Ninguem se Encontra por Acaso
Há meses não havia sol, ninguém mandava notícias de lugar algum, o dinheiro estava no fim, pessoas que eu considerava amigas tinham sido cruéis e desonestas. Pior que tudo, rondava um sentimento de desorientação. Aquela liberdade e falta de laços tão totais que tornam-se horríveis, e você pode então ir tanto para Botucatu quanto para Java, Budapeste ou Maputo — nada interessa. Viajante sofre muito: é o preço que se paga por querer ver “como um danado”, feito Pessoa. Eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. Sabia só que doía, doía. Sem remédio.
Depois eu lembrei que todo mundo passa mas ninguém fica e tive vontade de chorar o choro mais longo e pesado do mundo. Eu tive vontade de dormir no peito dele, em cima da camisa ridícula dele. Mas eu fui embora antes que isso pudesse ser mais uma lembrança para o meu jovem mural amarelado.
Só encontra a evolução quem busca por ela, ninguém evolui porque foi dado à ela, isso é próprio de cada ser e nem todos estão aqui para serem evoluídos, mas para contribuir com a evolução de outros.
Ninguém tão fácil desaparece ou completamente esquece, as pessoas apenas encontram na vida outras prioridades.
É como um útero cinza que habito:
ar, água, vias de sangue
circulam entre mim e sonhos.
Ruas se entrecruzam
com alguma surpresa:
trompas.
Na esquina, pode estar
qualquer forma de claustro, desespero,
antes mesmo do fim:
ovário.
A indiferença se disfarça de beleza, proximidade:
religiões, bares, barracas
de comida urbana disputam convivas.
O tempo não nos absolve
dessa correria encardida.
Dias nos fazem deixar um pouco do que somos
para trás:
placenta em lixo hospitalar.
Relicário
Animado com a nova compra,
abre a caixa branca,
geométrica,
como relicário:
retira plástico, papel, película
que recobre o produto, manual,
tomada, fone e tela de vidro.
Ligado em 127 volts, é o primeiro
olá que recebe hoje.
ÁLGEBRA
A vida se mede com alguns cálculos:
anos em dezenas;
propriedades em metros;
dinheiro em milhares;
amores em bodas,
mas a medida vaga do sorriso
se perde entre alaridos.
Desde tempos distantes
gostamos de juntar comida,
pilhas, roupas, vinho;
nosso cérebro vestiu essa fantasia.
Acreditamos que ao juntar,
medir, sistematizar;
marcaremos um tempo
para além do que nos foi entregue
em frágil vidro.
Esquecemos, entretanto, que ele
já veio trincado..
Sós
Olhar perdido
dizendo:
a vida é assim mesmo.
Entre vazamento de tubulação na via,
lixo incendiado na calçada,
calor, som de carro
no lava a jato,
me explica o menino,
de talvez
dez anos.
Rosto
De espelho em mãos,
observa cada detalhe.
Traços esquecidos e ainda vindouros
carregam igual geometria:
bolsa sob os olhos,
pêlos ressaltados,
boca diminuta.
Segmentos de aurora e ébano
se igualam:
tantas faces habitam um rosto.
Vai ver que um dia a gente se encontra
Vai deixar o acaso tomar conta
Vai ver que só não era nossa hora
Minha menina, eu te peço, então volta
"Saiba que nenhuma pessoa jamais chegou na atual situação onde se encontra na vida, por mero acaso."
É Incrivel Como Aquelas Pessoas Que Você Encontra Por Acaso, Em Minutos Parecem Que Nós Conhece Desde Pequenos.
Fascinação
Um olhar encontra por acaso um mirar
e dissimuladamente acontece a fascinação
que excita o enfeitiçado a suspirar.
O olhar panorâmico, com o seu brilho reluzente,
rompe o silêncio repousante de alguém extasiado
e o olhar embevecido fica logo enamorado.
No peito, pulsando desajeitado,
encontra-se um coração eletrizado
como se fosse um adolescente seduzido,
mas que se trata de um ser apaixonado
pelas chamas da paixão abduzido
do estado da razão foi desviado.
Umbelina Marçal Gadelha
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