Nao Magoe uma Mulher
Ouço melodias melancólicas não como distração, mas como constatação. O que para muitos parece repetitivo ou desprovido de vida, para mim é a tradução mais lúcida do existir. Cada tecla do piano, em sua cadência transcendental, não apenas sugere tristeza, mas expõe, com rigor quase científico, o estado real do meu espírito.
A chuva incessante lá fora assemelha-se à minha fé, não se interrompe, não se exaure, apenas persiste.
O vento é essência do indomável, não se deixa conter, não pertence a rumo algum, é movimento puro, existência sem destino, liberdade em forma de sopro.
As pessoas vivem em modo de sobrevivência, zumbis funcionais, presas a rotinas que já não questionam. São espectros de si mesmas, movem-se, mas não despertam, respiram, mas não vivem.
Não desistir é meu maior triunfo, sigo errando, tropeçando, caindo, mas nunca me rendo. Cada queda me lapida, cada dor me ensina a permanecer de pé, mesmo quando o chão parece mais certo que o caminho.
Eu nunca quis ser o primeiro, porque compreendi cedo que o mérito não está em chegar antes, mas em permanecer inteiro quando todos se perdem tentando provar algo. O destaque, quando veio, foi apenas reflexo de uma autenticidade que nunca precisei ensaiar.
A resistência que exibo é resultado de escolhas, escolhi não ceder ao conforto da desistência, hoje levo a bandeira do feito.
O orgulho que cultivo é de progresso, não exibo troféus, mantenho ferramentas afiadas, meu orgulho é utilitário.
A dor já não me define, me informa, ela sinaliza o que cuidar e o que transformar, não mais sou refém do que passou.
A serenidade é fruto de conflito bem resolvido, resolvi dentro para não tumultuar fora, a paz externa segue a ordem interior.
A responsabilidade que carrego pesa só o suficiente, não a largo nem a cobro dos outros, é a medida do que prometi cumprir.
