Octavio Paz
Só erra quem produz. Mas, só produz quem não tem medo de errar. As massas humanas mais perigosas são aquelas em cujas veias foi injetado o veneno do medo. Do medo da mudança.
Vento, Água, Pedra
A água perfura a pedra,
o vento dispersa a água,
a pedra detém ao vento.
Água, vento, pedra.
O vento esculpe a pedra,
a pedra é taça da água,
a água escapa e é vento.
Pedra, vento, água.
O vento em seus giros canta,
a água ao andar murmura,
a pedra imóvel se cala.
Vento, água, pedra.
Um é outro e é nenhum:
entre seus nomes vazios
passam e se desvanecem.
Água, pedra, vento.
Sentir-se só possui um duplo significado: por um lado, consiste em ter consciência de si; por outro, um desejo de sair de si. A solidão, que é a própria condição de nossa vida, surge para nós como uma prova e uma purgação, no fim da qual a instabilidade e a angústia desaparecerão. A plenitude, a reunião, que é repouso e felicidade, e a concordância com o mundo, nos esperam no fim do labirinto da solidão
Se a liberdade e a democracia, não são termos equivalentes, mas são complementares: Sem liberdade, a democracia é despotismo, a democracia sem a liberdade é uma ilusão.
Nos dias atuais todos nós falamos, se não a mesma língua, uma espécie de linguagem universal. Nao existe um único centro e o tempo perdeu sua coerência. Leste e Oeste, passado e futuro se misturam dentro de nós. Diferentes tempos e espaços se combinam aqui, agora, tudo de uma vez só.
Ao matar a morte, a religião nos tira a vida:
vivemos morrendo.
A eternidade despovoa o instante.
Vida e morte são inseparáveis
Agora, depois de anos, me pergunto se foi verdade ou uma invenção de minha adolescência exaltada: os olhos que não se fecham nunca, nem no momento da carícia; esse corpo demasiadamente vivo (antes apenas a morte me havia parecido tão redonda, tão totalmente ela mesma, talvez porque no que chamamos vida exista sempre pedaços e partículas de não-vida); esse amor tirânico, mesmo que não peça nada, e que não está adaptado à nossa fraqueza. Seu amor à vida obriga a abandonar a vida; seu amor à linguagem leva ao desprezo das palavras; seu amor ao jogo conduz a pisotear as regras, a inventar outras, a julgar a vida em uma palavra. Se perde o gosto pelos amigos, pelas mulheres razoáveis, pela literatura, a moral, as boas companhias, os belos versos, a psicologia, os romances. Abstraído em uma meditação, que consiste em ser uma meditação sobre a inutilidade das meditações, uma contemplação em que aquilo que se contempla é contemplado pelo que contempla e ambos pela contemplação, até que os três sejam um – se rompem os laços com o mundo, a razão e a linguagem. Sobretudo com a linguagem – esse cordão umbilical que nos amarra ao abominável ventre ruminante. Te atreves a dizer Não, para que um dia possa dizer melhor Sim. Esvazia teu ser de tudo que os outros preencheram: grandes e pequenas nadarias de que é feito o mundo dos outros. E logo te esvazias de ti mesmo, porque tu – o que chamamos eu ou persona – também é imagem, também é outro, também é nadaria. Esvaziado, limpo do nada purulento do eu, esvaziado de tua imagem, já não é senão esperar e aguardar. Venham eras de silêncio, eras de seca e a pedra. Às vezes, uma tarde qualquer, um dia sem nome, cai uma Palavra, que pousa levemente sobre essa terra sem passado. O pássaro é feroz e acaso te tira os olhos. Acaso, mais tarde, virão outros.