrindo e dizendo estar feliz por tudo aquilo ser suficiente pra minha felicidade.
Aí, bate aquela saudade e aquela tristeza.
Saudade da ilusão que me causou uma das maiores tristezas.
Ninguém pode dizer que viver uma ilusão é ruim... Se não, ninguém iria se iludir. É muito bom achar que aquilo é pra sempre, é muito bom saber que todas aquelas dezenas de amigos dizem te amar e estar sempre ao seu lado, é muito bom ouvir daquela pessoa que você dedica todo o seu amor que ela nunca vai te deixar. É muito bom.
Triste mesmo é saber que tudo aquilo era uma grande mentira. Que, na verdade, tudo era uma ilusão e você sempre esteve sozinho.
Isso é o mais difícil.
“[...], jamais houve na humanidade um tempo em que predominou tanta vaidade.”
Além da minha certeza de que o mal do ser humano seja não pensar, também percebi que o ser humano anda vaidoso demais. O orgulho virou moda. Mania que as pessoas tem de achar que o perdão é inútil, que não vale à pena, e que se formos algum dia magoados não devemos, em hipótese alguma, perdoar. Eu também aprendi a exalar o mesmo perfume que a violeta deixa no sapato que a pisa.
E toda essa vaidade e orgulho por que de uns tempos pra cá passamos a viver a mercê de pessoas que se dizem soberanas e que querem nos manipular por seus belos discursos e filosofias totalmente fora dos princípios básicos mas, por status, acaba ganhando a confiança de um bocado de gente. É só prestar atenção em circunstâncias diárias na nossa vida. Vê-se pelas meninas nos colégios: se a menina da Malhação começa a usar um lenço amarrado no calcanhar, na semana seguinte, todas as meninas do colégio também estarão usando.
Nada contra a essas modinhas, eu mesma já cai em muitas delas. Mas, já presenciei meninas que sempre acharam o tênis All Star feio e depois que viu na Malhação passou a usar.
Nada contra a Malhação, também.
INFLUÊNCIAS.
Assim acontece na escola, na rua, no clube, na academia, na roda de amigos. Ninguém se valoriza como é, segue seus princípios, é teimoso em assumir a verdade que traz consigo, que aprendeu com quem sempre esteve ao seu lado ensinando tudo sobre a vida.
Não... Ficou mais fácil aprender com os amigos, ficou mais fácil aprender na rua, ou, sozinho. Ficou mais fácil viver sem opinião, é mais divertido se matar aos poucos, se acabar aos poucos. É muito mais fácil ser manipulado, não perder tempo pensando, receber ordens e nunca quebrar as regras.
“Não ouça, não pense, não fale, não cante, não sinta... Apenas finja, obedeça, siga o que eu digo.”
Todo mundo aprendeu a mentir o que realmente é, ou melhor, a OMITIR. Fica mais fácil esconder os traumas e negar a cura, esconder o amor e negar um bom momento, fingir amar e pensar estar seguro.
Lutar pelo amor verdadeiro exige inteligência, esforço e muito amor, muita dedicação. É mais fácil comer chocolate em frente à TV que perder horas se dedicando aquilo que você realmente se importa.
Mentir o que sente, o que ouve, o que vê, o que quer falar.
Mentir é mais fácil, mais cômodo. Quando se fala a verdade, aquilo passa a ser eterno e, mais tarde, pode ser cobrado da gente. Temos prazer em mentir, prazer em enganar, prazer em inventar uma história. Nos sentimos criativos, maiores que qualquer outra pessoa. Mas, também mentimos por medo de dizer a verdade. Quando aqueles olhos encontram os nossos, não conseguimos encarar, a única escapatória é baixar os olhos e mentir. Mentir parece afugentar o nosso eu verdadeiro, a felicidade que teima em vir depois de um sofrimento, de uma luta travada entre a razão, coração, e mais uma centena de sentimentos.
“Finja que acredita que os sentimentos são lâminas cegas esterilizadas que cortam sua pele superficialmente sem jamais atingir sua alma.”
Finja que o amor não é essencial pra você, que você está bem assim.
Contente-se em mentir todos os dias para o espelho que você é feliz, que o “ontem” da sua vida já está resolvido, que os seus traumas estão curados, ou melhor, nunca existiram. Minta todos os dias pra você mesmo que você não dormiu com vontade, que não acordou arrependido, que não quis sair correndo e pular nos braços dele. Minta, dói menos.
Dói menos até você descobrir que dói.
Vendo uma reportagem sobre anorexia, a moça disse:
“A pior parte da doença é quando a gente descobre que a tem, parece doer mais... Mas, só assim podemos nos curar de verdade.”
Você só vai ser feliz quando descobrir que você é um mentiroso, um fraco, que sempre se negou a se mostrar como você é, esse alguém guardado numa gaveta aí em algum canto, escondido debaixo de alguns papéis e fotografias.
