Orfaos do Amor
SAUDADE SUPREMA
Silêncio, tarar, ideia envolta na solidão, murmura
Nos versos sussurrantes do meu versejar sombrio
Eu, agoniado, privado, numa poética de amargura
Velo a minha angústia com cântico insosso e frio
De onde? quem? Essa sensação de uma clausura
E está dor, um acaso demente, um talvez doentio
Que deixa meu sabor com aquela amarga doçura
Apertando o peito, e a emoção sem o suave feitio
E vai a madrugada a meio, nostálgica, importuna
Nos rogos de minh’alma, e tão repleto de lacuna
Divagando falta no pesar de outrora, triste tema!
E eu quisera, outro ponto, nesta pontual sofrência
Na aflição de cada rima ter aquela muita existência
Na suprema ausência de uma saudade suprema! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30, julho de 2022, 03’23’ – Araguari, MG
PAINEL
Matinada. O raiar na sua romaria
Do alvor, agradável e tão disposto
Verseja em uma encantada poesia
No marco da invernada de agosto
E, as flores em sua principiante via
Da primavera, dum belo composto
Curvado pelos bafejos da ventania
Num balé, vibrante e predisposto...
Lantejoilando o olhar, a borboleta
Que aformoseai os versos do poeta
Versos, estes, de cor, vida, do viver
Um painel, poético, leve, mimoso
Criando um versar tão primoroso
Pintando, no cerrado, o amanhecer!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
31, julho de 2022, 06’23’ – Araguari, MG
ESQUECIDO
Talvez já de tudo tenhas esquecido:
Do olhar, dos sussurros e da prosa
Da memorável dada elegante rosa
Talvez em tudo tenhas nos perdido
Aquele deliciosa sensação saudosa
O abraço sensual e tão enternecido
Cada momento, o momento vivido
Cheios de mimo e carícia generosa
Ah! não me tens na afetiva poesia
Mais... só este silêncio na vastidão
Do abandono, sentimento mudo!
E, só, nostálgico, numa dor sombria
Me tenho: penoso, na doce ilusão...
É... talvez tenhas esquecido tudo!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
06 agosto, 2022, 19’57” – Araguari, MG
FORÇA INSPIRADORA
Quem dera, oh poética, se o verso fosse
Sentimental e mais ingênuo, boa sorte
Que não chorasse todas as dores, forte
Levasse valeria, ritmo, a alegria... doce!
Quanta lágrima fez no versar suporte
Sem norte, a solidão que judia, atroce
Quanta poesia vil, distante e agridoce
A ter suspiros no coração sem aporte!
Estranhas rimas de sentimentos ermos
Num conúbio de amores e de paixões
Eis o que é a sensação no exato temo:
Sujeitos aos males próprios e emoções
Também, os agrados, porém, estafermo
Se dos acasos não causasse inspirações
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10 agosto, 2022, 15’47” – Araguari, MG
SONETO INCOLOR
A poesia, que um dia me cobriu de amores
Hoje silente na sensação e tão cheia de não
Entoando transgressão pra versos pecadores
Tão perdidos e tão desamparados na solidão
Inquieta. Mas vai aonde o romantismo fores
Pra então sentir e auscultar a voz do coração
E assim carregar os poemas e as singelas flores
Do jardim da imaginação, sem morrer a paixão
Dores, rumores, temores, no versar presente
Que deixa a rima despovoada, nua e ausente
Quando se só queria a emoção dum amador...
Na sofrência que voa duma dura imaginação
A tristura, chama está, duma rude desafeição
Então, poetando o acaso num soneto incolor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
11 agosto, 2022, 20’40” – Araguari, MG
SONETO PARA OS 90 ANOS
A vida quando aos 90 anos
Avante, fugaz se faz revelar
Surgindo saberes soberanos
No encanto que faz sonhar...
Gratidão a cada primavera
Na sequência a prosseguir
Enflora a cada novata era
A florear a fase do existir
Ah, tempo, se adivinhasse
Se pudesse sentir o andar
Sentiria a poesia pra valer...
Da existência, veterana face
Do tempo, então, a versejar!
É vida longeva, viva o viver!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12/08/2022, 18’00” – Araguari, MG
*soneto para os 90 anos de Daisy Lemos Dorazio
Coró de côco.
Coró de côco, no côco entrou.
Comeu, comeu, comeu e na zona de conforto se contentou.
Não percebeu que o tempo passou, ali viveu, ali dormiu, ali morou.
Pobre coró de côco, ali cresceu, ali morreu, ali ficou.
VIDA DO VERSO
Sempre a sussurrar sentimento incerto
O poema à sensação se faz aventureiro
Ao poeta deixa aquele gostinho aberto
Sempre, em busca dum sonho certeiro
Da paixão ao amor, tem trova em alerta
Mas, nunca deixando de ser por inteiro
Na prosa que tem aquela medida certa
De poética, vem o sentimental primeiro
Na rima, a imaginação como fronteira
Do seguro a ilusão, a pluralidade beira
É inspiração, pois, do destino escorre
Enquanto, na prosa tem aquela batida
Tudo é só encanto, abrandando a vida!
É arte, narração, senão, o verso morre...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
15 de agosto, 2022, 13’13” – Araguari, MG
*dia de NS D’Abdia da Água Suja, Romaria, MG
O sonho foi mais claro do que uma memória. Ouvi o barulho de cascos estrondosos, escudos partidos e espadas chocando-se. E coloquei meu herdeiro no Trono de Ferro. E todos os dragões rugiram como um só.
– Uma mulher não herdaria o Trono de Ferro. Porque essa é a ordem das coisas.
