Nos Bracos do Pai

Cerca de 28917 frases e pensamentos: Nos Bracos do Pai

⁠A QUARESMEIRA

Pra Quaresmeira ser louvada, não basta
No cerrado, trovar os dotes do encanto
Tem de ter na poesia, o instinto tanto
Da magia e sensação que o belo arrasta

De um esplendor e uma tal delicadeza
Nesse sertão de diversidade tão vasta
Seu destaque de flor preciosa e casta
Do lilás dos cachos, adorno da natureza

Exaltação aos olhos, de florada ligeira
Chama da paixão, graça, poesia acesa
A essência sedutora da quaresmeira

Na admiração, um trescalar misto:
De funesto fase, reflexão e beleza
Em cortejo do martírio de Cristo!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18/08/2020, 09’43” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠ONDE O CERRADO MORA

Uma secura à beira de um barranco
No entorno: ipês, buritis, e o pequi
Por todo lado o agigantado céu rubi
No horizonte, um devaneio franco

O dia acorda na alva, num só tranco
Onde ouve o canto da brejeira juriti
E o passeio do solitário macho quati
Ali, alvoraçando a vida num arranco

À tardinha, em romaria, o regresso
A melancolia deitada na rede, espera
O entardecer mais bonito, confesso!

Se crês na quimera, ela existe, porém:
É no torto do cerrado de falsa tapera
Onde mora, que há encanto também!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
18/08/2020, 15’17” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠⁠IRREVOCÁVEL

A minha solidão tem sonhos imensos
Que poetam sensações sem arreatas
Onde o eco do querer, em serenatas
Na inquietação, tem vigores extensos

Meu coração tem umas tais colunatas
E ali agitado, vivo com olhares densos
Atraindo, com devaneios tão intensos
E uns sentimentos e pesares primatas

Nesse templário de sonhos e poesia
Entrei ávido nessa catedral um dia
Pra me contagiar com o doce sabor

Doados pelos cavaleiros medievais
Da paixão, amos destas catedrais:
Me vi, irrevocável, ao provar amor!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
20 de agosto de 2020- Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠AO PÉ DO OUVIDO

Eu fui confidenciar, lôbrego, o meu pesar
À velha lua, branca e nua, no céu viçosa
Na noite acordada, supondo que ao falar
Teria o trovar solto duma queixa amorosa

Não quis sequer atenção, então, prestar
No celeste ali estava e, ali ficava gloriosa
Mas, pouco a pouco, num súbito quedar
Vendo um ciciar, pôs a me ouvir cautelosa:

Entre soluços e suspiros eu narrava tudo
Ela comovida, pois, poética e apaixonada
Tal como é, romanceou o duro conteúdo

Com os olhos cheios d’água, sonhadora
Compadecida desta sofrida derrocada
Então, chorou comigo pela noite afora

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
21 de agosto de 2020- Triângulo Mineiro
paráfrase Pe. Antônio Tomás

Inserida por LucianoSpagnol

⁠FIM DE TARDE

Cindindo a vastidão do céu do sertão
Do planalto, num entardecer encantado
Sulcando as nuvens com raios dourado
Devassando o espanto, e sedutora visão

E no horizonte sem fim do torto cerrado
Ei-lo purpureando em toda a amplidão
Abarcando o cenário com tal composição
De matizes, alumiado por dom imaculado

Brilha, e se eleva em busca do infinito
O findar do dia, no céu é manuscrito
Auroreando a inspiração, numa poesia

Cheio de escarlate, assim, a cintilar
Que se vê na fulgência deste lugar
Vai-se a luz, e vem a noite sombria...

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
20/08/2020, 17’00” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠ALVO

Pra onde houveres, sonho, pra onde fores
Irei também, suspirando a mesma utopia
Para amenizar o penoso logro, a fantasia
E, sossegar a quimera de suas mil dores

Que triste, a emoção sem as dadas flores
E eu tão sem agrado e o ser sem alegria
Sonhando sem inspirar a romântica poesia
Pesadelos molestando e fazendo horrores

Golpeou-me a direção? Que sorte sombria
Nas escarpadas faces dos postiços amores
De assim magoar-me sem que amor havia

Seria a mão do azar, então me tocando?
Se sou sonhador, e o amor com valores
Não o ter, nefasto eu, Deus! até quando?