Quando descobrir, vai doer demais olhar pra dentro de si e ver o quanto toda essa mentira te destruiu, quanto afastou as pessoas que sempre te amaram e que você sempre amou, mesmo mentindo as odiar. Vai doer olhar pra trás e ver como o tempo passou rápido enquanto você se enclausurava dentro de si mesmo, à espera de alguma coisa que nunca apareceu, porque essa coisa também era uma mentira.
Você vai exigir da sua alma um pouco mais de sinceridade, vai tentar correr atrás pra descobrir se é tarde demais e, se for, vai esperar que a esperança de novas chances nasça dentro de você. E, na pior das hipóteses, ir pra um ranchinho, perto de uma cachoeira, passar o resto dos dias vivendo a verdade da vida, conhecendo-se.
Até você ter coragem de se olhar no espelho novamente e dizer:
“Agora eu sou feliz.”
É nessas horas que você precisa de alguém que te ouça calado, que tente te entender e que não use nada do que você disser contra você mais tarde. É agora que eu queria sair, caminhar sem rumo como eu fazia quando me sentia livre, torcer para que chova e sentar num banco qualquer só pra sentir a chuva mais perto, mais em mim. Agora eu quero sorrir um pouco, relaxar os ombros, e chorar, se for preciso. Eu quero ouvir o mar, ver a lua e acreditar que agora eu finalmente estou bem.
Sabe quando você já estava acostumada com a solidão? Quando ter alguém por você é incrivelmente estranho? Quando você custa a acreditar que a felicidade te escolheu e custa mais ainda quando ela diz que dessa vez é pra sempre?
E aí você sente essa vontade louca de sair, de respirar um ar um pouco mais puro, de parar e ouvir o mar – ele parece dizer as coisas mais sensatas - , de ver a minha vida como está agora.
Eu amo ouvir aquela música do Lulu que diz:
“Não existiria som senão houvesse o silêncio, não haveria luz senão fosse a escuridão, a vida é mesmo assim... Dia e noite, não e sim. Cada voz que canta o amor não diz tudo o que quer dizer, tudo o que cala fala mais alto ao coração, silenciosamente, eu te falo com paixão: eu te amo calado, como quem ouve uma sinfonia de silêncios e de luz; nós somos medo e desejo, somos feitos de silêncio e som. Tem certas coisas que eu não sei dizer.”
Já percebeu como somos inspirados pela dor? Mas... A felicidade nos ocupa e nem sempre se tem tempo para colocar no papel tudo o que se passa aqui dentro. Quando a felicidade do amor chega, ela traz o silêncio, e a luz, e as cores... E isso não pode ser escrito.
Por isso tantos textos sem coerência, só quem escreve entende e sabe. Só quem ama entende e sabe. Mesmo que não seja o amor que todo mundo pinta.
Ele chegou pra mim tão calado, tão imperceptível.
Depois de tantas alegrias, tristezas, decepções e surpresas, comecei a prestar mais atenção nos meus pedaços, partes marcadas por cada um que passou na minha vida. Sou viciada em olhar aquela caixinha rosa cheia de fotos, recentes e muito antigas, umas quando eu ainda nem era nascida. Gosto de lembrar daqueles momentos, o porquê daquela risada, a idade que eu completava aquele dia, o motivo daquele passeio, a formatura, a passagem de ano. Aquelas que eram tão especiais pra mim, que se perderam entre minhas memórias. Aquelas que eu roubei do quadro da sala de estar dele, da carteira dele.
Comecei a lembrar dos choros sem razão, das pessoas que ainda estão em meu coração por alguma razão, por algum detalhe. Lembrei dos muitos atos por impulsão, das tantas vezes que fugi e voltei no minuto seguinte. Senti saudades dos muitos lugares que conheci e não pude, não tive tempo; saudades também dos momentos que vivi e das coisas que esqueci. Lembrei das noites mal dormidas, das horas sagradas de sono que perdi sonhando acordada, escrevendo, tocando teclado... Ri de mim mesmo quando me lembrei das vezes que desisti sem ao menos ter tentado, e das vezes que eu tentei e quebrei a cara. Chorei das vezes que tentei, insisti e consegui o que eu queria. Vendo as fotos, aquelas pessoas perdidas lá atrás, senti pelas amizades que não cultivei, por aqueles que eu julguei, pelas coisas que eu falei. Lembrei das pessoas que conheci, dos amigos que deixei, das lembranças que esqueci. Lembrei dos momentos engraçados de distração, da minha mania de derrubar tudo, de só conseguir me equilibrar no salto depois de tropeçar, das vezes que comia chocolate até passar mal.
Nesses dias a minha alma tem pedido um pouco mais de espaço, um pouco mais de ar. Eu quero mesmo é saber onde você está. Ou você acha que eu ainda consigo ser feliz longe de você? O nosso dia ta chegando, e faz quase um ano que a gente não se fala. Ultimamente, tenho me considerado uma atriz nata em conseguir esconder a falta que me faz você.