– Quando eu for rainha, criarei uma nova ordem.
UMA MANEIRA
A cada prosa de uma nova poesia
A doce poética se revigora vigente
Enche a profunda obra de quantia
Onde cada sensação nunca mente
É muito bom a gente ter cadência
Sussurros da imaginação, a sonhar
Naqueles versos cheios de essência
Pois, serão ao poeta o valioso lugar
Amar, e amar, o inevitável segredo
Da trova que quer a afeição suspirar
Versado com a variedade sem medo
Um enredo, um sentido, uma maneira
Pra acelerar a emoção e fazer delirar
Senão, estás a perder a prosa inteira...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20 de agosto, 2022, 21’20” – Araguari, MG
GRATIDÃO ...
Te sou grato, no que a mim foi a cura
O alento que foste à emoção, poesia!
Encheste a solidão de cor e de doçura
E com poética a sensação que falecia
De choro e lamento lacrimejava o dia
O horizonte do cerrado era só lonjura
O desejo desventura então pressentia
E tu poesia: me trouxe a boa ternura!
Tenho gratidão, nada toda a vida dura
Do teu tempo a qualidade é a melodia
Se boa ou ruim, o que vale é a leitura
Então, vou agradecer a casta fidelidade
Das prosas nas tristuras que eu recebia
No falto, assim, pra mim, trovaste piedade! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
12/02/2021, 05’55” – Triângulo Mineiro
EM BRANCO ...
Olho-te devaneando, arranjando, e aí tento
No vácuo do teu vão, da palidez e alvura fria
A poesia que transvaze do meu pensamento
E, somente rabisco uma fisionomia tão vazia
Mas, insisto no carente, inteirar o anseio lento
Com feito, fantasia: - nessa sensação sombria
E assim, então, criar solenidade no momento
Para ver se abranda a minha solitária melodia
Em branco, a imaginação no papel em agonia
Escreve e apaga, retira e devolve, cria e recria
Que zombaria, e a desordem devora o escrito
Ó solidão, fala alto, deslustrando cada ensejo
Tudo revelado, nada mostrado, e pouco vejo
Neste curto desejo, só um versar mais aflito! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
13/02/2021, 11’42” – Triângulo Mineiro
EXPLOSÃO ...
Se o cerrado é imensidão, seja então
Mais vida, e a diversidade fomento
Ao diferente, inclusão em comunhão
Um só instante de puro sentimento
Ele hoje morre ao sabor do contento
Progressiva a sua leviana destruição
Se em combustão ou não, violento
Quando a mão do avança é em vão
Açula-se, a tristura em um dolo frio
É destruição que provoca arrepio
Choro e pesar, tal chaga duma dor
Que na extinção que se olha aqui
Os versos enturvam e não mais ri
É uma explosão de vil desamor! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07/01/2021, 17’39” – Triângulo Mineiro
IMPERADOR ....
Esse teu chão mais parece arte
Retorcido em tons da natureza
És pluralidade e de te faz parte
Antigo sertão, feérica grandeza
Em grosseiros traços, dessarte,
Um painel feito com tal firmeza
Que abre a admiração à parte
Vigor! O valor maior de beleza
Um pôr do sol encarnado, revelador
Céu imenso dum azul cheio de sabor
Vários os encantos, enfim, revestidos
Em cada foco, prenhe de sentidos
Uma epopeia! De sonhos contidos
Cerrado soberano, o imperador! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
09/01/2021, 09’12” – Triângulo Mineiro
AGOSTO NO CERRADO ....
Não é sempre está melancolia
o morno mormaço, esta fereza
de agosto, a secura que tristeza
no cerrado, agridoce dura poesia
Bela diversidade a sua natureza
um vendaval de cores e de magia
devaneio, como é vária sua beleza
e seu renovo, insistente teimosia
Dia e noite, noite e dia, feitiça fonte
vencedor de borrasca e de empeço
e lá se tem o pôr do sol no horizonte
Tão inarrável, encarnado, inconfesso
o qual da glória doura-me a fronte
ao arrostá-lo, pasmo e fulvo excesso ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
14/08/2020, 18’01” – Triângulo Mineiro
VERÃO .....
Verão... janeiro onde tudo esquenta
Em bando o raio do sol abafa o beiral
É mais triste o jardim na tarde sedenta
Onde as rosas já desmaiam no rosal
O alto verão! A hora é macilenta
Tem lerdeza, estio, sempre igual
Poeta, porque é que te atormenta?
Cá no sertão, é calor, chão tropical
Depois o seu entardecer é encantado
Dum horizonte de nuvem em novelo
Na grandeza do céu árduo do planalto
Verás sim, o abrasado torto cerrado
Em brado, as suas savanas em apelo
No pico da quentura, bafo, ponto alto! .....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18/01/2021, 07’37” – Triângulo Mineiro
ALUCINA! ....
Aprisiona em teu verso, a sonhar, tudo quanto
Te é encanto: o gesto, o olhar, a rosa ofertada
E canta em gentil amoroso e sempiterno canto
A prosa, a poética, e a inspiração enamorada
Que a rima, vibre e guie, que não seja pranto
E então somente de uma cobiça apaixonada
Onde o sentir pulse e sacuda o seu recanto
E haja aquele ardor no alvor da madrugada
Encarcere cada uma palavra dita ao dispor
Traga do coração a sensibilidade, e faça
Sensação, pra então ter cantigas de valor
E trove a tua paixão num surto de alegria
Gabe-a, exalte-a, alucina, é cheio de graça
Saber musicar a feliz emoção na poesia! ....
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20/01/2021, 15’42” – Triângulo Mineiro
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