Nem sempre

O ciúme nasce sempre com o amor, mas nem sempre morre com ele.

Gordo, quando está fazendo dieta, sempre faz a barba antes de se pesar.

O humorista, tal como a fera, anda sempre sozinho.

O que eu procuro, antes de tudo, é a grandeza: o que é grande é sempre belo.

Um bom mestre tem sempre esta preocupação: ensinar o aluno a desenvencilhar-se sozinho.

O escritor original, enquanto não morre é sempre escandaloso.

Desperdiçamos o tempo, queixando-nos sempre de que a vida é breve.

O trabalho é a coisa mais importante do mundo. Por isso, devemos sempre deixar um pouco para o dia seguinte.

Pobre daquele que está cansado de tudo, porque tudo e todos estão sempre certamente cansados dele.

Você é o único problema que você sempre terá e você é a única solução.

Como nenhum político acredita no que diz, fica sempre surpreso ao ver que os outros acreditam nele.

Qualquer caminho que você decida tomar, existe sempre alguém para te dizer que você está errado. Existem sempre dificuldades surgindo que te tentam a acreditar que as críticas estão corretas. Mapear um caminho de ação e segui-lo até o fim requer... coragem.

Os mais verdadeiros e os mais vivos amores são sempre os mais inesperados.

Estar focado em resultados antigos e em cicatrizes, vingar-se e ficar por cima, sempre fazem de você menos do que você é.

Difícil de ver. Sempre em movimento está o Futuro.

A fama dos grandes homens devia ser sempre julgada pelos meios que usaram para obtê-la.

Em política, sempre é preciso deixar um osso para a oposição roer.

O país onde o comércio é mais livre será sempre o mais rico e próspero, guardadas as proporções.

Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Sertão, argúem te cantô,
Eu sempre tenho cantado
E ainda cantando tô,
Pruquê, meu torrão amado,
Munto te prezo, te quero
E vejo qui os teus mistéro
Ninguém sabe decifrá.
A tua beleza é tanta,
Qui o poeta canta, canta,
E inda fica o qui cantá.

(De EU E O SERTÃO - Cante lá que eu canto Cá - Filosofia de um trovador nordestino - Ed.Vozes, Petrópolis, 1982)