É ainda dolorido te ter tão longe, procurar você nos olhos dos seus amigos, contar a nossa história como se fosse uma ferida que não dói mais. Dói sim. Todos os dias pela manhã, eu acordo primeiro que todos, para ninguém me ver lavando a ferida, cuidando dela, colocando remédio, fazendo curativo e depois, escondendo-a na base e no pó compacto. Depois, ainda, lavo o rosto com água gelado, foco meus pensamentos numa realidade futuro, leio até ficar inconsciente, isso tudo é pra tentar esquecer de você.
Eu nem sei como consigo dizer que não te amo mais, se meus olhos não mentem. Nunca mentiram. Não posso ter sido a única a sofrer desse jeito, ainda desejo apertar a sua mão e dizer que conheço dessa dor. Que não é fácil, mas que eu posso te ajudar. Oras! O que estou dizendo? Não te quero mais! Não quero te desejo mais! Não te amo! Não!
DANDO UM JEITO NA ALMA
Lembranças...
É como a marca que a brasa deixa na pele, depois de cair acidentalmente, ou não.Lembranças são poderosas!
Elas tem o poder de sustentar um amor por toda uma vida, ou apagá-lo de vez; pode devolver a vida, ou tirá-la de vez. Lembranças que fazem sorrir, chorar, ter medo, desespero, borboletas no estômago, raiva, arrependimento, desejos, ou, simplesmente, não nos causam nada.
Quem me conhece sabe que as lembraças me acompanham e costumam me monitorar, no entanto, elas me incentivam a escrever o que eu sinto de uma maneira quase concreta e abstrata.
Hoje, as lembranças me impulsionam a seguir meus sonhos, a ser persistente, teimosa, a conquistar aquilo que eu acredito e a acreditar naquilo que eu sonho.
Mas são essas mesmas lembranças que me fazem chorar agarrada ao meu travesseiro "meia-lua", que me fazem ter medo do escuro e, muitas vezes, procurar abrigo num aperto de mão, num olhar.
Todas as vezes que trilho um caminho diferente, que não sei onde vai dar, as lembranças voltam e, junto, trazem o medo. Aí, eu procuro descobrir pra onde aquele caminho vai me levar e, eu defino uma trajetória e presumo tudo o que vai acontecer e como eu devo agir.
Mas eu nunca aprendo!
Sempre que faço isso, as coisas saem do meu controle e, eu ajo impulsivamente por não saber como agir. Consequentemente, alguns sonhos ficam machucados, outros, traumatizados, e eles se escondem na gaveta do criado mudo perto da janela, no canto da minha alma.
E, eu, sem notar as suas faltas, não me importo. Às vezes, algumas pessoas se importam e perguntam por eles, eu finjo não saber, mas, no fundo, eu posso sentir o cheiro deles apodrecendo trancados ali, naquela gaveta, infectando toda a minha alma.
Sonhos são como borboletas, eles devem ser livres para pousar em nosso ombro no tempo certo.
Eu andei dando um "jeito" na minha alma.
Desde a última vez que aquele vendaval destruiu quase tudo, eu não tinha voltado lá. As janelas estavam abertas, alguns vidros quebrados e estilhaçados no chão. "...certas bençãos de Deus entram estilhaçando todas as vidraças." O vaso que ficava no cantoda minha alma estava quebrado, alguns sonhos já podres, as últimas tulipas que eu havia colocado para enfeitar a minha alma estavam no chão.
Era hora de arrumar tudo aquilo!
Já havia se passado tempo suficiente para que eu criasse força e coragem para ver o estrago que aquele vendaval havia feito. Cada caco de vidro, cada sonho, cada restinho de tulipa, me trazia lembranças de bons momentos que eu não queria ter vivido.
Os bons momentos são como anestesia, que impedem que a dor seja sentida e que nos faça ter ilusão de que não vai doer.
Os bons momentos impedem que você pense e perceba que vai sofrer, que vai ser difícil esquecer.
Varri o chão da minha alma, joguei os cacos, os sonhos apodrecso e os restos de tulipas. Troquei as vidraças, colhi outras flores e coloquei outro vaso no canto da minha alma.
Quem vê a minha alma agora, não imagina o quanto aquele vendaval feriu e bagunçou tudo o que eu havia arrumado com tanto amor.
As lembranças não me fazem esquecer. E isso é bom! Só assim eu posso dar valor a minha alma, em como é bom vê-la arrumada, com cheiro de flores e com a leve brisa entrando pelas vidraças. E, o melhor, eu não espero mais que me tragam flores, eu mesma as colho e enfeito a minha alma. Porque, para a gente se sentir bem, só depende da gente.
