O Sorriso Adelia Prado

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Chego em casa sempre vazia, mas tão murcha que você não é capaz de imaginar, e me jogo embaixo do chuveiro pra abafar meu choro, meu vômito, meu porre. Deixo a água tentar lavar minha alma, fecho os olhos, tampo os ouvidos e adivinha o que vejo na minha mente-perturbada? Essa tua expressão de eterno contente, rindo da minha cara de tola. Choro mais um pouco, sinto frio, raiva, remorso e enfio um pijama qualquer. Lacro as janelas na esperança de perder o ar. Fecho as cortinas na cara do Sol. Entrego-me nos braços de Morfeu e durmo feito um anjo enlouquecido.No outro dia levanto e penso logo que poderia continuar dormindo, com quinhentos quilos na minha cabeça. 250 quilos são de ressaca moral e os outros 250 são meu do meu fígado que rouba água do meu cérebro pra não definhar e morrer de cirrose. Saio da cama zonza, não olho pro espelho - evito minha cara de panda-borrada-pós-balada. Encontro minha mãe no corredor, lá pelas cindo da tarde, que me olha com misericórdia e pergunta: ‘Está bem minha filha? Como foi a noite?’. Eu simplesmente respondo: ‘Hm…Foi legal. To enjoada, só.

Como adestrar a memória teimosa que insiste em associar o cheiro do perfume com o dele? Não é possível. As peculiaridades de cada um são únicas, são eternas. Não se pode esquecer. Não se pode lutar contra a vontade de resgatar o amor perdido, a ilusão da felicidade sem fim. Não se pode brecar o riso que invade os olhos úmidos quando falamos daquele que um dia prometeu felicidade e lealdade utopicamente eternas. É preciso aprender a conviver com as mãos soltas, com o olhar ausente, com a cadeira vazia, com o unitário. O amor não é eterno, só as saudades, só a assombração das lembranças. Isso permanece, até o fim, até o último dia, até o último suspiro. Convenhamos – vai-se o amado, fica-se o coração partido.

Não quero palavras de consolo, não quero tapa nas costas, não quero chá quente, não quero telefonemas de socorro. Não quero nada. Quero solidão. O silêncio no meu interior é dominador, e não me deixa pronunciar uma palavra se quer, não me movo e não reclamo. Calo-me para o mundo. O oco é meu conforto e minha cama é o meu abraço. Deixa-me quieta, deitada nos braços de Morfeu, sonhando com o dia que te conheci e tentando resgatar a sensação de felicidade que eu tive ao teu lado.

Deixem-me rebobinar a memória já suja e gasta pelo tempo, que me trai e que luta contra todo meu amor, que agora tem uns pontinhos brancos de mofo. Vou colocá-lo na geladeira – quem sabe não dura mais um pouco? Se eu ficar em silêncio posso tentar ressuscitar as lembranças quase apagadas e te ver assim, um pouquinho, desde o dia que te conheci até o dia que você me mandou embora. É você me mandou ser feliz, se lembra? Pois eu me recordo. Recordo quase que diariamente o dia do fim.

Se a sua vida continua feliz sem mim, que bom. Acho justo. Quando o amor termina só um fica desesperado. Pois bem, fui a escolhida.

Sou em quem grita e chora. Sou eu. Sempre foi. No fim, eu te amei mais, muita mais que a mim, muito mais do que pensei ter sido amada. Eram sempre as minhas mãos que buscavam as tuas mornas, era sempre a tua cabeça deitada no meu colo, era sempre a minha boca que caçava a tua e por você eu fiz até torta! Eu, que acho tão complicado pilotar um fogão, eu que não entendo nada e que não sei ligar nem forno me arrisquei e descasquei quilos e quilos de maça, só para te agradar e ver iluminar no teu rosto jambo aquele sorriso de agradecimento tão compensador. Agradar-te me agradava.

Você trocou o certo pelo incerto, à quase-santa pelas putas, e uma vida talvez tranqüila pela adrenalina das noitadas e das cantadas incertas.

Todas as nossas coincidências contribuíram para a minha crença de menininha iludida. O cenário era lindo, caía neve à nossa janela, fazia frio – eu sou tão mais feliz no inverno.

Meu calcanhar de Aquiles tem um nome, um nome lindo, de anjo. Um nome forte, que está tatuado a ferro no meu coração.

Deve estar aparente no meu olhar a minha falta de interesse nos outros garotos. Não estou disponível, não deixo que me amem como eu mereço porque ainda pertenço a você e estou completamente acorrentada ao nosso passado morto.

Do que adianta lhe oferecer o mundo se o meu amor que é maior você não quer

Esse negócio de "faça você mesmo" é praticamente a nossa lei.

Diga que sinto falta da respiração mansa para me fazer dormir.

Chove, chove. Tempo nublado, inverno recém começou e ainda não vi o meu amor. Ainda não sei como ele está. Não sei se ainda gosta de comer arroz com gotas de limão, se ainda adora chocolate com cachaça, se prefere o calor. O tempo passa, se arrasta e me leva. As estações se vão, se apressam e tentam deixá-lo para trás.

O tempo ri da minha cara entristecida e o leva para longe.

As memórias me traem e lembram a todo instante que o amor imortal é perecível, vencível.

Ás vezes prefiro não dizer o nome dele por aí. Prefiro deixá-lo aconchegado no meu silêncio.

Vivemos em mundos tão diferentes que não é mais possível pensar em ‘nós’. Agora sou ‘eu’ e ‘você’, ‘eu’ e ‘aquele lá’, ‘eu’ e aquele-que-não-deve-ser-lembrado’

Acho que na verdade estou ainda amando o amor, aquele que senti contigo, que está morto e que insisto em ressuscitar – por prazer, por tortura, por fraqueza.

Devo amar aquela felicidade que senti ao teu lado, estou apaixonada pelo que não retorna mais, pelo ausente, pelo que foi e não mais será.

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