O Amor Esquece de Comecar Fabricio Carpinejar
Morrendo de inveja
Eu e você sabemos que mais que um pecado, a inveja é um dos sete sentimentos básicos que o ser humano pode nutrir pelo outro, simultaneamente ou não: amor, paixão, ódio, amizade, indiferença, compaixão e inveja. Os demais estados de espiritos são derivados.
A inveja é um tema e tanto! Uma vez que começamos a refletir sobre ele, vemos que está bem próximo e que podemos despertar a iradesse monstro que habita nosso interior simplesmente por sermos exatamente como somos. Mostro, porque pode se transformar e transformar a nós mesmos.
Ah, se você nunca sentiu inveja, ainda não nasceu. Ela existe em to-dos, sem exceção. A diferença é quando a admiração motivadora se transforma em rancor pelo que não se consegue ser, possuir, parecer. É a inveja auto-destrutiva.
Até o monge que só come gafonhoto tem inveja da divindade da qual tenta aproximar-se através da pureza e do sacrifício.
A gente copia o corte de cabelo de uma celebridade ou se sente estimulado a fazer algo pelo exemplo de outro. Isso é motivação, admiração.
Mas, de repente você começa a sentir alfinetadas de um certo colega, até pouco tempo amistoso. Sendo homem, você não consegue identificar a inveja como a razão do comportamento permeado de raiva.
Acontece que você pode representar algo que o incomoda muito: pode ter a casa que ele ainda não possui ou tem certeza que jamais possuirá. Pode ter a beleza que a mulher dele não aparenta e estando fora de seu alcance...e daí por diante.
Você vai causar inveja por existir. Ele não progride, não ganha nada com isso, mas, torce para que você se afogue em plena romaria fluvial.
Culpa sua, baby? Não. O outro é que deve estar num momento de extrema baixa-estima, frágil ou desapontado - consigo mesmo, com as chances que a vida não ofereceu. Na impossibilidade de sentir raiva de si, ele a vê, feliz - você personifica tudo o que ele queria e não conseguiu. Cuidado!
A inveja do dia-a-dia é a do anel, da bolsa nova, do amor novo (ou antigo, porque está durando...). Essa é fácil de administrar. Pessoas saudáveis sabem que não é perigosa.
Não adianta querer possuir tudo o que suas amiguinhas têm - você irá a falência ou se tornará uma compradora compulsiva.
O "clone", copia nosso estilo. Tudo o que a gente tem, ele(a) também tem. Freqüenta o mesmo curso, o mesmo salão e coisas do gênero. Só tem um remédio: distância.
A inveja daquilo que somos (cultura, carisma, competência, beleza) é muito pior. Quando a inveja é motivada por uma razão que pode não ser suprida (ser competente ou carismático não se pode comprar), torna-se destrutiva: atinge o algo e o invejoso. Geralmente, ambos saem traumatizados dessa experiência (quando saem!).
O objeto da inveja, sendo uma pessoa "normal", não consegue entender a perseguição, não percebe que suas conquistas e eu "modo de ser" causam sofrimento no outro. Por sua vez, este tenta prejudicar o invejado, mas, não reconhece a razão. Isso seria demais. Seria a cura sem terapia. Impos-sível, meu amor.
A inveja destrutiva só ocorre entre pessoas próximas - familiares incluídos. Ninguém tem esse sentimento em relação à Giselle Bundchen, por exemplo, só um parente ou outra top...Para nós, ela é um mito, admirado ou não. E só.
E aquelas pessoas que gostam de causar inveja?
São os inseguros que, não agradando a si próprios, alardeiam qualidades: dinheiro, poder, conquistas. Sentindo-se invejados, pensam ter conseguido sucesso. São os "só papo". Inofensivos para outros e auto-destrutivos, jamais serão considerados realmente bons, a não ser de propaganda enganosa.
O amor que sentimos por um filho é maior de todos os amores que encontramos durante a vida a fora, é maior que tudo.
E talvez amadurecer signifique que você não precisa ser uma personagem seguindo um roteiro. É saber que você é a autora.
Sabe quando você acha que conhece alguém? Mais do que qualquer um no mundo? Você sabe que entende a pessoa, porque a enxerga de verdade. E então você tenta se aproximar, e ela... desaparece. Você achava que pertenciam uma à outra. Achava que ela era sua, mas não é. Você quer protegê-la, mas não pode.
Às vezes agimos porque estamos sentindo tantas coisas dentro de nós e não percebemos como isso afeta os outros.
Um amigo é alguém que dá liberdade total para você ser você mesmo - e especialmente para sentir ou não sentir. Qualquer coisa que você sinta naquele momento está bom para ele. É o que o amor verdadeiro significa – deixar alguém ser ele mesmo.
Sabe, acho que, quando você perde alguma coisa próxima, é como perder a si mesmo, É por isso que, no final, até escrever é difícil para ela. Ela quase não sabe como fazer. Porque quase não sabe mais quem ela é.
Descobri que, às vezes, momentos marcam nosso corpo. Eles estão ali, alojados sobre a pele como sementes pintadas de surpresa, tristeza ou medo. E se você virar para um lado ou cair, uma delas pode se soltar, pode se dissolver no sangue ou fizer surgir uma árvore inteira. Às vezes, quando uma se solta, todas começam a se soltar.
O que falei sobre salvar as pessoas não é verdade. Você pode achar que quer salva por outra pessoa, ou que quer muito salvar alguém. Mas ninguém pode salvar ninguém, não de verdade. Não de si. Você pega no sono no pé da montanha, e o lobo desce. E você espera ser acordada por alguém. Ou espera que alguém o espante. Ou atire nele. Mas, quando você se dá conta de que o lobo está dentro de você, é quando entende. Não pode fugir dele. E ninguém que ama você consegue matar o lobo, porque ele faz parte de você. As pessoas veem seu rosto nele. E não vão atirar.
Mas não somos transparentes. Se quisermos que alguém nos conheça, precisamos nos revelar a essa pessoa.
É assim quando você se apaixona. Parece que você se torna a pessoa mais especial do mundo. Parece surreal. Seu coração fica disparado.
Nosso corpo devia mostrar mais as coisas que nos machucam, as histórias que mantemos escondidas dentro de nós.
De repente entendi que estar vivo é isto. Nossas próprias placas invisíveis se movendo em nosso corpo, e se alinhando à pessoa que vamos nos tornar.
Era o mais próximo que eu tinha estado dele desde que terminamos, e doía o tanto que eu queria que ele me tocasse.
Parece bobagem, mas, assim que nos olhamos, a dor do término que estava me corroendo até um minuto atrás derreteu como a neve.