"Desde que Augusto começou a falar seus pais notaram a determinação que ele tinha. Era muito decidido, mesmo tão pequeno. E, em 1937, quando ele tinha 7 anos sua vizinha deu à luz a uma linda criança. Os pais dela não queriam que Augusto chegasse perto da criança, ele poderia ser desajeitado com a criança. Mas, depois de alguns dias, Augusto viu a criança e se apaixonou no mesmo instante. Os pais de Augusto, quando souberam desse amor, ficaram bravos e mandavam que ele parasse com aquilo antes que os vizinhos achassem ruim. Augusto se calou, por anos, mas não deixou de acompanhar a infância daquela menina, a adolescência. Todos achavam lindo a maneira como ele cuidava dela, e a desculpa era porque ele não tinha irmãos e nem ela, e como ele a viu crescer, tornaram-se irmãos... Augusto foi parceiro de brincadeiras, melhor amigo, acompanhou ela no dia em que um rapaz a queria pedir em namoro, fazia papel de irmão mais velho; mas ele nunca namorava, ninguém nunca o via com ninguém. Até que, ao seus vinte e seis anos e depois que ela terminou seu noivado de três anos, ele resolveu contar a verdade. A verdade era que desde que ele tinha visto ela, recém-nascida, ele reconheceu o seu grande amor e esperou por ela todo aquele tempo. Que ele tinha sido seu amigo, seu irmão mais velho, por um amor incondicional que ele carregou desde os sete anos. Ela não sabia o que dizer, ficou confusa, mas no fundo sabia que desde que seus olhos cruzaram com os dele seu coração se aqueceu e sua alma sabia que aquele era o seu grande amor. E eles casaram, depois de dois anos. Ele com vinte e oito, ela com vinte e um. Tiveram cinco filhos e foram exemplos de um amor verdadeiro. Augusto morreu há dois anos, e eu encontrei ela hoje, no banco. Ele morreu aos setenta e sete anos, segurando a mão dela, sussurrando que a esperaria do outro lado. E eu conversei com ela hoje, a Maria, o único amor de Augusto. Ela estava fazendo um seguro de vida porque sabe que seu coração está parando, aos poucos. Vai juntar todos os filhos esse final de ano, como o último final de ano que passarão juntos... E ela não cansa de dizer que sabe que vai morrer, logo; porque seu coração não sabe mais viver sem o seu amor. E, ela saiu... Andando devagar, com a mão no coração, segurando um coração que abria e mostrava uma foto em preto e branco de Augusto. E eu fiquei olhando e imaginando as lindas lembranças que ela não carrega do seu único amor.... Aquele que a viu nascer e desabrochar pra vida e pro amor. Pro amor de Augusto."
E ele começou a cantarolar aquela música "eu sei e você sabe, já que a vida quis assim, que nada nesse mundo levará você de mim; eu sei e você sabe que a distância não existe, que todo grande amor só é bem grande se for triste; por isso, meu amor não tenha medo de sofrer, pois todos os caminhos me encaminham pra você...".
E, depois de uns minutos, ele tirou meu cabelo do rosto e desembestou a falar:
"eu sei que a vontade de amar ainda pulsa aí dentro, mesmo que você negue; e que o medo de amar parece palpitar mais forte que a esperança de dias melhores; mas eu quero que você entenda que esses sinais são pra te mostrar que você tem um coração sonhador batendo aí dentro, e que essas lágrimas aqui são lágrimas de quem ama, independente de quem seja. mas ama. o cheiro de erva com madeira, o coração palpitante e os lindos pores-do-sol cor-de-rosa não querem dizer que a sua pessoa certa está ao seu lado, mas são sinais de que a vida sorri pra você como sempre sorriu..."
E ele me levantou e me fez olhar o dia lindo que estava indo embora. Depois, segurou as minhas mãos e, pela primeira vez, eu não me importei com as lágrimas que caíam:
"essas mãos que seguram a sua, um dia, andaram muito ansiosas em amar novamente. elas tinham segurado mãos que não a amavam... aí, um dia, eu encontrei os olhos italianos da sua avó e amei, amei como nunca antes. você não precisa sentir o cheiro pra saber que vai amar de novo, é só olhar nos olhos e não precisa de muito tempo, segundos depois seu coração já está aceso, aquecendo a vida que esteve escondida em você enquanto você fugia..."
Na rua de casa, no canto do muro, nascia aquela florzinha que você sempre trazia pra mim. E eu lembro que quando chegava em casa e me via brincando de fazer comidinha, pegava algumas daquelas florzinhas pra eu enfeitar os bolos de terra que eu fazia. E quando eu fui pra quinta série, eu comecei a ter um professor pra cada matéria e me desesperei. E você comprou um quebra cabeça de 500 peças só pra me fazer entender que nosso cérebro é como um quebra-cabeça e que com o tempo e a vida, a gente vai montando pecinha por pecinha. Até hoje eu não montei o quebra-cabeça, e nem vou montar, porque não conseguimos "montar" nosso cérebro até o final da vida, poucos são o que conseguem montar a metade dele. E lembra das flores nos semáforos? Você nem sabia mais onde guardar tantas rosas. E as músicas? A primeira vez que você me levou pra sair? E o ciúme doentio que eu sempre tive de você? E o show do Jota Quest?
Sinceramente eu não entendo como estou viva depois de dois anos. Cada dia desde o dia 27 de julho de 2007 me lembra, em alguma partezinha dele, você. O macarrão com creme de leite, aquelas barras gigantescas de chocolate que a gente derretia e comia com morango. As longas conversas, os conselhos. Tudo isso é tão meu, faz parte de mim.