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
25/08/2020, 10’36” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠SUSPIROS PROFUNDOS

Ninguém sentiu o meu choro inseguro
Ó dolorosa dor entre as dores minhas
Embriagada solidão, máculas daninhas
O falto para mim foi silencioso e duro

Permaneceste no pensamento escuro
Vazia e casta, tristes eram as tadinhas
E chegaste a ter mais do que tinhas
Tornando-te em um flagelo impuro

Invisível tornou o meu sofrer inquieto
A minha poesia, o sentimento secreto
Jorrados do sentir, ali tão moribundos

E, neste trágico, pedaço dos pedaços
Ele, que habitou a ter esses embaraços
Fez-me o dono de suspiros profundos

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
26/08/2020, 12’28” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠VELHO TEMA

Só a graça da poesia, em toda a sensação
Palia o engano de um amor, mais nada
Nem mais os soluços do infeliz coração
Disfarçam a dor da devoção malograda

A insistente quimera por ela estacada
No seu encanto, chora toda a emoção
Da desilusão: no canto, na rima falada
Criando outro sonho, de novo a paixão

E, nessa inspiração que supomos
Duma tal felicidade que sonhamos
Em cada versejar, a verdade somos

Assim, nessa concordância, sejamos
O olhar, o afago, se na prosa fomos
O sentimento, ai no amor estamos!

© Luciano Spagnol- poeta do cerrado
27, agosto de 2020 - Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

⁠ESPERA

Ah! quem dera que as lembranças de outrora
Inda aromatizasse! Ah! e que assim pudera
O tempo de ontem fosse o tempo de agora
E não só este imaginar: - a outra primavera

Já não se tem mais uma extasiada aurora
No vetusto ser, tudo é igual, sem quimera
Onde a imaginação era de hora em hora
Agora, silêncio. Ah! como díspar quisera:

Debruçado nos sonhos, e o sonho recendia
O desconhecido, cheio de poesia intensa
No brotar do alvorecer duma nova hera

Ah! quem me dera que isto, fosse um dia
Uma razão, e não devaneios d’alma densa
De saudades, que poeta suspira e espera...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
28/08/2020, 15’18” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol


VELHO CERRADO

Olha este velho cerrado, tão belo
De savanas cascalhadas e, antiga
Quanto mais desigual mais se diga:
- Triunfante na idade e no singelo

Buritis, ipês, horizonte no paralelo
Arranjam, livres, e o diverso abriga
Em sua melancolia e a árdua cantiga
Do vento nos tortos galhos em duelo

Não choremos, sertão, a tortuosidade
Admiremos cada traço, admiremos
Como obra prima deve ser admirada

Na glória do vário és tu, majestade
Governando o encanto que vemos
No mago fascínio da meseta velhada

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
29/08/2020, 13’49” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠REVERSO E VERSO

Esse suspiro que padece no coração
Que vês no duro e infeliz sentimento
Estendendo o pesar para a emoção
Deplora na saudade em sofrimento

lhano fui, e vergou-se em desilusão
Reverso e verso nesse sacramento
De uma doce afetividade em vão
Desgraçado fado, ó gasto lamento...

Ontem, gozo e sorriso ardente
De braço dado a qualquer hora
Esse amor era o amor da gente

E tal uma desordem, hoje chora
Na solidão, triste sina, dor sente
Esse amor que estimei outrora...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30/08/2020, 05’49” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠OUTRA RUA

Onde estou? Está rua me é lembrança
E das calçadas o olhar eu desconheço
Tudo outro modo em outra mudança
Senti-la, saudoso, no igualar esmoreço

Uma casa aqui houve, não me esqueço
Outra lá, acolá, recordação sem herança
Está tudo mudado do tempo de criança
Passa, é passado, estou velho, confesso

Estória de vizinhança aqui vi florescente
Pique, bola: - a meninada no entardecer
Hoje decadente, e conheço pouca gente

Engano? essa não era, pouco posso crer
Ela que estranho! Se é ela ainda presente
Nos rascunhos, e na poesia do meu viver...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Agosto de 2020, 31 - Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

⁠UM AMOR NATURAL DE SÃO PAULO

Ah, amor doído, me maltrata
Saber que fui apenas recreio
Que inda arde no peito, creio
Que a dor me teimará ingrata

Com o engano, verídica errata
Ardo na agrura e no devaneio
Mas com o tempo, tu, receio
Irá se calar na súplice serenata

Os teus olhos deixarão de ser:
A força e planos no meu olhar
Tudo gira, no eterno aprender

Nego-te o meu sofrer e pesar
Se lamento é para te esquecer
Nesses versos de amor e amar!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Agosto de 2020, 31 – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠Vai um café aí?

[...]então pega está ideia
uma porção de amor
pão de queijo, geleia
e uma xícara de café... por favor!
Nas Gerais é uma “odisseia”

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Agosto de 2020, Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠ AFORA

Passaste como a flor do ipê fugaz
que se desprende na sua aurora
do desvelo só tiveste àquela hora
em que do afeto o emotivo traz

Ter-te e perder-te! sensação voraz
que inunda o peito, e a dor piora
sem ver-te, o poetar por ti chora
em tristes versos, saudade tenaz

Demorou essa presença em mim
minha alma ainda adora, e flora
emoção num sentimento marfim

Neste querer, o querer é outrora
se sonhei contigo, calou o clarim
dessa estória, o amor vai afora!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Setembro de 2020, 02 – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠Morrer...


Termina a vida, morrer, com ela o viver
Vão-se as dores, homenagens com flores
Rezas, choros e suplicas pros pecadores
Depois, uma furtiva lembrança a prover
Aos amores e aos meus admiradores...
... para as lágrimas fingidas
Meu até mais...
Cheio de saudações garridas
E minhas retribuições iguais!


© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
02/09/2020, 17’00” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠TORMENTO ANÔNIMO

Há amores não correspondidos, há enganos
mais negros que a noite muito mais escura
suspiros loucos, e o coração com amargura
as horas, segundos mais longos que os anos

E nestes doridos, loucos e alanceados danos
que leva o fado para as bandas da desventura
em um coral de gemido e de uma sorte dura
atraindo aos sentimentos só os rumos tiranos

E, as dores da solidão, sim, ela tão somente
que se cala nos braços deste amor cruento
dói, tal como ferir-se com gladio lentamente

Ah! que penar, esse que só traz tormento
lamentos e, nos ruminando inteiramente
tendo os dias de sofrência como alimento

© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Setembro, 02/ 2020 – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠“Ignoramus et Ignorabimus”

Quanta ilusão! O amor ver-se objetivo
e alheio ao brado do coração fagueiro
duma paixão, e do anseio prisioneiro
compondo, que assim, será definitivo

Dizem que amor é amor, se for vivo
a quem o chama de valor verdadeiro
livre, solto das amarras dum cativeiro
se esquecendo que dele se é cativo

Se o amor é sempre amor: - amado!
tê-lo é também agridoce no enredo
sem tirania, amar, deve ser desejado

Se é sempre o mesmo falso segredo
no início, perfeito, e tão imaculado
porque então não o haver no medo?

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
2020, setembro, 03 – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠SUFICIÊNCIA

Dita, ao pé do amor primeiro
Estreante desta variegada vida
Estou e estarei nessa acolhida
Ao coração, fiel companheiro

Da paixão o afeto cavalheiro
Pulsa-lhe a poesia em torcida
Faz a boa diversão apetecida
Salivando o gosto por inteiro

Trago-te flores, zelo certeiro
Trovando a doce existência
E que assim seja verdadeiro

Se não, não serve a aparência
E, tão pouco algo corriqueiro
Intensidade que é suficiência!

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/09/2020, 10’18” – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol

⁠PÁLIDA À LUZ DA SOLIDÃO SOMBRIA

Pálida à luz da solidão sombria
como a dor na alma dilacerada
sobre o leito de ilusão reclinada
a amargura e uma paixão fria

A satisfação que na perca jazia
e pela melancolia era embalada
a ruína e alegria embalsamada
no desprezo e, na beira dormia

Prantos, e as noites palpitando
gosto amargo no peito abrindo
os olhos esverdeados chorando

Não rias de mim, sentir infindo:
por ti – o amor busquei amando
por ti – na teimosia eu vou indo...

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Setembro, 2020 – Triângulo Mineiro

Inserida por LucianoSpagnol