Naquele dia, dia 20, você estava tão linda. Segurou a minha mão tão forte, mas eu estava tão encantada com a sua capacidade de ser feliz ainda naquela hora que eu nem senti dor. Você me ensinou tanto naquela hora. Mal podia falar, mas não se despediu em momento algum. Em seus olhos você me dizia que iria voltar. De alguma forma, mas voltaria.
Você estava linda. Todos correndo para fazerem alguma coisa por você, mas você tranquila.
Hoje eu entendo. Você tinha tudo. A amizade, o amor, e tinha vivido com tamanha intensidade que... Estava feliz.
Nós éramos melhores amigas, você tinha um amor só seu. Era tão bom viver com você, fazer compras com você, comer chocolate com você.
Eu andei lembrando daquele dia que eu tinha perdido um concurso de soletrar da escola e, eu pedi que você me abraçasse pra eu não chorar, eu estava tão decepcionada comigo.
Eu queria ter te abraçado aquele dia. Ter dito que eu estava com você, sempre. Apesar de saber que você sempre soube disso.
Olha... Nesses dias eu ando tão frágil, pensando em você, sempre. Com uma vontade imensa de viver só um pouquinho do que vivi com você.
"eu aprendi com a gramática que saudade não tem tradução..."
Eu só queria que você soubesse que eu lembro, que eu sempre vou lembrar. Que eu ainda acho injusto tudo ter sido tirado de você assim, de repente. E, que eu quero lembrar de tudo, todos os anos, porque eu sei que se ainda estivesse aqui comigo, estaria vivendo de uma forma tão nobre... Estaria criticando os meus textos, reclamando das vezes que saio sem maquiagem, xingando os políticos, entendendo de tudo um pouco, me ajudando na escola, encontrando novos textos, comprando coisinhas de artesanatos, criticando a beleza alheia. Só com você eu sonhava em voz alta e, lembra daquele dia, debaixo da árvore, que você disse que um dia eu seria acordada assim? Eu fui ^^ E no tempo certo.
E, tomara que aquela estrela que brilhou ano passado, apareça. E que o vendedor de flores também esteja por perto. E que tudo seja lindo, como sempre foi quando você estava aqui pertinho.
Eu estou tentando ser como você sempre pediu que eu fosse, tá? Estou tentando levar tudo um pouco menos a sério, sendo mais bem humorada, rindo um pouco mais e me deixando ser humana.
Eu estou tentando... E eu te amo. E vou zelar pra sempre de você.
E, eu to sendo feliz, bem feliz.
Eu te levo aqui dentro, numa caixinha lacrada, pra sempre... (L)
ME FALTA
O dia foi estressante. Eu chorei a tarde toda.
Primeiro que o dia começou super bem. Eu mal consegui escovar os dentes, meus dedos doíam muito. A mãe de imediato sacou que eu estava com os nervinhos da mão tudo danado, e me enfiou uma tala.
Espero estar bem até sábado.
É terrível olhar pra essa tala e lembrar aquele olhar confuso diante de uma atitude totalmente nova pra mim. Eu nunca fiz aquilo. E não faria de novo. Mas foi de total impulsividade da minha parte.
Depois de falar com a única pessoa que eu podia contar isso – e até agora eu não sei o porquê – eu fiquei pensando em tudo de novo. Revivi cada situação, cada movimento, cada olhar.
O olhar permanece o mesmo. O mesmo que eu deixei ali, naquela praça, no meio da chuva. Tudo permanece igual, exceto uma ironia que eu não conheci, e uma ponta de falsidade que eu tinha a esperança que não existisse ali.
Era a mesma coisa. O anel, o relógio, o penteado, o brilho nos olhos, as mãos trêmulas, a calma, a voz, o bom humor, o jeito de andar, o carro, a mania de brincar com os dedos. Mas tinha alguma coisa ali que eu não conhecia. A companhia, quem sabe.
Me disseram hoje que o que eu não conhecia nele que estava ali era a minha ausência. O que eu não conheci nele era a falta de mim. Era a ausência da minha imagem refletida naqueles olhos, dos meus dedos entrelaçados naqueles dedos, da minha pequena estatura do lado de um ser quase gigante. Isso eu não conheci em você.
A minha ausência em você sempre foi ausente porque eu sempre estive com você. Não tinha visto aquele olhar de peixe nem a sua voz falha. Não tinha te visto sem um olhar aceso pela vida inteira de felicidade que você estava certo que teria – não que não terá, mas não vai ser do jeito que sonhou.
Exatamente isso e agora eu tenho mais certeza ainda. Foi essa minha ausência em você que eu não tinha conhecido, e não gostei de conhecer. Uma vez você me disse que não conseguiria ser o que você era sem eu, e eu achei bobagem aquilo, te chamei atenção. Mas você tinha razão. Não é mais como era, e mesmo permanecendo com todos os acessórios que usava e com aqueles olhos cintilantes falta alguma coisa que te fazia ser indescritível. Me falta.
O pescador nunca está só e por mais que ele saiba que o rio e a canoa sabem muito mais que ele, ele ainda é viciado em bons momentos e não vai deixar nunca de levar os detalhes consigo para fazer deles um balão de oxigênio quando o ar lhe faltar. Simplesmente.
TRECHO DE: RIO E CANOA
Eu não sabia o que dizer quando cheguei lá em cima. O vento estava bagunçando meu cabelo, mas pela primeira vez eu não me irritei. Senti um alívio imenso, como se ali fosse um refúgio. Eu estava a salvo. O sol estava indo embora e eu conseguia ver ele ali, sumindo por detrás da montanha, me fazendo lembrar de bons momentos que eu vivi e que por culpa de toda a confusão eu não conseguia lembrar. O silêncio que perdurou alguns minutos me fez tão bem. Até mesmo o cheiro do perfume misturado com o cheiro das folhas das árvores. Eu não conseguia sentir medo, mesmo estando num lugar tão alto, sem nenhum equipamento de segurança, Não tinha como eu sentir medo. Eu confiaria mesmo se o prédio fosse de quarenta andares. Eu me senti tão bem, como há MUITO tempo não me sentia. Eu não me importei mais com quem estava distante, com quem estava me machucando. Eu me sentia segura ali, e quando olhava pra baixo ria por ser tão boba em ter medo de altura. Eu não queria que aquilo acabasse.
Pela primeira vez, em duas semanas, eu estava conseguindo respirar fundo, sentir o ar entrando. E foi tão bom ouvir aquele 'agora você pode respirar, May...'
E eu não pude evitar a onda de choro. Eu estava me segurando há muito tempo. Havia espinhos na minha garganta, e eles tinham que sair. Aquele choro contido estava me sufocando. O ombro emprestado foi muito útil, e as palavras me encantaram, como sempre. E mesmo depois de ouvir tudo aquilo, eu não consegui me sentir confusa, porque estava claro que por nunca podermos nos ter, é que nos teríamos para sempre.
E, hoje, mesmo depois de tudo o que aconteceu e que me tirou o sono, eu fiquei bem. O pôr-do-sol foi semelhante àquele, eu não estava num lugar tão alto, sentada numa madeira pequena, onde mal cabíamos, eu estava na varanda, sentindo o vento bagunçando meu cabelo - e dessa vez isso me irritava - mas eu me senti bem, como antes. Eu não te tinha ali pra me falar besteiras e me fazer sorrir cantando música de bêbado ou fingindo estar fora do tom, mas eu estava bem. Me senti inteira novamente.
E isso me fez tão bem.
Eu podia estar tão cansada agora, depois de fazer cinco bolos, rir um monte, ajudar na nova decoração da cantina, e comer o dia todo. Mas não. Estou disposta como naqueles dias em que eu vivia assim.
É tão bom saber que em algum lugar aqui dentro ainda permanece aquela essência. Permanece aquela substância que, misturada com uma gotinha de felicidade, me faz quicar de alegria pelos cantos da casa, cantar sozinha e fazer bolos.
Eu não sei ainda o que quero, o que decidi. Algumas coisas já estão encaminhadas. GRAÇASADEUS.
Mas, sinceramente, não quero saber. Eu não quero que isso saia aqui de dentro, e só em pensar em voltar a ser como tudo era há dois dias atrás me dá vontade de chorar.
Eu comecei a entender. Só agora.
Eu não posso esperar que alguém retribua o que eu fiz com atitudes semelhantes. Não posso. Eu aprendi a amar a minha companhia; não posso dizer que não preciso, mas eu não dependo disso pra ser feliz. Não dependo da amizade, do apoio, das conversas.
Uma hora as pessoas vão, encontram os motivos dela e vão, simplesmente. E eu não posso julgá-las por isso. Nunca.
Elas também serão felizes, como eu sempre disse.
Assim como eu também serei.
Elas precisam ir, uma hora ou outra. E elas sempre estiveram cientes disso, apesar de todo o drama e filosofias que sempre chegam àquele ponto de que todo mundo parte, uma hora, e é preciso aceitar isso.
Eu deixei tanta gente quando vim pra cá, cada mudança minha foi carregada de dor e uma saudade quase insuportável. Mas eu superei. E não vai ser agora que não vou superar.
Mesmo que eu não vá e que eu fique mais um pouco, pelo menos, até a vida amanhecer, de novo. Eu sei que haverá essa despedida, mesmo perto, e que não seremos mais tão próximos. Quem sabe você tenha razão, quem sabe eu esteja fugindo dessa provável distância, mesmo morando a uns quilômetros de distância de você. E, se for isso mesmo, não me envergonho,
Ter medo de perder alguém não é vergonha. Ainda mais quando esse 'perder' fora para sempre.
Nem sempre eu tive oportunidade de me despedir, e uma das maiores saudades que sinto foi de uma pessoa que partiu, sem nem me avisar. E... Eu superei, não foi?
Saudade... Foi isso que eu sempre temi, e foi isso que sempre me acompanhou. Eu fui 'crescendo', vivendo e... Sempre sentindo saudades.
Saudade de um cheiro, de um gosto, de um abraço, de um lugar.
O amado ia mas o amor permanecia e aquele sentimento ficou ali, alojado, agarrado àlguma planta que eu nem lembro quando plantei.
Eu lembrei de tanta coisa hoje a tarde. Dos pactos inplícitos que foram rompidos, sem sequer uma explicação. Principalmente, dos pactos. Eu sempre fui tão sincera e sempre tão entregue às promessas que eu fazia/faço. E ter esses pactos rompidos doeu demais. Ainda dói.
Eu tenho saudades, e não sou eu a culpada delas.
Ultimamente, meu grau de sanidade tem estado muito a baixo de zero. Consigo imaginar novas situações, expressões. A saudade chega a ser tanta que sinto o cheiro, ouço a voz aveludada, revivo aquela noite tão inesquecível.
Hoje, eu consigo pensar sem sentir o pesar da perda, da despedida, da ausência.
Eu sinto como algo que vivi e que está tão distante, como em outra época, mas que me fez tão feliz como nunca fui.
Ah...! Fazia tempo que eu não escrevia assim... Fazia tempo que eu não soltava os dedos sobre o teclado e deixasse sair o que quisesse.
Eu estava me manipulando, não me permitindo. Um dos motivos para eu me sentir sufocada.
Deixei os dedos rolarem, de novo... Nem lembro mais como comecei a escrever esse texto... Ah! estava falando sobre...O lindo pôr-do-sol que vi.
Foi maravilhoso... Eu vou levar pra sempre.
Sabe aquelas histórias de livro? - porque nem sempre o cinema reproduz aquela emoção com tanta perfeição - foi assim que me senti. Personagem de um livro cheio de emoção e encanto. Eu nunca imaginei estar sob aquela hélice gigante, sentada ali, com aquela mão firme na minha cintura pra não me deixar cair. Sem me irritar com aquele vento que teimava em bagunçar o meu cabelo - depois até fez um belo penteado, né?
Eu renasci. Me senti viva, de novo. E vi como tudo pode ser mais bonito. É só eu me esforçar um tico.
Todo esse lero-lero é pra agradecer.
Eu realmente me surpreendi por ver algumas pessoas ausentes, fingindo que não entendem e me acusando sempre que podem. Não esperava isso. Mas a gente nunca espera ser machucado.
A ferida logo seca e depois só fica a cicatriz, pra você lembrar que um dia deu permissão o suficiente para que alguém entrasse na sua vida e tivesse a liberdade de te conhecer um pouco mais do que a moça da padaria (que te atende todos os dias quando você vai comprar 8 pães de trigo e cinco pães doce), e pudesse usar alguma coisa contra você.
Eu permiti e... Uma hora ou outra isso poderia acontecer.
Tudo segue, não é? O mundo não pára de girar.
E, a propósito, sabia que a Terra gira em torno do sol a 80km/s? Por segundo! Eu quase desmaiei quando me disseram isso, se não fosse pela gravidade, o que seria dos meus cabelos?
Buenas... Voltando, obrigada. Quem eu nem imaginava que estaria ao meu lado por esses dias, mesmo ausente, esteve. Se fez presente por uma mensagem, uma ligação, uma ajudinha, um e-mail, um olhar.
Realmente é bom ter vocês. Eu consegui ter bons momentos no meio de toda essa guerra, dessa confusão constante que teimava em me pegar de surpresa.
Eu sempre disse que minha vida começaria de verdade quando esse problemas passassem, quando eu me formasse, quando eu casasse, quando eu fosse um pouco mais independente e tivesse as minhas coisas. Na verdade, eu não tinha percebido que esse obstáculos são exatamente parte da minha vida, é o que a faz interessante, o que a deixa com um ar de mistério e me faz viver cada hora na expectativa de um momento melhor, de uma surpresa.
A felicidade está numa caixa de bombons, deveras?
Crianças ganham caixas de bombons, adultos também.
TELESCÓPIO
Você tem um amigo telescópio?
Há quem tenha amigo anjo, daquele tipo que te salva quando você está em perigo ou que te abraça quando o chão sai dos teus pés e te faz voar alto e longe de tudo o que te amedronta.
Mas eu tenho um amigo telescópio, e a primeira coisa que ele me disse quando nos conhecemos é que ele me faria ver estrelas - é, eu também ri quando ele me disse isso -, e ele falava sério.
Não sei, sinceramente, se eu continuaria vendo estrelas hoje se não fosse por meu telescópio.
Ele ficava sentado em uma nuvem, todas as noites, me olhando na varanda de casa enquanto eu olhava as estrelas, acreditando piamente que ele me via.
Foi quase uma promessa falar sobre meu telescópio aqui, mas não tem sido fácil encontrar palavras.
Leonardo Fagundes.
Obrigada por insistir em me mostrar estrelas, mostrar o que a vida pode me oferecer, por dedicar seu tempo conversando e me entendendo.
É tarde pra gente porque o nosso tempo passou. O tempo que podíamos nos esbarrar na rua, tomar suco no shopping, se olhar da varanda.
Você sempre vai ser meu telescópio, que me faz acreditar que plutão mora ao lado, e que nada, nada é impossível.
Quando você está com medo de continuar lutando é na minha mania de rir de tudo que você encontra forças pra ver a vida do meu jeito; simples assim. E quando você está rindo de tudo, é no meu estresse que você encontra o chão pra colocar os pés e ser mais realista.
E quando você precisa daquele abraço, de carinho, de mimo, é pra mim que você liga fazendo aquela voz que só eu sei como é. E é perto de mim que você se sente mais perto de tudo o que sempre te fez falta, de toda aquela essência que você resolveu deixar guardada em algum lugar aí dentro de você que só eu sei encontrar.
E só eu entendo seu olhar quando me encontra no lugar de sempre, e com aquele olhar paralisante, pede pra eu esperar mais um pouco enquanto você olha todo o ambiente pra ver se não encontra alguém que te faça mais feliz que eu. E eu sei, sempre sei. Você sempre volta. Porque a felicidade que se faz quando a gente fica perto é única, é a mistura do meu cheiro com o seu, do meu brilho com o seu, da minha frieza e crueldade com todo o seu calor e sentimentalismo.
Eu nem tenho pensado tanto assim em você ou no nosso quase romance, são momentos raros como esse em que o sol está afetando meu sistema nervoso central, sabe? Lembra de quando você dava aquelas explicações citando datas e horários de quando o inventor de um certo aparelho que lhe é muito útil tomou sua última dose de whisky antes da lâmpada acender sobre sua cabeça pensante e ele inventar a tal coisa? Isso me deixava orgulhosa de você. Mesmo que depois você soltasse uma daquelas suas piadas sem graça que tinham graça só por que você ficava sem graça, e sua cara sem graça é engraçada. Enfim, são em momentos assim, no verão, principalmente, que eu lembro de você, da sua ligeira passagem em minha vida que deixou esse coraçãozinho esperançoso em encontrar alguém no mínimo tão interessante e inteligente como você, com abraço apertado, ombros largos, cabelos bagunçados, olhos escuros, sorriso tímido e olhar constrangedor. Deve ser esse calor insuportável, né? Detesto essas roupas colando no corpo, o suor descendo na nuca, a sede que nunca cessa, a água salgada, o cloro, o cabelo ressecado, a noite mal dormida. Isso deve fritar meus miolos.
Bom… O inverno logo chega e eu esqueço você. Esqueço até sentir frio, até faltar Nescau pra fazer chocolate quente, até freqüentar sozinha o restaurante que faz o melhor founde da cidade, até caminhar na praia só pra ver as árvores secas (porque elas são bonitas sem folhas), até usar aquelas roupas super charmosas que eu amo e até ver aqueles manequins masculinos com as roupas que você costuma usar.
Lembra do nosso pacto de não ser um daqueles casais que não conversam nos restaurantes e reparam tristes nos outros? Eu me lembrei de como pra mim era o paraíso chegar à sua casa e te encontrar dormindo no sofá com o ombro caído pra frente fazendo bochechas de criança na sua cara feliz.
Acabei de lembrar do dia em que você percebeu o botão, o calo, a piada, o músculo, o arrependimento, a saudade, o vazio. Foi a primeira vez que sentiu que era tarde demais? Que eu detesto esperar e que eu esperei mais do que eu podia? Você me tirou a razão, me fez estragar tudo só pra sentir o vento na cara de novo e a música alta. Era só você berrar e assoprar em mim. Era fácil, era alcançável, era pra ser seu.
Eu sempre fui tão estabanada, tão atrapalhada. Misturo tudo, bagunço tudo. Fico admirada com aquelas pessoas adultas, evoluídas, que sabem separar a hora de ir a uma reunião de condomínio e a hora de desejar alguém na escada do prédio. A hora de chorar num ombro amigo e a hora de ceder aos encantos desse seu amigo. A hora de ir ao dentista e a hora de querer engolir alguém. A hora de procurar ‘circunciso’ no dicionário e a hora de se perder com palavras simples que parecem tão complexas. A hora de te agradar e a hora de te mandar embora.
Sem mais delongas, ainda sinto esse amor ridículo. Essa coisa inconveniente que me vence todos os minutos, segundos. Você só sabe esperar esse novo amor que sempre está pra chegar e, quando chega, você nem se importa.
Eu vou continuar, tenho sonhos maiores pra realizar. E mesmo que eu continue com esses meus momentos, sozinha, trocando passos com a solidão, serei feliz. Realizando, conquistando, ansiando e esperando. Preciso cumprir as promessas que me fiz, aquelas que você nem quis ouvir, e, se leu, só passou os olhos sobre as letras fingindo se importar comigo. Outro tempo começou pra mim e eu vou aproveitar cada minuto disso tudo. Numa noite ou outra de lua cheia eu vou lembrar você, vou lembrar de você e gente vai ser feliz assim: imaginando o que poderia ter sido e por uma milagrosa ironia não foi.
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